Quando comecei a estudar no pré-escolar, a arte ou educação artística se resumia apenas em desenhar, pintar etc. Eu não tinha a consciência de quer nossas danças, rituais tradicionais, a cerâmica, confecções de vassouras, a fabricação de colares, utensílios usados nos rituais. Tudo isso fazia parte da arte. Fiz cursos de desenhos, mas não dava tanta importância, pois era selecionado apenas aquelas pinturas ou desenhos considerados belos. Já que eu não tinha jeito para desenhar, me achava um fracasso como artista. Alguns anos depois me escrevi no curso de cerâmica, com a minha tia e professora Merenciana, mais conhecida por Dos Santos.Ela é uma pessoa da comunidade indígena, e que desde cedo detinha esse oficio e através dele sustentava sua família. Ela nunca estudou por falta de condições financeira, então se dedicou a arte da cerâmica. Ao iniciar o curso, aprendemos detalhes de como escolher o barro, qual tipo de barro para cada utensílio. Primeiro passo, buscar o barro na serra ou em locais apropriados; podia trazer esse barro em um animal de carga ou na nossa própria cabeça. Segundo passo, colocar esse barro ao sol para secar, pois às vezes o barro se encontrava úmido. Depois de secar, vem a terceira etapa, pisar o barro com uma pedra ou utilizar um pedaço de madeira; depois de pisado era peneirado, molhado com água, amassado para ter uma consistência homogenia e guarda-lo em plásticos. Aí estava pronto para ser manuseado. Então aprendemos a fazer pratos, panelas, potes, etc.

Na arte Pankararu a cerâmica além de representar a cultura do meu povo também representa o sustento de algumas famílias. Pois essa arte requer dedicação total, mas para algumas pessoas se torna uma terapia ou um modo de expressar seus sentimentos. Na sala de aula é um incentivo para que as crianças desde cedo conheça essa arte, e que se torne um hábito. E repassem e valorizem para as gerações futuras. Hoje me orgulho de estar repassando esses ensinamentos para outras crianças da aldeia, eu já tinha essa vontade, mas só foi possível agora através de um projeto de arte da Escola Indígena Carlos Estevão.

Começamos com uma turma de 4ª serie e depois com as demais. Contamos com a ajuda da artesã Vilma que aprendeu com a sua mãe Lizete essa arte, para nos apoiar nesse curso.

patrícia pankararu
patricia.indiosonline@gmail.com