OLÍMPICO É (RE)EXISTIR À MAIS DE 500 ANOS DE Sem títuloOPRESSÃO!
NÃO NOS REPRESENTAM!
Crônica da triste alegórica abertura (05/08/2016) dos jogos olímpicos onde tentaram nos matar mais uma vez
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Por Casé Angatu
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a tocha deles conheço bem
é aquela que queimou
continua queimando
tabas,
galdinos,
matas,
bichos
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a nossa tocha
ilumina caminhos
esquenta o frio
nesta longa noite
demais de quinhentos anos
(Casé Angatu)
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No dia  05 de agosto de 2016, quando da abertura dos jogos olímpicos no Rio de Janeiro, realizei um teste …o de ânsia. Juro que foi difícil, mas assisti parte da terrível e alegórica abertura olímpica.
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Óbvio que era coisa pra “inglês vê” o quanto uma parte da população deste lugar que alguns chamam de Brasil gosta de se oferecer como uma mercadoria pitoresca. A imagem do Cristo Redentor (branco) na Baía da Guanabara combina com este triste espetáculo de entrega nacional. De braços abertos parece que ele diz aos que aqui chegam:
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venham de todos os lugares e explorem estas terras e sua gente…explorem a vontade porque assim também nos satisfazemos”.
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Sim… esta parte da “população olímpica nacional” representa algo: representa o quanto os mandatários do poder político e econômico possuem aliados entre os oprimidos em sua forma alegórica de opressão.
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Não … está parte da população não representa como um todo os Povos que habitam este lugar denominado de Brasil…para nós: Pindorama.
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Antes que esqueça: claro que Fora Temer! Claro que não ao golpe! Mas possuo memória. Questiono: muitos dos que vaiaram os golpistas atuais … aplaudiriam os que foram golpeados, caso fossem eles os  regentes da triste alegoria chamada abertura dos jogos olímpicos?
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Não esqueço a forma efusiva como o anúncio dos jogos no Brasil foi conclamado pelos antigos e golpeados donos do poder. Não posso esquecer que foram os governantes anteriores que gerenciaram a copa da exclusão. Na época dizíamos: “a única copa que conheço é a copa das árvores”. (Veja o Vídeo: “A Única copa que interessa é a copa das árvores” https://www.youtube.com/watch?v=Hv9DmM4X8J0 )
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Novamente questiono: muitos dos que lá estavam na abertura dos jogos olímpicos, vaiando os golpistas, aplaudiriam os mandatários golpeados caso fossem eles os gerentes da triste festa? Por isto quando nos oferecem espelhos como “jogos olímpicos” indígenas, pelo menos este coletivo de pensamento indígena do qual sou parte, falamos não. Não … vocês não representam os Povos deste país como um todo.
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São golpistas não só os atuais dono do poder e sim todos que comentem a 516 anos golpes profundos contra os Povos Indígenas e a Natureza. Depois nos apresentam ainda como alegorias.
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Na alegórica e triste abertura dos jogos olímpicos a natureza foi apresentada como algo a ser preservada. No entanto pergunto: e os Povos Originários não precisam ser defendidos? Assim como a natureza não resistiram e precisam ser preservados – não congelados, mas preservados em sua alteridade e dinâmica própria?
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Na triste alegórica abertura olímpica do dia 05/08/2016, manifestação do subconsciente da elite nacional que muitos populares acabam absolvendo, os Povos Indígenas foram instintos nos primeiros séculos após as invasões europeias. Os que possuem o poder não exercem seu domínio somente pela força; eles tentam incutir na cabeça de muitos “dominados” a dominação que: aceitam/reproduzem, reelaboram e/ou resistem.
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Na alegórica e triste abertura olímpica os Povos Indígenas foram lembrados de forma tão falsa como são estes representantes de uma pátria que a cada dia tenho certeza: não é minha. Os Originários apareceram no início junto com a mata e depois desapareceram na narrativa alegórica.
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Segundo um dos diretores da terrível e alegórica abertura dos jogos olímpicos, Fernando Meirelles, em entrevista ao Jornal da Globo após a abertura, nada do que eles fizeram “possuiu motivação política”. Juro que não estou sendo irônico e reproduzo o que ouvi.
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Lembrei do discurso falso dos que defendem o “projeto de escola sem política”. Falso porque mascaram a política e depois dizem que “não tem política”.
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Narrativa, a propósito, elogiada ao vivo por uma historiadora famosa em seu comentário junto à Rádio CBN – evito falar o nome por questão ética até porque também sou historiador, mas a cada dia sinto que este título não me faz sentido.
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Depois os Povos indígenas, como quase sempre acontece nos livros e narrativas “didáticas”, sumiram no primeiro capítulo da triste alegoria. Sumiram para dá vez a um país alegórico, “mistura das chamadas três raças”, onde a miséria é festejada como somente geradora de cultura.
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Sim … miséria que gera cultura, mas que também gera sofrimento, violência, criminalização e marginalização. TEM ÍNDIO SENDO MORTO, PRESO E DESPEJADO DE SUAS TERRAS NESTE PAÍS DE ALEGORIAS!
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Manifestação alegórica triste de um aceitável subconsciente de extermínio dos Povos Indígenas.
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Tentaram, mais uma vez, nos exterminar nas primeiras páginas da história deste lugar que muitos chamam de país. Novamente fomos extintos nas narrativas alegóricas de longa duração.
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No entanto, desta vez, dizemos: ainda bem porque não queremos fazer parte de suas tristes alegorias. Para vocês, donos do poder e seus alegres-tristes-alegóricos subordinados, não existimos mais – ou não deveríamos existir.
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Por isto Olímpica é nossa (re)existência de mais de cinco séculos. Nesta “longa noite” que dura mais de quinhentos anos somos a chama que importa.
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(Re)existimos e como a natureza retomaremos o que nos faz parte: a terra ancestral. Somos resistentes como a natureza porque somos a própria natureza.
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A tocha de vocês conheço bem

é aquela que queimou
continua queimando
tabas,
galdinos,
matas,
bichos
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a nossa tocha
ilumina caminhos
esquenta o frio
nesta longa noite
demais de quinhentos anos
(Casé Angatu)
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Sobre o Autor do Texto – Casé Angatu: Indígena e da Luta Indígena, morador no Território Indígena Tupinambá na Aldeia Gwarini Taba Atã. Historiador e Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC -Ilhéus/Bahia. O que está escrito neste texto reflete os sentimentos e pensamentos do autor e do coletivo de índios do qual sou parte.

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Sobre a imagem: Segunda nos informa Harley Leandro Coelho a imagem tema a seguinte referência: “Waimiri Atroari na BR174, em1985 (Foto de Egydio Schwade) !”
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VEJA O VÍDEO:
“A ÚNICA COPA QUE INTERESSA É A COPA DAS ÁRVORES”
https://www.youtube.com/watch?v=Hv9DmM4X8J0
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AWERÊ!