Lendo o Brasil de Fato clique aqui para ler, sobre a defesa que o Subcomandante Marcos Todos Somos Marcos dos anarquistas, diante da critica recebida da esquerda “bem comportada” e de “moderninhos”, ambos ficam orbitando a luta de classes, orbitando por diversos motivos. Alguns buscam o poder do Estado, outros buscam legitimar-se pelos títulos acadêmicos. Há, inclusive filhos e filhas de industriários, latifundiários e até herdeiros da aristocracia, que ficam “brincando” de revolucionários, mas quero ver quando a pólvora entrar pelas narinas, se realmente vai se voltar contra seus pró-genitores ou se irão preservar a manutenção da propriedade da familia e coloco propriedade aqui como bem tratou Proudhon.

O texto de Marcos, me fez pensar muito e me ajudou a formular algumas coisas. Principalmente na relação entre indígenas e não-indígenas de boas intenções.
Eu afirmaria que é uma resposta ao PSTU, mas infelizmente, não cabe só ao PSTU, que muito tem errado em seus julgamentos de companheiros e companheiras que adotam a tática Black Bloc. Essa carapuça serve para milhares de “moderninhos” e esquerdistas “bem comportados”, pois almejam o poder, tanto quanto Lula, Fernando Henrique, Serra, Maluf, Alkimim, Hadad, Kassab, Cabral e os cambal.

 

Quantos e quantos chegam numa aldeia com o intuito de ensinar, com toda boa intenção do mundo. É agroecologia, é permacultura, é gestão territorial, é construções ecologicamente corretas, adobe, taipa, bambu, roupa e por aí vai. Até o socialismo tem gente indo ensinar para os povos indígenas.

 

Muitos que chegam para “ensinar” seus ismos, chegam com tanto ceitos, prés e cons que não conseguem escutar. Não nos escutam. Mas falam da forma que vivemos tanto na cidade, como no campo e na floresta, lugar que para estes bem intencionados, nós nunca deviamos ter saído, pois “lugar de índio é na floresta”. Mas qual floresta, “cara pálida”? Aquela que os seus destruíram? Nos criticam porque estamos nas cidades, mas não nos escutam para saber em qual contexto chegamos nas cidades ou em qual contextos as cidades chegaram onde nós estamos, dois exemplos que nos serve de fonte de aprendizado são os Guarani Mbyá da cidade de São Paulo e os Tuxá de Rodelas.

Os Guarani Mbyá vivem em duas minúsculas aldeias na zona noroeste de São Paulo, com privações de tudo, terra, saneamento, moradia adequada a sua cultura e a sua sobrevivência e inclusive liberdade. Não são livres para caçar, pois não tem onde caçar, não são livres para pescar, pois não tem peixe nos rios, não são livres para ir e vir, pois tem rodovia, ferrovia e uma cidade para atravessar. E há as duas aldeias no extremo sul da cidade, com outro contexto, porém com algumas semelhanças nas privações. Quantos olhares recebem dos bem intencionados, desde os “moderninhos” aos da “esquerda bem comportada”? Só mesmo os próprios Guarani Mbyá podem nos dizer.

 

Os Tuxá, vivem em contexto totalmente diferente das dos Guarani Mbyá, porém a cidade de Rodelas chegou até eles/elas, no sertão do extremo norte da Bahia, as margens do grandioso Opará. Moram numa aldeia construída pela usina hidrelétrica, que os expulsaram de sua taba de origem, alagando tudo com as aguas represadas. Para os preconceitos, se trata de um condomínio, como estas vilas que vemos em alguns bairros operários de São Paulo. Casas de alvenaria, bem acabadas, cada uma no seu quadrado. O que diriam esses bem intencionados lá? “Nossa, perderam a sua cultura”. Creio que isso deve ter acontecido com muitos que passaram por lá. Muitos desses que Marcos trata em seu texto. Que chegam com seus ismos e ceitos. Não conseguem aprender nada, pois chegam acabados e um ser acabado nada aprende, não é mesmo Paulo Freire?

Tive a felicidade de poder ir lá para conhecer os Tuxá de Rodelas. Conhecer e aprender que não é o contexto que nos faz. Que não é a violência extremada dos que só tem a ganancia para nos ensinar que vai nos tirar o que somos. E que ótimo que temos bem aqui do lado um povo chamado Mapuche, que nos ensinam muito sobre isso.

Nos primeiros segundos estranhei um pouco aquelas casas. Mas como nasci e cresci num contexto urbano, não tive nenhum ceito, nem pré nem con. E o que não me foi surpresa, vi toda a cultura Tuxá expressa no cotidiano daquela gente. Não importa se em sua totalidade, mais estava ali presente e nem tenho parâmetro suficiente para afirmar se foi ou não alterado sua cultura, pois juntando todas as vezes que estive com os Tuxá de Rodelas, não chega a 60 dias, prazo muito pouco para poder ter dimensão de uma cultura, ainda mais em relação a povos indígenas e ainda, os Tuxá não deixam que terceiros assistam a todas suas manifestações culturais. Então, nunca eu iria saber.

Tive outras experiências muito semelhante com os Nhandeva, Kaiowá e Terena do MS, Pankará e Pankararu do Pernambuco e aqui em São Paulo mais de 30 povos, que vivem em mesmo contexto que eu, mas cada com sua especificidade pertinente a sua origem étnica.

Com os Zapatistas muito aprendi e aprendi porque não sou um ser acabado, pois este é um dos requisitos para o aprendizado constante e permanente: ser inacabado, que escuta, que observa.

http://uniaocampocidadeefloresta.wordpress.com/2013/11/06/marcos-defende-anarquistas-e-critica-moderninhos-e-esquerda-bem-comportada/