Época de Ouro, assim denominada a ascensão comercial e produtiva da região cacaueira, nas décadas de 70 e 80, chegou a ser responsável pela elevação do Produto Interno Bruto (PIB), onde se cogitou dividir o Estado da Bahia, interesses políticos e econômicos atuaram nos bastidores, não obtiveram êxito. Diferentemente do que aconteceu conosco no início da implantação da lavoura, veio gente de vários lugares atraídos pela vontade de ganhar muito dinheiro e se tornar rico, principalmente, do estado do Sergipe, e alguns estrangeiros que foram atraídos pela febre do ouro amarelo, que dava em árvores, uns vieram para servir e outros para serem servidos, traziam também o sentimento de invasão e exploração, carregado de torturas, preconceito e discriminação, não eram diferente daqueles que chegaram aqui em 1500, invadindo o território sagrado dos nossos antepassados intitulando-se supostos proprietários tomando tudo que nos pertence por Direito Originário.

Vivenciei a ascensão cacaueira, nasci na década de 60, ouvi muitas histórias, contadas pelos nossos anciões nascidos no século XIX, e, também contada por aqueles que de alguma forma serviram aos conhecidíssimos “Coronéis do Cacau, figura bastante citada nos romances de Jorge Amado, traziam consigo, uma algibeira, que não continha apenas proventos, mas também sentimentos torpes: a ignorância, a ganância, a mesquinhez, a brutalidade e a esperteza de tomar para si terras que já havia a presença do homem nativo, e, sem nenhum escrúpulo, contratavam exercito de “capangas”, ou os famosos “jagunços”, para ceifar a vida de quem tentasse impedi-los, muitas mulheres tupinambás, foram violadas e violentadas, para servi-los em regime de escravidão, apenas por comida e dormida, e quantas estupradas… (“pegas a dente de cachorro, ou no laço”), minha avó contava que muitas delas morreram em protesto sem comer ou beber água, presa em quartos escuros ou porões dos casarões, construída para ostentar o poderio dos “Coronéis”, isso acontecia com aquelas que não se curvaram a tamanha atrocidade, preferiam a morte silenciosa. Mas, não tão diferente do que aconteceram com essas mulheres, muitos homens tupinambás, foram recrutados, e acabaram sucumbindo por medo de ser morto, diante de tanto poder, passaram a ser usados para exterminar aqueles que resistiam, era tamanha a crueldade e exerciam um poder esses “Senhores”, que conseguiam colocá-los contra os próprios parentes que resistiam.

Esta “Terra Calada” havia sido delimitada através da medida de Marques de Pombal, (séc. XVIII) que expediu uma medida através da Coroa Portuguesa, que determinava o seguinte: que onde houvesse Aldeamento Jesuíta era para ser demarcada em 07 léguas quadrada, e entregue aos “índios” aldeados. Muita gente sabe da existência dos marcos de bronze, que foram usados para delimitar a área, eu ouvi muito sobre, desde a minha infância, e não apenas dos nossos anciões, mas os que usaram para delimitar nosso território foram retirados pelos fazendeiros para que não houvesse nenhuma reivindicação pelos descendentes, e como se não bastasse começaram a nos denominar de “Caboclos de Olivença, afinal ser reconhecido etnicamente, seria uma ameaça aos “Coronéis do Cacau”, como Adami, Suzart, Coronel Basílio, Henrique Alves, Oscar Marinho Falcão, e tantos outros, que estão eternizados nas bibliotecas municipais e do estado, como homens de coragem, verdadeiros heróis, que desbravaram o sul da Bahia e tornaram-na em uma região rica, manchada com o sangue dos nossos antepassados, quantos foram mortos, presos, escorraçados, escravizados, ou que tiveram suas casas queimadas?

Ah, mas quando acreditavam que tudo estava bem, e que o império jamais pudesse ruir, eis que surge, no saguão do CEPEC (Centro de Pesquisa da CEPLAC), em cima de um sofá, cuja sala existe  uma escada que dar acesso a outro piso, um feixe de gravetos, enrolados em forma de pacote, causando o maior burburinho, pois chamou atenção dos funcionários dos vários setores do Centro de Pesquisa, alguns dias depois, mais ou menos um espaço de 15 dias, aparecem desses mesmos galhos pendurados em árvores do cacaueiro, em algumas  fazendas do município de  Camacã, cidade do sul da Bahia, próximo a Itabuna, e atentamos para o fato de que se cogitava nas esferas de governo, o FIM da CEPLAC (Conselho Executivo do Plano de Extensão da Lavoura Cacaueira, que foi criada para dar suporte ao Banco do Brasil, quando na época da ditadura, iniciaram os financiamentos casados com agrotóxicos e adubos químicos, acordo do governo com as multinacionais.

Inicia-se, mais uma “Saga”, a da Vassoura de Bruxa, onde os famosos “Coronéis do Cacau”, filhos ou netos viram ruir por terra seus impérios, e surge então uma grande interrogação, algo a nível do famoso detetive Sherlock Holmes, descobrir como chegou em terras tão longínquas, afinal de onde existia o fungo, até chegar ao sul da Bahia, seria impossível se dar a contaminação pelo ar, e foram tantas especulações, depois acusações, entre funcionalismo e governo, até esbarrarem em uma figura conhecidíssima da política regional, que nasceu nos bastidores da CEPLAC, uma figura simples, vinda do Povo, pois não era nenhum filho de Fazendeiro, mas que teve o seu nome envolvido entre aqueles que não aceitavam o fim da estatal, a qual tornou-se apenas cabide de emprego do governo, uma “vaca leiteira”, tornando-o o suspeito nº 01 das investigações que poderia levá-lo ao banco dos réus como o responsável em ter disseminado o fungo da Vassoura de Bruxa, na Região Cacaueira , e deixar na banca rota os famosos coronéis, assim como a devastação da lavoura, que acabou atingindo os pequenos agricultores, muita gente desalojada, desabrigada, e muitos que viram a fome de perto, assim como vários proprietários viram suas “propriedades” sendo confiscadas pelos bancos. Investigação essa que se encontra na Polícia Federal, e que até hoje, não foi dada uma resposta para a sociedade, não se sabe se o caso foi engavetado, mas o que sabemos é que hoje, voltamos a ser prejudicado pelo Deputado Federal Geraldo Simões – PT/BA, que brada em dizer que serão 20 mil pequenos agricultores desabrigados, e nós que vivemos hereditariamente neste território, sabemos que não se chega a 4.000, e dentre estes existem muitos indígenas que não se autoidentificam por medo de represálias, ou com receio de sofrerem preconceito e discriminação, mas que todos terão direito a ser indenizados, e reassentados pelo INCRA, não acontecerá o mesmo que aconteceu quando espalharam o fungo da Vassoura de Bruxa, não é verdade Deputado? Tentou-se inclusive responsabilizar o governo estadual, o já falecido, Governador Antonio Carlos Magalhães (ACM), partidos, etc.

Será que é o sentimento de culpa, atrelado ao da “reparação”, que leva o Deputado a ser contra a Demarcação do Território Sagrado dos nossos antepassados, e nosso por direito originário, talvez sim, seja uma forma de se redimir da desgraça que a Vassoura de Bruxa causou a milhares de pessoas, não somente, aos fazendeiros, pequenos agricultores, posseiros, também aos trabalhadores rurais, nós indígenas (agricultura familiar) e ao comércio das cidades da região cacaueira, queremos saber por que parou a investigação que se encontra na Polícia Federal, acreditamos que a sociedade merece uma resposta?  Todos sabem que foi uma ação criminosa, para que não pusesse fim à “vaca leiteira”, que promovia muitas mordomias e fabricava marajás, vários setores da sociedade bahiana cobraram agilidade nas investigações, inclusive a OAB, lembra Senhor Deputado…

A DEMARCAÇÃO DO TERRITÓRIO TUPINAMBÁ, hoje, é uma QUESTÃO meramente POLÍTICA, falta VONTADE, RESPEITO e CUMPRIMENTO DO DEVER.