Conversando com Dona Glória, Pedro Gonzaga e família.

Dizem que descobriram o Brasil, mas o que fizeram foi matar. Ainda hoje a gente continua achando ossos de nossos antepassados. Achamos alguidares (potes) com ossos, cachimbos e muita louça.

Uma vez achei um alguidar que tinha ossos de duas pessoas e duas balas.

Nossa bisavó foi apanhada no mato, era chamada de Valentina, porque era valente.

Quando eu era criança comia peixe, peba, tatu, seriema, tartaruga, mandioca,batata, feijão, milho, melancia, cana.

Com algodão se fazia a coberta, a toalha de banho. Arrancava croá para fazer muita coisa, até linha de pescaria. Ainda hoje se tece o croá para trabalhar na casa de farinha, só que antes para fazer farinha a roda era na mão e hoje é a motor.

Antes as pessoas só pensavam em comer, chovia e o rio enchia, então não faltava comida.

Agora com as barragens que os homens fizeram secou tudo e não tem mais nada.

Tudo ficou mais difícil.

Antes nossa saúde era melhor. Não existia pneumonia.

Do pau do campo tudo se usa para remédio: Malva-rosa é boa para febre. A catingueira é boa para dor nas tripas, obração, para quando alguém está
empanturrado, o jatobá é um grande fortificante, a quixabeira para infecção, o angico arranca qualquer gripe, a favela cura dor de estômago, aroeira, imbaúba, imburana, batata de pulga, peão e pau ferro são muito bons também.

Todo pau do campo é bom.

Quando vejo alguém passando mal eu penso no que posso fazer e a resposta vem.

Toré a gente sempre ouviu que existia, só que o povo aqui tinha receio de dançar.Tinha pessoas que eram contra, pessoas ignorantes que achavam que era uma coisa errada, então o povo começou a dançar escondido.

Lembro que com sete anos eu fui dançar Toré pela primeira vez. Foi na casa de Antônio Luís, perto da casa de farinha. Achei muito bonito.

Hoje, às vezes eu vou para o Toré, vou para a reunião, só que até agora
não levei meus filhos porque é de noite e é longe, tem que fazer um terreiro mais perto.