O medo não me paralisa, porque eu me movo para aliviar o sofrimento da comunidade.

João Cravino (1961 – 1988) foi cacique na época que Saracura saiu daqui, a comunidade o colocou e ele trabalhou quatro anos… Era uma pessoa muito querido pela comunidade. Lutava pela educação, pela saúde… Respeitava muito os idosos, não fazia nada sem primeiramente conversar com os idosos e pega sempre a orientação com eles. Sempre respeitava os segredos da agente. Depois de quatro anos, os fazendeiros conseguiram tirar os índios daqui, levando-os para Camamu… Para quem ainda ficou teve muito tiroteio. Mataram o sobrinho de Samado; o fazendeiro Alberto Pereira arcou com a alimentação e as armas e conseguiu comprar a Saracura que vinha fazendo um bom trabalho, acabou fazendo igual que a galinha: ciscou. Fez com as mãos e jogo com os pés. Então João Cravino que tinha perdido dois primos, especialmente depois que balearam uma prima dele, ficou muito revoltado. Os fazendeiros estavam impedindo que os índios que estavam em Camamu voltassem, mas os índios vieram de qualquer maneira… Cravino estava tentando impedir esse povo voltar de Camamu, para que não seja chegar e morrer… E foi telefonar para FUNAI para impedir eles virem, impedir a briga… Nosso irmão Gaudino teve um pressentimento e foi atrás de Cravino… E agente encontro ele tudo cortado, retalhado de facão, cortaram as mãos, a nuca… O desmunhecaram, desceu o pulso… O fazendeiro não foi julgado, ficou impune.

Gaudino (1953-1997) foi queimado vivo por uns caras que hoje estão soltos. Um tem emprego no Ministério da Justiça… Agente gostaria de recorrer e buscar justiça, mas agente nem tem advogado, a FUNAI não ajuda. Quando Gaudino morreu queimado lá em Brasília, nós queria trazer ele para enterra aqui na sua terra, mas, a FUNAI não queria… Nós trouxemos e acabou que uns dias depois veio o presidente da FUNAI, Júlio Gaiger, para fazer uma solenidade para agente e nos prendemos ele e votamos ele para dormir numa esteira igual que índio, votamos para comer mandioca igual que índio e ele pediu para ser solto e nos dissemos: “amanha nós vai fazer uma retomada e o senhor vai vir junto e vai ver o que a FUNAI faz”. Então a Policia federal veio para tirar ele, mas, não conseguiu, e nos viemos para nossa terra que estava na posse do fazendeiro MARCÃO. Ai ele viu na pele uma retomada, ate que depois nos falamos que ele podia ir… Ai ele decidiu ficar mais três dias… ai a policia veio e perguntou se ele foi seqüestrado e ele disse que não que tinha vindo pela sua vontade, que ficou mesmo todo esse tempo porque quis… Os policiais insistiram perguntado se ficou contra sua vontade… Ele explicou que ficou porque os índios necessitavam… Ai depois dessa reportagem ele ficou mais sete dias com agente… Então a FUNAI o demitiu do cargo.

Eu também só liderança, como meus irmãos que já foram, mas o medo não me paralisa, porque eu me movo para aliviar o sofrimento da comunidade.
O que mais eu quero na vida é paz e respeito.
Yaranawy – Marelene-(Si)