A QUEIMAÇÃO DE LOUÇAS

Vou contar o que vi com os meu próprios olhos e ouvi dos mais velhos da tribo, principalmente de minha mãe Maria de Lourdes Indaiá da família Poité. Quando nós morava-mos na Rua dos Índios em Porto Real do Colégio na década de 70, as índias Kariri-Xocó, trabalhavam na cerâmica utilitária, faziam potes, panelas, frigideiras, e outros objetos. A pobreza era geral naquela pequena rua estreita, as mulheres trabalhavam no barro, cada uma tinha em sua casa uma oficina de cerâmica , eram conhecidas como as “ Louceiras”. Atrás das casas das principais louceiras tinha um forno, o que me lembro existia forno nos quintais da Velha Antônia de Gringo, Júlia Pires, Maria Tinga, Maria das Doures e outras que não me lembro. O queimador pessoa responsável para queimar as peças cerâmicas, organizava a arrumação das louças, para formar uma fornada era necessário 120 objetos. As louceiras quando não tinham o número total de formar uma fornada, ajuntava com as outras louceiras para completar o forno, chamava o queimador e acertava a queimação. No meu tempo de menino lembro dos queimadores de potes, o finado Otávio, Velho Gringo, Antônio Preto, José de Ouro e outros mais. As crianças carregava os potes para o forno, passando pela rua, era uma alegria total, porque com as peças queimadas era a certeza de ter o alimento. A cerâmica era vendida ou trocada por feijão ou farinha nas cidades circunvizinhas. Para queimar uma fornada de pote, era necessário uma carroçada de lenha seca tirada na mata. O forno era arrudiado de esteiras de junco para proteger contra o vento. A queimação dos potes consiste na estuquiagem, colocar lenha na boca do forno, e na boca dos potes, colocar os cacos de potes quebrados, cobrindo a fornada. Durava mais ou menos três horas de duração a queima. Quando as peças estavam frias era tiradas as peças do forno, com uma estaca própria de tirar louças. Estava pronta a queimação das louças. Nhenety Kariri-Xocó.