Durante a presença das mesmas, aquela necessiadade notória de dar “o furo da notícia”, de pegar o momento certo do suposto-pretenso conflito físico entre indígenas e policiais e ou exército; de repente uma invasão no Ministério da Justiça, quebrar os vridros do prédio com bordunas… Nada disso aconteceu! E nem até o presente acampamento adotamos esse tipo de comportamento, e se Deus e os Encantos de Luz continuar permitindo, isso nunca acontecerá… Mas, o momento de grande fervor não teve o destaque que gostaríamos que tivesse. Nada agressivo para as lentes dos fotógrafos e câmeras ali presentes. Esse momento foi na quinta-feira (17.04), às 16:00 horas aproximadamente, quando iniciamos nossa passeata pelo Eixo Monumental até o Ministério da Defesa.
Jecinaldo Saterê-Maué, em cima do carro de som, conduzia a marcha bradando duras críticas ao Ministério e ao Coronel Heleno, inimigo público dos povos indígenas, por suas recentes declarações. O coronel Heleno, entretanto, não ouviu os desabafos. Neste momento, ele estava em algum lugar numa solenidade em homenagem ao Dia do Exército, onde, para variar, estava falando coisas despropositadas e sem nexo sobre demarcação de terras indígenas e/ou de como os indígenas ameaçam a segurança nacional. Certamente ainda nos rotulando de animais, selvagens ou preguiçosos…
Do Ministério da Defesa, a passeata segue pelo Eixo Monumental (detalhe: momento de absoluto pico do trânsito) em direção ao Ministério da Saúde e a FUNASA, para protestar contra a falência total e irrrestrita do modelo de saúde indígena implementado pele sistema e por conta da morte de centenas de crianças indígenas motivado pelo seu não atendimento do órgão competente. Como símbolos de protesto, um boneco que fazia alusão ao Ministro da Saúde (Temporão) e um caixão, que na tampa estava escrito: “FUNASA MATA POVOS INDÍGENAS”. Guerreiros com maracás, arcos e flechas colaboravam com os policiais que cuidavam de segurar o trânsito infernal que se formou, inclusive algumas provocações de alguns motoristas e pedestres. No Ministério da Saúde, Jecinaldo verbalizava toda revolta dos povos indígenas com os descasos do GF, e ali no caso, do Ministério da Saúde e FUNASA, onde foi queimado o boneco e deixado o caixão na sacada de entrada do prédio da FUNASA

De lá, a passeata seguiu para o Supremo Tribunal Federal (STF) no intuito de exigir agilidade no julgamento das terras indígenas sobre demarcação, homologação e desintrusão. Ao chegar diante da estátua que simboliza a justiça, que inclusive estava cercada por grades e seguranças, o jovem guerreiro Pedro Truká, do Povo Truká (sertão de Pernambuco), inesperadamente, passa pela segurança para subir na estátua e colocar um cocar sobre sua cabeça. Sem dúvida, um grande momento para nós indígenas que estávamos ali! Os seguranças (claro!) ameçaram pegar o garoto, mas ele foi bem mais rápido e pulou de volta. Um dos seguranças sobe e tira o cocar, e nós protestamos.

Neste momento, Jecinaldo pula para dentro das grades, sobe na estátua da justiça e comanda de lá nosso protesto, com frases repetidas por nós: “Raposa Serra do Sol: desintrusão já”!; “Fora os arrozeiros”!; Terrorismo nunca mais!” e algumas mais. Ele coloca uma cópia da Constituição Federal no colo da estátua da justiça e a gente sai de lá cantando “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro”, toante tradicional iniciado pelos indígenas do Nordeste.
Quer dizer, a população brasileira mais uma vez ficou sem o direito de ver pela mídia esta maravilha de mobilização e protesto tríplice. O Jornal Nacional noticiou apenas a fala profana do Coronel Heleno na solenidade do dia do Exército, com trechos da mesma se referindo diretamente aos povos indígenas. Depois, entrou ao vivo de Brasíla, um repórter dizendo que “os índios que estavam fazendo protesto em Brasília estavam reunidos com o Ministro do Supremo Gilmar Mendes para cobrar solução imediata na questão da demarcação de Terras Indígenas” e também que “o presidente Lula não gostou das declarações do Coronel Heleno e tinha convocado uma reunião de emergência no Palácio do Planalto”.
A imprensa jamais poderia mostrar nossas denúncias contra o Coronel Heleno, diante do Ministério no Dia do Exército. E nem o rebate feito pelo movimento de cada uma das violências que o Estado Brasileiro e os empresários do grande capital tem feito contra nós.
De repente, a intenção da classe dominante seja mesmo concluir o genocídio de todos os povos indígenas para nos fazer calar contra as arbitrariedades instituídas por eles, a exemplo o PAC, que nos agride de forma imensa e grosseira com projetos absurdos. A se ver o Projeto de Transposição do Rio São Francisco (NE), a construção das barragens no Rio Madeira (NO) e acima de tudo, ignoram completamente regras criadas por eles como a Constituição Federal que em seus artigos 231 e 232, nos assegura do direito a terra, água, saúde, educação, tradição e cultura.
Nesta terça, 22 de abril, “comemora-se” o “descobrimento do Brasil. Para nós indígenas é uma data marcante, não só pelo processo de invasão e domínio de nossas terras, mas o marco de quando nos deparamos como nosso maior inimigo: a raça humana, a raça do homem-branco.
E após 500 anos, nós ainda resistimos e resistiremos até o último índio!!

Cris Pankararu
juliaopankararu@yahoo.com.br