Excl Sr. Governador do Estado da Bahia

Sr. Jaques Wagner

Haverá um dia em que os homens perceberão à semelhança, que existe entre si. Há em nós POVOS INDÍGENAS, o anseio de vermos concretizado esse sonho.

Historicamente, sempre fomos relegados a último plano, ou praticamente a nenhum plano de inserção contextual ao que verdadeiramente somos. Principalmente, nós ÍNDIOS DO NORDESTE, em especial os POVOS INDÍGENAS DA BAHIA. Sempre fomos usurpados, renegados, violentados, marginalizados, descaracterizados, por um processo histórico infame, vergonha da humanidade.

Atualmente, ouvimos muito falar em reparação, dívida histórica, etc.; não sabemos onde estamos inseridos nesse falatório com aspectos utópicos. Nosso direito originário a cada dia se distancia da verdade, da garantia de direito à VIDA com dignidade.

Sr. Governador, está em vossas mãos a possibilidade de mudar, de fazer diferente dos outros. Valorizar e preservar a cultura de um POVO, que muito tem feito pela humanidade através da nossa sabedoria milenar. Nossos conhecimentos em relação ao trato com a Natureza que nos cria sempre serviram de exemplo como importante instrumento de harmonia entre o SER e o seu CRIADOR, sem falar da contribuição dada à medicina para salvar vidas, pois somos nós os conhecedores da matéria prima utilizada nas indústrias farmacêuticas. Enfim, somos parte desse contexto e, no entanto nos é negado o DIREITO À VIDA.

Sempre caímos em um beco sem saída, em um labirinto de reivindicações que serão somente fraseologia oca, promessas que jamais se realizarão em sua plenitude nos moldes da sociedade de classes.

Precisamos da nossa emancipação econômica, e não apenas cultural ou étnica.

Não desejamos mais ver nossas vozes caladas por aqueles que se julgam especialistas, enquanto nosso dinamismo cultural continua sendo desconhecido. Existe no mínimo uma representação enganadora e equivocada são informações inexatas, detalhes exóticos e incompreensíveis, projeções de valores estranhos todos eles apresentando o índio “como ser inferior”.

Nenhuma cultura vive isolada, fechada entre muros de uma fortaleza. Entretanto, congelaram nossa cultura, pertencemos ao passado – a negação da modernidade – tudo que não pertence ao Ocidente é do passado.

Tudo que vos peço, é que não nos deixe sermos usados por políticos e lideranças já contaminadas com o sistema ai implantado, não nos meça com as mesmas características dos povos que fazem dos seus semelhantes um joguete para benefícios próprios. Seja imparcial, nas nossas questões, ouça sempre a sabedoria dos nossos velhos, desconstrua o sistema imposto em nossas aldeias tais como: geração de conflitos, fragmentação do nosso povo, política de assistencialismo, que visam o benefício de um único grupo, e não de toda coletividade. Nossa cultura é pautada na partilha, no coletivo, ninguém pode está melhor que o outro, somos comuns.

Implantação de políticas públicas em nossas aldeias, que visem a nossa auto-sustentação, reconhecimento, e inserção no contexto atual. INCLUSÃO SOCIAL PARA OS POVOS INDÍGENAS!

“As civilizações não são fortalezas, mas encruzilhadas.”
Otávio Paz

“Temos o direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza e de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”
Boaventura de Souza Santos

Salvador, 01 de outubro de 2006.

Indígena do Povo Tupinambá de Olivença
Auere!
Yakuy Tupinambá
yakuy@indiosonline.org.br