Imagine que um dia, o nosso mundo seja surpreendido pela invasão de seres extraterrenos do planeta kronk (que acabamos de inventar).

Os kronkianos são fisicamente iguais a nós humanos, mas possuem uma tecnologia super avançada. Eles saltam de seus discos voadores e nos lançam um olhar de desprezo. Depois nos avisam: DESCOBRIMOS UM NOVO PLANETA!
A partir de agora, eles são os descobridores e se consideram no direito de mandar em tudo o que existe aqui a Terra.
Caçam a gente. Tomam-nos por primitivos.
Para eles, as comidas, os objetos, tudo não vale nada. Botam fogo em tudo, derrubam as casas, acabam com a natureza. Depois, dizem que nós humanos somos criaturas inferiores, incapazes de apreciar o belo, de manifestar sentimentos elevados, de amar de verdade.
Os humanos somos escravizados e obrigados a trabalhar a vida inteira nas plantações que os kronkianos instalam aqui na terra. Obrigam-nos a falar o idioma kronkiano, vestir roupas kronkianas e venerar os deuses deles; nossas matas são arrasadas para construir o que chamam de “benfeitorias”. Os nossos rios são usados para os aquários do imperador kronk.

Os humanos tentam se rebelar, mas as armas kronkianas são superiores. Eles usam a violência, torturam e matam inclusive ate as crianças. Fazem isso com maior prazer. Não temos a menor chance.
Os kronkianos transmitem doenças que eram desconhecidas na terra, matando bilhões de seres humanos.

Continuemos o pesadelo.
Passam-se séculos.
Quase todos os humanos já morreram.
Os poucos que sobraram tentam sobreviver em uma pequena área permitida a eles, onde já foi devastada a floresta.
Nas escolas kronkianas, os estudantes aprendem que, um dia, no ano tal a.k. (antes dos kronkianos), os bravos habitavam a terra. Esses heróis do passado dominaram os selvagens humanos, trazendo a civilização. Eram os conquistadores.
Até que um belo dia, uma geóloga kronkiana descobre uma rica jazida de minerais nessas áreas de reserva humana. E sem se importar com o fim da “humanidade”, avança com tudo gritando: “Viva o progresso!”.

Amigo:
Você é esperto e já percebeu que essa historinha, na verdade, esta representando o drama de nós povos indígenas do Brasil.
Os humanos somos nós, povos indígenas; os kronkianos são os portugueses.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia entre 5 e 8 milhões de índios vivendo aqui. Hoje os índios são poucos. Foram escravizados, tiveram suas terras roubadas, foram mortos impiedosamente. A destruição física foi acompanhada pela destruição cultural. Foram obrigados a viverem como os europeus, e chamaram a isso de “processo civilizatorio”.

A historia de nós, Pataxó Hãhãhãe não é diferente da dos demais povos indígenas do Brasil, marcados por guerras, massacres e prisões.

Nós conseguimos já retomar parte do nosso território. O povo Pataxó Hãhãhãe tem atualmente aumentado sua população, devido ao retorno de muito índios a sua própria terra;
É justamente nesta luta pela recuperação do nosso território, que nós, Pataxó Hãhãhãe fortalecemos nossa identidade.
A recuperação de nossas terras buscando garantir o nosso espaço, mas, sobretudo a recriação do nosso universo simbólico a partir da relação intima com a mãe terra nos torna capazes de enfrentar todas as dificuldades do passado e do presente. Para vivermos um futuro melhor, precisamos relembrar as histórias preservadas pelos “troncos velhos”.

Esta oportunidade que a ONG Thydêwá, através do projeto “ÍNDIOS ON-LINE”, nos proporciona ajuda para preservar a nossa cultura, ampliar nossos horizontes e estimular nossa criatividade.

Aliana Gomes.