Os índios tiravam piaçaba e botavam nas costas pra vender nas vendas. Quando os ricos, os brancos chegaram eles botavam as vendas. Os índios já gostavam de beber muito e os brancos se aproveitavam disso. E eles davam quilo de carne e dando outras coisas agradando… e eles tomando a cachaça… Quando ia ver, os brancos ia fazer as contas da venda e os brancos diziam: “Ó, caboclo, ocê ta me devendo muito, então agora você me dá um pedaço dessa terra como pagamento”.

E assim, foram tomando os pedaços até ficar assim, o índio sem terra.

Eles tomavam tudo e os índios ficavam trabalhando pra eles. E assim, até hoje.

Quero que os meus filhos e netos, esses que eu não alcançar, consigam suas terras pra trabalhar pra eles e não para os outros. E ser feliz. E pra ser feliz e forte tem que usar pena, colar de semente do mato, pra dar força das árvores e das nossas culturas antigas. Tem que unir mais e pisar o pé no chão. Puxa, nós não pode nem mais andar nu. Mas de primeiro, eles andavam livres no mundo. Iam pro rio, com a cesta pescar. Pescava de rede de imbira e a gente ia mariscar no rio Acuípe. Eu, mesmo, marisquei muito.

Aqui no rio tem traíra, piaba, moréia preta e moréia branca.

Antes eu tomava banho no mar. Era bom. O mar era da gente, mesmo. A gente ia mariscar lá e pegava aqueles buzinho, as lesma, pegava um monte, chegava em casa escaldava e tirava aquele peixinho que fica dentro daquele casco. Ralava o côco e cozinhava com o leite de côco e dendê. Tudo daqui. Hoje não.