A comunidade Truká, em Pernambuco, realizou nos dias 28 e 29 de julho o Seminário sobre os projetos de barragem no rio São Francisco e os grandes projetos do governo federal que impactam suas terras. O evento aconteceu na fazenda Toco Preto, local de retomada Truká, em Cabrobó.

O seminário teve por objetivo discutir os impactos dos grandes empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previstos para a região, em especial os que atingem diretamente as terras indígenas, como a do povo Truká. Todos esses grandes projetos estão ligados à Transposição do rio São Francisco. Durante o seminário também foi abordada a questão da demarcação de terras indígenas e a possível construção de uma usina nuclear no estado.

O evento contou com a colaboração de diversas entidades parceiras do movimento indígena e popular: Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Articulação Popular pela Revitalização do rio São Francisco, IRPAA e Nectas.

Confira abaixo a Carta Final do seminário:

Carta Final do Povo Truká

Seminário “Os projetos de barragem no rio São Francisco e o território Truká”

Nós, povo Truká e entidades parceiras, nos reunimos na retomada do povo Truká em Cabrobó (PE) nos dias 28 e 29 de julho em um seminário de discussão sobre o território e os grandes projetos que nos impactam.

Nesses dias levantamos dados e informações sobre os projetos governamentais que prejudicam nossas vidas, a vida da nossa mãe terra e de nosso pai, o rio sagrado.

Já fomos muito prejudicados com as barragens no rio São Francisco ao longo dos anos e com a construção do canal da transposição, que modificaram nossas vidas, nossos costumes e nossa sobrevivência.  A construção das barragens de Pedra Branca e Riacho Seco, bem como de uma possível usina nuclear na região, não prejudicará somente nossas atividades produtivas mas terá impacto no equilíbrio social e espiritual de nosso povo. Como também afetará várias comunidades ribeirinhas, quilombolas, pescadores, muitos povos indígenas e população urbana entre outros.

Não vamos admitir que nossos direitos sejam mais uma vez violados.

Com esse seminário queremos fazer ecoar uma nova proposta: que possamos repensar e propor um modelo de vida que respeite as várias formas de pensar e viver de todos os povos, que não corresponde a esse modelo de desenvolvimento excludente, devastador e que só visa ao lucro. Queremos um mundo de reciprocidade, paz e justiça porque assim o pai Tupã deseja.

O povo Truká está organizado para enfrentar essas e outras ameaças que prejudicam nossa vida. Exigimos do Estado o respeito aos nossos Direitos Constitucionais e a Convenção 169 da OIT. Portanto, conclamamos a todas as pessoas que se sentem prejudicadas com essas obras a juntarmos forças para enfrentar esses inimigos.

“Reafirmamos nosso compromisso em defesa do rio e da demarcação de nosso território.

Estamos assim traçando novos horizontes de pensamento e de luta”.

Reina Truká! Reina Assunção!

Retomada Truká, Cabrobó, 29 de julho de 2010.

Fonte: www.cimi.org.br