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O TAPAMENTO DA CASA DE TAIPA

Na tradição da solidariedade tribal dos índios Kariri-Xocó de Porto Real do Colégio, Estado de Alagoas, o mutirão sempre foi uma atividade marcante neste povo indígena. Uma das atividades tradicionais que marcava em outubro a dezembro era o “ Tapamento da Casa de Taipa “. O futuro noivo que pretendia casar com uma jovem da comunidade, chamava familiares para ir a floresta tirar a madeira da casa : esteios, caibros, varas, enchimento, forquilhas , embiras e cipós. O rapaz que pretendia casar escolhia o lugar de erguer a casa, logo começava a cavar os buracos para fincar as forquilhas no chão, para deixar a casa armada e coberta com sapé, estava terminado a primeira etapa da construção da casa. O noivo antes de casar convidava toda a comunidade tribal para a festa do “ Tapamento da Casa de Taipa “. Na frente do casa tinha o terreiro , um pátio limpo e amplo onde ia acontecer o evento, atrás ficava o barreiro buraco onde seria retirado o barro , as pessoas vinham chegando todos animados cantando rojões em duplas, cada uma desafiando os outros, para ver quem cantava mais alto, ou mais afinados. O dono da festa bancava as despesas da panelada, comida para todos presentes, tinha feijoada com carne de porco, miúdos de boi, e bebida a vontade , vinho de jenipapo. Homens que ficava no barreiro cavava o barro, as crianças carregava água da lagoa para aguar a argila, logo começavam a traçar até ficar no ponto. As duplas de cantadores entoavam cantos conhecidos , onde todos acompanhavam em coros : Oi oi minha terra da bandeira, oi oi minha terra bandeirar. Os cantos de mutirão (batalhão) eram muitos : “ Alagoana, Terra da Bandeira, Meu Bezerro, Meu Louro, Fulou da Tiririca, Semana Ê , etc. Homens, mulheres, crianças e velhos participavam do tapamento, carregando bolos de barro nas costas, lavando argila do barreiro para casa, outros ficavam tapando as paredes envaradas. Começavam a tapar as paredes de fora da casa, o dono do serviço servindo a bebida a vontade, homens do barreiro não parava de traçava o barro . Isso o Sol ia se pondo no horizonte, estava pronta a casa, com a participação da comunidade, cada um colocou o seu bolinho de barro, derramou seu suor, trabalhou, cantou e dançou, aquele lugar estar cheio de lembranças, nas paredes estar as marcas das mãos e dos dedos de quem estava ali. Continua a festa até umas horas, finalizando com a comida da panelada, todos começam a comer tripa de boi, mocotó , bofe, livro e ubre, carne, orelha e tromba de porco. Quando termina a festa o dono da casa agradece a todos os participantes, e ele promete quando tiver um “ Tapamento de Casa de Taipa “ ele vai trabalhar para a tradição continuar. Nhenety Kariri-Xocó Guardião da Tradição Oral.