Para quem quiser pesquisar sobre agrofloresta…
è bom ler um pouco… Olhar muito a Natureza e Experimentar1

http://www.agrofloresta.net/
http://www.ufac.br/pesquisa/pz/arboreto/pz_arboreto.htm

Introdução

A agrofloresta é uma forma de uso da terra em que as espécies agrícolas e florestais são plantadas e manejadas em associação, considerando a estrutura e a dinâmica dos ecossistemas onde estão inseridas, fundamentando-se na sucessão natural das espécies. Representa a interface entre a agricultura e a floresta, aliando a produção à conservação dos recursos naturais; possibilita a recuperação de áreas alteradas e intensifica a produção em pequenas áreas por muitos anos. As espécies da regeneração natural são consideradas como componentes da agrofloresta que, com alta diversidade de vida, promove um maior equilíbrio ecológico, podendo ser uma alternativa promissora para os países tropicais, ricos em biodiversidade. Esse sistema de produção envolve práticas e conhecimentos antigos, fundamentalmente usados por índios e populações tradicionais, e há pouco tempo a ciência vem se dedicando ao estudo aprofundado desses saberes e dessa forma de uso da terra. Atualmente, o que se encontra são poucas experiências, ainda tímidas e isoladas, com agrofloresta no Brasil. A maior parte pode ser identificada generalizadamente como sistemas agroflorestais (SAF´s), que se tratam de sistemas de produção em consórcio, onde o elemento arbóreo aparece combinado com culturas agrícolas, quase nunca sendo análogos a uma floresta em estrutura e função. Assim, a maioria dos SAF’s apresenta um baixo nível de complexidade e diversidade, pouca dinâmica, inclusive não aproveitando o potencial da ciclagem dos nutrientes. Desenvolver sistemas de produção análogos à floresta, que busquem ser similares em estrutura e função, é ainda um desafio e pode ser um caminho real para a sustentabilidade na agricultura.

O agricultor-experimentador Ernst Götsch vem desenvolvendo um trabalho nesse sentido, com implantação de agroflorestas sucessionais, desde 1986 em sua fazenda, no município de Piraí do Norte, Bahia. Sua filosofia e técnica inovadoras (Götsch, 1995) motivaram um grupo de profissionais e estudantes das áreas de ciências agrárias, biológicas e humanas a se unirem para discutir os conceitos e aprender através da troca de experiências, gerando a possibilidade de realização de um trabalho coletivo, aglutinando conhecimentos e catalisando as ações. Surge assim, em 1996, o grupo “Mutirão Agroflorestal”, que é um movimento espontâneo e segue uma dinâmica própria. Esta união gerou a criação de um fluxo de informações e a constituição de uma rede de pessoas, viabilizando a troca de material bibliográfico, sementes, informes, idéias, dúvidas e estímulos. O número de pessoas, oriundas de diversos lugares e instituições, atraídas pela proposta, foi se ampliando, tornando o grupo maior e dinâmico com o passar do tempo. Profissionais de diversas áreas passaram a participar e fazer presente o enfoque interdisciplinar e holístico que a agrofloresta e a educação ambiental requer e possibilita. Esse grupo tem como principal característica a integração de pessoas em torno da aprendizagem, experiência, vivência e prática em agrofloresta.

Os “Mutirões Agroflorestais” promovem a construção do conhecimento integrado, gerando e sistematizando informações sobre agroflorestas a partir da implantação de áreas experimentais e demonstrativas em diversos contextos sócio-ambientais.

O Grupo Mutirão Agroflorestal tem como seus principais objetivos:

i) construção coletiva do conhecimento em agrofloresta a partir do trabalho prático e participativo;

ii) capacitação de técnicos, estudantes e agricultores em técnicas de manejo e estratégias de desenvolvimento rural baseado em agroflorestas;

iii) desenvolvimento de metodologias educativas com vivência na implantação, manejo e avaliação de agroflorestas e

iv) difusão dos princípios e técnicas do manejo agroflorestal a partir de vivências práticas.

Métodos

O grupo segue os princípios desenvolvidos por Ernst Götsch. Seu trabalho é um referencial para a transformação da relação do ser humano com a terra e a natureza nas atividades agrícolas. A lógica de suas intervenções é criar agroecossistemas parecidos, na estrutura e função, aos ecossistemas naturais e originais do lugar, encontrando as condições em que cada planta se desenvolve melhor. Os princípios para a implantação e manejo incluem o conhecimento das características ecofisiológicas das espécies, a diversidade e alta densidade de plantas, tendo a poda e a capina seletiva como instrumentos dinamizadores para acelerar os processos sucessionais.

Atualmente o grupo funciona através de uma rede, que se comunica via internet e se fortalece nos encontros bimestrais em propriedades ou áreas de trabalho de participantes do grupo, abertos à participação de diversas pessoas, entre as quais, agricultores, estudantes, pesquisadores e profissionais de diferentes áreas. Os encontros (mutirões) propiciam a construção do conhecimento integrado, gerando e sistematizando informações sobre agrofloresta e processos educacionais, por meio de:

i) diagnóstico, planejamento e implantação de áreas experimentais/demonstrativas em diversos contextos sócio-ambientais;

ii) troca de experiências;

iii) dinâmicas e vivências para estimular a percepção e compreensão dos ecossistemas;

iv) atividades lúdicas como processo didático e expressão dos aprendizados.

Os locais de intervenção, por estarem em contextos bem distintos, trazem uma riqueza muito grande para o grupo, pois possibilitam o trabalho em áreas ambientalmente diversas e com objetivos diferenciados pelas demandas locais, se adequando às necessidades dos participantes, podendo ser mais voltados para estudantes ou para agricultores, por exemplo.

As áreas implantadas nas diversas regiões passaram a constituir os “núcleos”, que são as unidades experimentais e demonstrativas e aglutinam instituições locais e pessoas da região, formando pólos de irradiação e difusão da proposta. As etapas de diagnóstico, planejamento e intervenção são registradas por relatores eleitos em cada mutirão e atualizadas pelo responsável por cada área. Entre 1997 e 2000 foi produzido e circulado o boletim “Recirculando”, com informações sobre os mutirões, propostas de exercícios, o acompanhamento e avaliação das áreas, além de poesias, receitas e letras de música. A manifestação artística (música, dança, teatro, pintura) é um ponto alto e sempre presente em todas as atividades do grupo, muito usada como instrumento de percepção, avaliação, planejamento e registro.

Com o desenvolvimento dos trabalhos do grupo, houve a necessidade e o desejo de aprofundar alguns enfoques a fim de otimizar a experiência acumulada. Para isso foram constituídas as comissões de trabalho:

i) formação permanente, com o objetivo de desenvolver métodos pedagógicos para o ensino e o permanente aprendizado;

ii) pesquisa e experimentação, para o desenvolvimento de indicadores de avaliação, além da aproximação com universidades e centros de pesquisa;

iii) comunicação, para comunicação interna do grupo através do boletim “Recirculando” e internet;

iv) sustentabilidade, com o objetivo de gerar e captar recursos para a manutenção das atividades do mutirão, e

v) crianças (adolescentes e jovens???), com o objetivo de realizar atividades educativas com as crianças, para que comecem, desde cedo, compreender a complexidade da agrofloresta.