SEMANA DO ÍNDIO
UMA DÍVIDA COM A HISTÓRIA E UM BURACO NA CONSCIÊNCIA

Estamos em abril, certamente alguém lembrará que neste mês é comemorado o dia do índio, 19 de abril. Muitas fotos serão publicadas e alguns artigos irão rechear as páginas dos jornais e revistas e ilustrar imagens da televisão. Nesta perspectiva, aproveitamos a oportunidade para colocarmos alguns pontos que possam esclarecer a real história e situação indígena, em nossos imensos pais. A compreensão destes pontos é de fundamental importância, para que inspire nos homens a busca da construção de uma sociedade mais justa e mais digna onde não possa haver fronteiras que separe as pessoas, seja pela ideologia política, crença, raça…
Embora marginalizados desde o início pela colonização portuguesa, a cultura indígena era, e é tão forte, que contribuiu de forma decisiva para a formação da identidade do povo brasileiro. E, se penetrarmos além das aparências, veremos que nós brasileiros carregamos a cada momento do nosso cotidiano vários elementos indígenas: nos genes, na alimentação, nas músicas e nos inúmeros medicamentos, nos mitos etc. O lado de degradar a natureza, certamente não herdamos dos índios.
Se pudéssemos recuar no tempo, talvez resumisse de forma poética essa história da seguinte forma:

O sol ainda tingia de dourado as folhas do buriti, quando pela primeira vez o índio pisou nessa terra Pindorama.
Isto foi há muito tempo; de lá para cá, mais de 550 gerações se passaram.
No início eram grupos nômades, caçadores e coletores; muito tempo depois eles transformaram em agricultores e colonizaram os verdejantes vales desta terra. Neste local, implantaram suas grandes aldeias e seus roçados.
E, assim, viviam tranqüilos, respeitando a riqueza do ambiente e as fronteiras que estabeleceram, fronteiras essas que não tinha arames cercas, ou muros, mas sim a fronteira do respeito, onde todos podiam usufruir do meio em que viviam apenas com objetivo de subsistência.
Depois que os troncos e famílias lingüísticas se formaram Tupi foi para o norte, Guarani para o sul, Tupinambás para o litoral e os guerreiros Jê povoaram o centro da América do Sul.

Entretanto, como antropólogo e arqueólogo, sentimo-nos na obrigação de esmiuçar com dados concretos, os passos dessa história, mesmo que seja ainda resumida. E tentar mesmo que longe sentir na pele o que os nossos antepassados viveram.
Um povo, uma nação que a milhares de anos povoaram e viveram aqui, sem donos, sem ambição sem a destruição chamada (civilização) (modernidade).

E, assim viviam, até o dia em que irromperam na área, em grandes destacamentos armados, homens diferentes, não interessados em plantar, colher e caçar, nem em construir aldeias entre o cerrado e a mata, ou à beira da lagoa ou do rio. Queriam levar gente, pedras brilhantes e ouro. Para muito longe. Meados do século XVII.
Foi o caos. As roças foram pilhadas, as aldeias foram demolidas, as mulheres violentadas, as terras de cultivo invadidas, as pessoas morrendo de doenças desconhecidas. A guerra foi a solução ditada pelo desespero. A derrota, , a desmoralização, a extinção ou a fuga, foram as conseqüências. Êste é o tipo de relações sociais que herdamos e que molda nossa sociedade atual. Espero que este exemplo nos faça refletir e nos impulsione para a busca de um novo alvorecer, que faça brotar em nossos corações um raminho de coragem.
E que nos guerreiros indígenas não percamos de vista o que significa ser índio e lutar pela nossa nação. E que pelo sangue dos que tombarão, e pelos gritos de desespero possamos refletir neste dia e todos os dias.
Gilberto Pataxó- Aldeia Corumbauzinho Prado Bahia – texto extraído e adaptado Professor titular Dr. Do Instituto do Trópico Subimúdo da Universidade Católica de Goiás.