Esse fato acabou desencadeou a relação do grupo com a cidade de São Paulo e sua localização na Favela Real Parque próxima ao Estádio. Hoje eles vivem em vários bairros na grande de São Paulo: Capão Redondo, Madalena, Osasco, Jd. Elba, Morato, Paraisópolis, Grajau, Jd. Das Palmas, Sonia Maria e Jd. Irene além da Favela Real Parque. Outros fatores como a falta de terra para todos e a seca do nordeste que impedem as colheitas, além da oferta de trabalho impeliram os Pankararu para São Paulo.
Arruti (1996) localiza em Julho do ano de 1994, como a época que os Pankararu que habitam a cidade de São Paulo começaram a ter visibilidade na imprensa. A Folha de São Paulo, passa a noticiar que existe uma comunidade indígena em pleno bairro do Morumbi, em São Paulo. Afirmava que os Pankararu haviam criado uma “rede de solidariedade” nas favelas de São Paulo formalizando uma entidade SOS ÌNDIO FAVELADO, que serviria para ajudar aqueles que chegam de sua área procurando trabalho e lugar para ficar em São Paulo. Informava também que o Pajé: Fernando Monteiro dos Santos, reunia seus parentes para rituais todas as semanas.
“Quando procuram emprego, os pancararus não constam que são indígenas para evitar discriminação. E a identidade cultural passa desapercebida. Os pancararus que vivem em São Paulo são mestiços – com peles branca ou preta”. ( Jornal Folha de São Paulo)
A mesma reportagem citada por Arruti traz depoimentos dos indígenas dizendo que prefeririam estar em sua área na terra natal, não fosse o desemprego e a falta de terras:
“ os pancararus são, oficialmente, donos de uma reserva em Pernambuco com 8100 há. Mas cerca de dois terços de suas terras estão ocupadas por 400 familias de trabalhadores rurais. Os invasores tem apoio da central Única dos Trabalhadores (CUT.PE) . “ há mais de 200 anos as famílias moram lá, diz Januário Moreira da Silva, Presidente do sindicato de Petrolândia… A violência na cidade já matou mais Pankararus do que o conflito de terra. Cinco já morreram na cidade, segundo Fernando Monteiro dos Santos (…) cerca de 1500 pancararus moram na cidade. Em 90, diz Santos, eram cerca de 150. A FUNAI (…) considera esses números exagerados, mas reconhece que uma comunidade de pancararus se instalou na cidade. Segundo a FUNAI, os Pancararus são os primeiros indígenas a migrarem em massa para São Paulo.
Segundo Arruti: “ A intensificação do fluxo de deslocamento de trabalhadores do campo, em especial do nordeste, para as cidades do sudeste a partir da década de 40, atingiu também os Pankararu. A maioria dos homens entre 50 e 70 anos, mas também muitas mulheres, tiveram experiências de trabalho em São Paulo. Esse trabalho se deu na maioria dos casos para os homens, nas equipes de desmatamento da Cia de Luz do Estado. Alguns “gatos”, como são chamados os agenciadores de mão-de-obra, iam buscá-los na própria aldeia, para entregá-los em lotes diretamente ao “empreiteiros” de obras civis e outras, criando um fluxo constante de pankararus nas décadas de 1950 e 1960 para aquela cidade. Em pouco tempo São Paulo tornaria-se uma referência para todo o grupo, que tem lá filhos e irmãos” (1996:189).
Cita Afrânio Garcia Júnior (1989) que tratando da vinda dos nordestinos para o sul embasaria também as relações que os Pankararu estabeleceram com a favela Real Parque, bairro de Morumbi, SP, onde Arruti considera teria ocorrido uma reterritorialização Pankararu. A partir de 1940 foi estabelecido um fluxo de homens que saiam da área indígena temporariamente, para trabalhar curtos períodos, sem se integrarem permanentemente à cidade, como forma de reequilibrarem o orçamento doméstico em ano de seca ou em situações emergências, voltando sempre que as necessidades imediatas já tivessem sido cobertas, ou quando se anunciasse um bom inverno”( Arruti 1996:189).
Após a noticia de assassinato de um jovem Pankararu de 20 anos em Julho de 1994,
“ a comunidade localizada na favela ganha visibilidade, emancipando-se do discurso das lideranças do Brejo, onde sempre apareciam como mais um dos argumentos justificadores da necessidade de mais terras. Destaca-se então um personagem que apresenta o primeiro pedido de providências a FUNAI, sobre a situação do grupo de Morumbi: Frederico.M.B, Pankararu de meia idade, residente em São Paulo, pedreiro de profissão e dono de uma micro-empresa de reparos e pinturas, dirige-se a FUNAI e, se dizendo sensibilizado pelas péssimas condições em que vivem os índios na favela e tentando corrigir uma situação pela qual também já sofreu, denuncia a situação de calamidade, de preconceito e de violência em que seus parentes vivem e exige que o órgão providencie “carteirinhas de índio”, para que possam provar sua identidade, com isso, terem acesso aos seus direitos. Além disso, Frederico também comunicava que o grupo estava formando a associação SOS Pankararu de São Paulo que tentava conseguir junto as empresas, doações em animais para criação e máquinas de costura”. (Arruti 1996: 190)
Atualmente eles vêm solicitando uma área de terra para viver em São Paulo. Cerca de 80 famílias que viviam na favela de Real Parque, no bairro do Morumbi, foram contempladas, no plano de desfavelização, com 80 apartamentos no Projeto Cingapura. Eles conseguiram que os apartamentos fossem concentrados em um único bloco mas, não estão se adaptando a esse modo de viver. Diante disso vêm fazendo inúmeras solicitações à FUNAI Brasília para que encaminhe juntamente com o Governo do Estado de São Paulo uma proposta de um território para eles naquele estado.
A Presidência da FUNAI decidiu criar um Grupo de trabalho Portaria 921/PRES de 04 .09.00 constituído por Moacir Santos, Técnico Indigenista, Juracilda Veiga , Antropóloga contratada pelo Convênio UNESCO/FUNAI e Paulo Spyer Resende, Agrônomo contratado pelo Convênio UNESCO/FUNAI com a finalidade de realizar um estudo “in loco” sobre a situação e expectativas dos Pankararu moradores em São Paulo com a “ finalidade de fornecer parâmetros/propostas à Presidência da FUNAI.
Gilvan:
Gilvan.pankararu@gmail.com