Nós temos porque ter orgulho

Nós temos porque ter orgulho de ser índios. Eu não tenho preconceito comigo de jeito nenhum, porque mantenho parte de meus costumes muito forte dentro de mim. Para mim, não faz dife-rença nenhuma as características físicas da pessoa, porque eu não sou culpado dos europeus terem invadido, de ter estuprado as índias. Nós temos que manter nossa tradição sempre forte para ter nosso respaldo, se a gente não luta pelo que é nosso, ninguém vai nos valorizar.

Aqui o índio fica sem saber de nada, sem saber de políticos, mas também sem saber de seus di-reitos, porque o índio sabendo de seus direitos abala qualquer político. Porque ele vai buscar seus direitos para beneficiar sua comunidade, atendendo seu povo para ter um futuro melhor.

Um dia, para ajudar minha família, fui para São Paulo. Cheguei no barraco de minha irmã, de tábuas, com esgoto do lado, entrei e fiquei triste. Com oito dias encontrei um serviço, tinha toda a documentação e fui trabalhar, passei dois meses doente, com o clima totalmente diferente e a poluição terrível. Fiquei um ano, conheci vários Pankararu que não conhecia e conheci outro tipo de sofrimento. Outra vez voltei para São Paulo para organizar os índios, para lutar por nossos direitos, para explicar que os índios desaldeados também têm direitos. Foi muita luta e muito conseguimos.

É na mata que o índio faz sua concentração e depois vem para dançar. Nós fumamos o Campiô (cachimbo) para honrar o Ar, os Mestres. Em fevereiro e março, temos a dança da cansanção. Eu incentivo os mais novos, as crianças, a conhecerem nossa cultura. Tudo é como a Natureza quer, como Deus fez a Natureza a gente não pode desfazer.

Temos que obedecer aquele Pai que deu tudo isso para nós.

Quando Deus fez a Natureza deixou os Tonás de Caruá para os Pankararu. Cada tribo tem seus costumes, somos todos muito diferentes, mas somos todos irmãos. Cada etnia tem sua tradição, agora quando juntos cantamos nossos Toantes os outros índios aos poucos começam a entender a nossa língua e logo todos cantamos num dialeto só.

Nós temos nossa concentração, nossos Encantados de Caruá. Nossos Encantados não vêem o não-índio diferente, qualquer uma pessoa pode chegar e pedir-lhes, se for para o bem, eles ensinam. Também temos alguns lugares onde não podemos levar o branco, como o Poró, mas ele pode tomar o Aluá (caldo de caju), o Decitá ou Garapa (caldo de cana ou água com açúcar). Nós recebemos muito bem a todo mundo, brincamos juntos, comemos juntos. Nós estamos firmes na nossa tradição. Temos várias danças diferentes, muitas que o branco nunca viu.

A Igreja Católica ainda hoje vem para nos forçar a mudar nossa cultura, quando deveria nos indenizar por tudo o que fez e continua fazendo.

Eu agradeço muito aos Tonás de Caruá, a Tupã, por estarmos com essa força de resgatar cada vez mais nossa tradição, isso é muito importante para os índios Pankararu. Nós que buscamos nossos costumes estamos crescendo juntos com os outros povos.