ESSE TEXTO ABEIXO É DE UMA IRMÃ RELIGIOSA, MINHA AMIGA, QUE FEZ UMA VISITA NA MINHA ALDEIA. VEJA QUE MARAVILHA DE TEXTO.

OBRIGADO IRMÃ JOCERLANE E IRMÃ ZULEICA BELOTE

 

 

Dia do Índio…

Uma experiência junto à cultura indígena.

Quero através desta, partilhar um pouco com vocês irmãos /ãs, uma experiência que fiz junto com a Ir. Zuleica Belote, Missionária Agostiniana Recoleta, na aldeia Indígena Pataxó Hã Hã Hãe. A aldeia fica no município de Pau Brasil – Bahia, e tem várias localidades organizadas pelos próprios índios como, Caramuru, Milagrosa, Paraíso, Bom Jesus e Água Vermelha. Essas são áreas que foram reconquistadas com muitas lutas e derramamento de sangue depois da morte de Galdino Pataxó Hã Hã Hãe. Vale lembrar o assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo em Brasília, onde fora lutar pelos direitos do seu povo, a mais de 13 anos.  

Na aldeia visitamos algumas famílias, ouvindo as histórias, principalmente dos idosos, procurando sentir a profundidade da cultura, da vivência, a relação com a vida, com a natureza e com Tupã – Deus.

Ficamos na casa missionária que o Conselho Indígenista Missionário – CIMI tem na localidade de Caramuru. Caminhávamos o dia inteiro visitando as famílias indígenas. Os primeiros dias foram com chuva e lama, os outros foram com sol forte e poeira. Quando chegávamos às casas éramos bem recebidas, como se fossemos de casa, da família; eles ofereciam o melhor que possuíam; havia muita partilha, tanto das belezas da vida – suas lutas, sonhos, desejos, memória do sangue derramado, conquistas… quanto do alimento. Aquilo que tinham colocavam em comum, sem se preocupar se iria faltar no outro dia, sempre acreditando na providência de Tupã, como disse uma senhora Indígena: “Tupã nos deu hoje, ele nos dará amanhã”. Existe uma certeza, uma fé profunda na presença e bondade de Tupã = Deus. O povo, uma vez por semana, se reúne para a partilha da vida e celebração da Palavra de Deus, porém a presença do Sacerdote  acontece uma vez a cada mês, isso quando tem frete para ele se deslocar da paróquia, na cidade de Pau Brasil até as comunidades da área.

Apesar dos poucos dias ali vividos, pude presenciar as principais necessidades do povo. Uma delas, a mais preciosa e urgente é a água. As terras, nas mãos dos fazendeiros, sofreram desmatamentos e com isso os rios que ali existiam há anos, secaram e somente ficou alguns fios de água, por isso a grande necessidade de água. Nesta área, só existe água salgada e eles usam-na para cozinhar, lavar, tomar banho. Para beber, somente quando chove ou o carro pipa chega para as famílias.

Posso dizer que essa experiência ultrapassou minhas expectativas. Senti que minhas raízes estão aí, pois pertenço a esse povo e me sinto feliz por isso. Pude experimentar o grande amor de Deus para com os povos indígenas, dando-nos coragem de enfrentar os desafios do dia-a-dia, acolhendo como graça as conquistas, que com muito sangue e suor acontecem. Como disse Ir. Cleusa – Missionária Agostiniana Recoleta: “Como o índio sabe partilhar!” Eu tive a honra de experimentar isso. Não fiz nada na aldeia, a não ser estar, ouvir, sentir... Mas com certeza cresci.

Com isso agradeço a Tupã – Deus pela vida e luta dos povos Indígenas que nos ensinam cada dia mais perceber a grandiosidade do seu amor pela Humanidade.

Um abraço fraterno

Ir. Jocerlane Silveira dos Santos (Missionária Agostiniana Recoleta MAR)