“… Eu sou SEPÉ, o grande cacique,
vivo entre tacuaras
pensaram de que tinha morrido
que morta estava minha raça
mas eu salto pelas noites
com arco, flecha e lança…”
José Ramos

… Era uma vez ha muitos anos atrás, que nasceu em Abya Yala (América), ao Oriente do rio dos pássaros pintados um filho de CHARRÚAS que sería muito sábio …. foi o SEPÉ …

Contam os avos que ele cresceu nessas belas terras muito feliz e em liberdade.
Nessas épocas os filhos acompanhavam a suas mães em suas tarefas e elas os deixavam brincar livremente, vigiando-os amorosamente. As acompanhavam a recolher argila para fazer vasos, panelas, potes, moringas… nao era tarefa fácil!
Eles se impacientavam cada vez que davam a sua mae um bocado de argila, de terra para fazer os recipientes e a mae o rejeitava uma e outra vez hasta encontrar a adequada! Eles só queriam brincar, curtir da natureza, brincar com a agua que cristalina corria, tomar sol…
Depois subiam nos serrotes dos montes para recolher frutos silvestres, mburucuyá (maracujá), pitanga, guayaba (goiaba), araçá, …… Primeiro comia a mae, comprovava que a fruta fosse boa e adequada e logo davam a os filhos e lá iam todos eles atras sua mae como ñandus (uma vae da família da Ema e da Avestruz)…
A mae baixava as ramas e juntava também os frutos para levar ao acampamento, iam pela beira do rio onde corria a agua bem clarinha…
SEPÉ, Charrúa, valente entre os valentes… Dizem que ate as cobras mais venosas podiam dormir se aproveitando do calor de seu corpo, corpo onde lança nenhuma entrava e bala nenhum furava.
A SEPÈ se lhe entregavam as mulheres mais bonitas da tribo, como presente de admiração e estímulo… María de la Nieve, Polonia… Logo vieram os filhos… Conhecemos a existencia de Avelino, Santana, Ña Santa, María Sosa ….
Lá pelos anos de mil oitocentos e alguma coisa, SEPÈ escapou da matança “Del Queguai”. Foram muito poucos os que se salvaram da carniceria, do genocidio de “Salsipuedes”.
No passavam de 25 irmãos Charrúas capitaneados por SEPÈ, o grande cacique.
Se instalaram nos montes de Arapei e de Cuareim onde mais tarde se reunieram as famílias sobreviventes.
Em 1834 se foi ao Brasil com sua tribo e voltou com ela na década de 1840 e se estableceu em campos de José de la Paz Nadal que os protegia.

Que ironia! Os verdadeiros donos da terra tendo que viver “de prestado”.
Contam que o grito de guerra do cacique SEPÈ era inimitavel.
Era um alarido que estrondava os ares e que nunca foi fácil de explicar para os que o escutaram. Parecia que começava com o bramido dum tigre, seguia com o mugido dum toro e concluía com o toque de atenção dum clarim de guerra. Contavam que os cavalos eriçavam seus crimes e relinchavam ao senti-o.
Cada vez que alguem intentava imita-o os índios se riam a gargalhadas.
De vez em quando satisfacia aos visitantes com um original espetáculo: colocava como seus as “boleadoras” (baladeras da região) entre os dedos dos pés… Invitava um gaucho que tentaria feri-o de facom. Nunca recebeu um corte e frequentemente desarmava ao atacante.
Um dia, os índios recolheram do caminho uma maleta que caiu duma carreta que transportava um virulento para se atender no povoado, muitas pessoas que esssa maleta foi tirava propositalmente.
Dizem que se salvaram do sarampo SEPÉ e seus filhos Santana e Avelino por fugido ao começo dos estragos da epidemia, mas hoje alguns dos descendentes do cacique negam essa possibilidade, expressam que nao fugiu, que um cacique nao abandona a sua gente, que simplesmente se encontrava buscando outro lugar para acampar, pois onde estavam ja era muito pouca a pesca e a caça para a tribo. O negam categoricamente: Um cacique morre defendendo a sua tribo, nunca fugiria…
Contam as avos que algumas maes presenteavam a suas filhas e filhos aos crioulos quando começou a epidemia para assim evita-es o contagio e salvar suas vidas ….
Na zona “del Paso Hondo” foram encontradas duas jovens, duas filhas do cacique SEPÉ que se salvaram do sarampo, Ña Santa y María Sosa.
Foi muito triste quando voltou SEPÉ ao acampamento e se encuentrou com a desolação, com a morte, com a obscuridade!
Anos depois sofre outra perdida. Seus dois filhos Santana e Avelino foram seducidos para alistar-se como “voluntários” para o exército.
SEPÉ resistiu e com a ajuda de seus cachorros: Pamplona e Cabo, (ninguem sabe o porque desses nomes), logrou escapar pra o monte.
Santana nunca voltou, Avelino Charrua sim.
Os que conheceram o cacique SEPÉ, dizem que no falava muito espanhol, mas que o entendia com perfeição.
A vezes contam que quando ele cumprimentava alguém que ele gostasse, na hora de dar a mão ele dizia: SEPÉ, pa vos! (SEPE para vossa mercede), sempre se mostrando prestativo e respeituoso.
Os seguidores do cacique SEPÉ, da região de “Arroyo Malo”, costumavam visitar o povoado, em perfeita ordem, cavalgando sobre belos cavalos crioulos e discursando pelas ruas e praças, que enchiam de admiração aos pacíficos moradores de do povoado.
Defendia “seu território”. No permitia sequer que Paz Nadal entrase nas”terras” onde estava vivendo, seus le ajudavam a defender o territorio. Se dize que no lugar onde SEPÉ morava existia uma tranqueira, e quem queria visitar o cacique teria que dizer uma contra-senha. Ao chamado compadecia o cacique e seus dois cachorros. Se SEPÉ portava sua lança com a ponta pra baixo, os cachorros se quedavam quietos, mas se estava pra cima, atacavam furiosos contra quem for.
Tinha a cor do cobre. Pese a ser já centenário saltava pra cima e para baixo de seu cavalo admiravelmente.
Certa tarde, dois homens malvados, fizeram uma aposta macabra: misturaram cachaça com “veneno dos couros” (angico) e deram a garrafa de presente para o SEPÉ. Ele aceitou o convite. Durou segundos… Se tremendo deu uns passos e caiu aos pés de Viguá, seu fiel cavalo escuro…
… Mas, nas noites sem lua, ao trote, ele volta para conversar com seu povo…

Huebilú Charrúa – Maria
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