Por Taukane, Estevão Carlos Etnia Bakairi (Kura) – MT

Levantar as possíveis causas e conseqüências do fracasso eleitoral no mundo indígena é o desafio e o tema ao mesmo tempo que nos obrigam a refletir com urgência, e temos certeza que vamos recolocá-los em seus devidos termos, para tentarmos mudar esse paradigma que já virou um ciclo vicioso.

 Para objetivar nossa análise vamos delimitá-la a partir do final da ditadura militar, a saber, de 1980 a 2000, período em que como observador atento constatamos aumento progressivo das demandas do ‘movimento indígena organizado’. E sua inserção no noticiário da imprensa nacional, tendo por foco a participação indígena dentro do processo de redemocratização do país, com eleições livres para presidentes, deputados, prefeitos, vereadores, etc.

 Assim, lembramos que importantes fatos sociais aconteceram neste espaço de tempo [mais de 20 anos] no âmbito da sociedade nacional [e por extensão no que tange aos povos indígenas] estes, na área dos direitos humanos, com a promulgação da Constituição Cidadã de 88, o fortalecimento dos movimentos sociais, a eleição do cacique Xavante Mário Juruna [1982-1986] para Deputado Federal, e de recente um sindicalista metalúrgico Lula presidente do Brasil [2002-2010].

 Em referência à eleição do Deputado Federal, Mário Juruna (PDT-RJ), na condição do primeiro índio brasileiro da história eleito deputado, destaque-se, para não dizer que nunca tivemos um parlamentar de sangue nativo, mas diga-se também que, creditamos a vitória eleitoral de Juruna, mais à benevolência da população carioca e menos à competência de nossas organizações próprias. Não é nenhum demérito. Em outros termos, a eleição do nosso parente, ainda que se trate de um fato histórico incontestável, foi uma exceção ocorrida do mesmo modo que aconteceu com o episódio do nosso amigo palhaço Tiririca, eleito deputado federal pelo povo de São Paulo. Nada contra. É apenas uma constatação fática.

Mas, e aí, quanto a nós, hoje, como fica? Continuamos seguindo apenas como lembretes das chamadas autoridades constituídas, que aparecem nessas ocasiões “democráticas eleitorais”, como meros coadjuvantes e eternos descendentes dos ‘primeiros habitantes’ e ‘donos’ deste país continental? Ou vamos reagir para transformamos essa história! E o que nos falta? A união, organização, inteligência? Ou recursos humanos? Ou é o fato de pertencermos a povos étnicos minoritários que vem atrapalhando nossa articulação em busca de maior coesão?

Sobre o perfil de nossas lideranças políticas: O que dizem os parentes de modo específico e em geral. E como devemos formar um perfil ideal de uma candidatura própria identificada com os anseios dos nossos caciques, dos nossos grandes sábios que são os pajés? E o modo de proceder, os ideais, a atuação, e a defesa de projetos e propostas por parte de candidatos que se lançam para concorrer, têm refletido as reais necessidades das aldeias? Como isso é feito? Há um consenso na escolha de candidatos indígenas? Quem faz isto?

 Enfim, por que não elegemos um deputado indígena até agora ? Ou melhor, de quem é a culpa, se é que existe alguém culpado nesta história. Dos missionários católicos? Dos evangélicos que atuam junto aos povos, ou é da FUNAI e/ ou das Ong’s indigenistas que não nos promovem com medo de que vão nos perder para sempre!?

 Questões acima elencadas devem e precisam ser debatidas com maturidade, equilíbrio e muita sinceridade, para reorientarmos a construção de um projeto político indígena em nível de Brasil, urgentemente, sob pena de continuarmos sem eleger os nossos representantes, nem no plano estadual nem no plano federal, a exemplo do que aconteceu em 2010 nas últimas eleições.

 1. Taukane é um indígena da etnia Bakairi autodenominada Kura ou Kurodomodo, e acadêmico do curso de Filosofia da UFMT.