Hoje 25 de Janeiro de 2011 a cidade de São Paulo comemora seus 457 anos, para entendermos um pouco vamos recordar algumas datas marcantes desde a fundação da cidade até a chegada dos indígenas Pankararu neste Estado/Cidade.

1554 – Em 25 de janeiro, o padre Manoel de Paiva reza missa campal na frente do Real Colégio de Piratininga, marcando a fundação da cidade.

1556– Os jesuítas inauguram o conjunto formado por colégio, igreja e moradias destinadas à comunidade.

1580 – Fundação da Freguesia do Ó.

1616 – A Câmara da então Vila de São Paulo de Piratininga concede permissão ao bandeirante Amador Bueno da Ribeira para a construção de um moinho de trigo ao lado do Ribeirão Mandaqui, que dá origem ao bairro do Mandaqui.

1782 – O governador Francisco da Cunha Menezes concede sesmaria a Lázaro Rodrigues Piques, entre
o Ribeirão Ipiranga e a Estrada do Cursino. Dentro, o futuro bairro de Vila Mariana.

1815– São Paulo é elevada a capital da Província de São Paulo quando o Brasil é declarado Reino Unido ao de Portugal e Algarve.

1827 – Alemães se instalam no sertão de Santo Amaro e duas famílias descendentes, os Teizen e os Klein, se estabelecem no Capão Redondo.

1854 – Determina-se a construção de um cemitério municipal – o atual Cemitério da Consolação.

1872– São inaugurados os serviços de esgoto, abastecimento de água, iluminação a gás, além dos bondes de tração animal.

1875 – É inaugurada a Estação Barra Funda da Estrada de Ferro Sorocabana, que ajuda no desenvolvimento do bairro.

1886 – Com a inauguração da linha férrea ligando São Paulo a Santo Amaro, os bairros do Campo Belo e Brooklin começam a ser urbanizados.

1891 – Inauguração da Avenida Paulista.

1901 – Inaugurada a Estação Ferroviária da Luz, com projeto arquitetônico inspirado na Abadia de Westminster, de Londres, Inglaterra.

1911 – Cia. City começa a lotear a área de Alto de Pinheiros.

1913 – Começa o loteamento da região de Moema, até então área de grandes chácaras que receberam imigrantes ingleses e alemães.

1915 – As terras do Butantã são vendidas à Cia. City.

1922 – Realiza-se em São Paulo a Semana de Arte Moderna.

1925 – Forma-se a Coluna Prestes, reunião das revolucionárias Coluna Paulista e Coluna Rio-Grandense, com um efetivo inicial de 1.500 homens.

1926 – Começa o desenvolvimento da região de Ermelino Matarazzo, com a chegada da ferrovia e construção da estação ferroviária Comendador Ermelino Matarazzo.

1929 – Inaugurado o Edifício Martinelli, que durante anos seria símbolo da pujança paulistana.

1932 – Paulistas vão às armas em defesa de uma Constituição para o Brasil. Não por acaso a revolução ganhou o nome de Constitucionalista.

1933 – Inauguração do Mercado Central.

1934 – Criação da Universidade de São Paulo.

1935 – Começa a formação de Marsilac, com a construção do Ramal Mairinque-Santos da Estrada de Ferro Sorocabana.

1935 – O município de Santo Amaro é extinto e incorporado a São Paulo.

1947 – É criado o Museu de Arte de São Paulo (Masp), por iniciativa de Assis Chateaubriand.

1948 – Começa o loteamento do futuro povoamento do Morumbi.

1950 – A partir desta década alguns parentes indígenas Pankararu originários da Aldeia Brejos dos Padre que fica localizada entre três municípios Tacaratu, Petrolandia e Jatoba migraram para diversas cidades, inclusive para a Cidade de São Paulo em cima de caminhões de pau-de-arara. Em busca de uma vida melhor, já que estavam com grandes conflitos com os posseiros que invadiam suas terras, e também por conta das grandes secas que vinham castigando as terras de Pankararu. Nesta “aventura” desumana os parentes passaram por diversas dificuldades na viagem longa e cansativa, mais por estarem acompanhados como sempre pelas forças encantadas, obtiveram forças divinas para alcançar seus objetivos que era chegar vivo na cidade e contar com a sorte de conseguir algum emprego/trabalho.

Nesta ocasião os empregos/trabalhos eram disponíveis mais com a exploração da mão de obra braçal, ou seja, exploração da “força do homem”. Os patrões por saberem que eram de origem Nordestina não pensaram duas vezes, pois estavam ali homens de forças extraordinárias acostumados a trabalhar de baixo de sol. Um dos primeiros lugares que esse grupo dos Pankararu começou a trabalhar foi na fundação da construção do Estádio do Morumbi. Como em 1948 tivemos o loteamento do Morumbi dava se inicio a grandes construções de diversos casarões da elite burguesa, no entanto para os indígenas Pankararu era mais uma oportunidade de trabalho, com isso alguns parentes Pankararu resolveram procurar algum lugar para suas estadias, como nas proximidades tinha algumas Chácaras os parentes foram se acomodando em pequenos barracos nas proximidades das Chácaras. Uma delas bem conhecida era a Chácara do Espanhol, o qual tinha grandes plantações de mandioca e diversas plantações de fruta e verdura. Com o crescimento das obras os Pankararu foram trazendo mais parentes para trabalhar nas proximidades, com isso as acomodações pelas redondezas foram crescendo com a presença dos Pankararu e de diversos migrantes de outros estados do norte, nordeste, centro-oeste, sul e do próprio sudeste.

Com o grande crescimento da comunidade local ficou conhecido como a “Favela da Mandioca” (Real Parque). Com essa atitude de risco migratório que os Pankararu correm, fez com que até os dias de hoje alguns Pankararu continuam marcando presença forte na Favela do Real Parque próxima ao Estádio do Morumbi e em outros bairros como Paraisópolis, Capão Redondo, Madalena, Osasco, Jd. Elba, Morato, Grajau, Jd. Das Palmas, Sônia Maria, Jd. Irene e na Grande São Paulo.

O protagonismo dos Pankararu se deu em 1994, quando um Parente vulgo “Queixinho” foi assassinado na Favela do Real Parque quando saia de madrugada para ir trabalhar, segundo boatos na época o mesmo foi assassinado pelos vingadores/matadores por engano. A partir daí os Pankararu revoltados mostraram de fatos suas caras e protestaram com o descaso de negligencia da segurança publica para com o fato. Com isso fomos tendo mais visibilidade pela imprensa, como o Jornal A Folha de São Paulo que passou a noticiar na época que existe uma comunidade indígena em pleno bairro do Morumbi, em São Paulo.

Para fortalecer o movimento Pankararu foi se criado na época a Entidade SOS ÍNDIO FAVELADO, a palavra “favelado” é forte e chocante, mais nada nos abalariam a não ser a usurpação dos nossos direitos. Essa ong tinha o objetivo de auxiliar e acolher os parentes Pankararu que chegavam a São Paulo e também para o fortalecimento das tradições culturais. Mais ainda alguns parentes Pankararu mostrava resistência ao se identificar como indígena para evitar discriminação como algumas vezes éramos motivos de preconceito por realizarmo-nos nossos rituais dentro de nossas casas. Alguns vizinhos nos taxavam de realizadores de macumba, magia e etc, sem falar da visão que os não-indios (brancos) tinham da gente por não sermos os indígenas da época da invasão do Brasil em 1500 .

Com o passar do tempo a entidade SOS ÍNDIO FAVELADO passa a se chamar SOS Comunidade Indígena Pankararu, diminuindo assim o preconceito que a população tinha para com a gente em relação à palavra “favelado”. As lideranças da época foram de grande valia para que a FUNAI reconhecesse os Pankararu dentro da Cidade de São Paulo depois de bastante luta e até expediu documento de identidade indígena para os Pankararu, com isso, terem acesso aos seus direitos.

Depois as famílias Pankararu tiveram que sair de suas casa para ir morar em Alojamentos (habitação provisória) para desapropriar o terreno o qual a prefeitura construiu apartamentos do Projeto Cingapura , os quais abrigam até hoje famílias Pankararu. Ressaltamos que alojamentos que ainda existiam no ultimo dia 24 de Setembro de 2010, pegou fogo, deixando mais de 30 (trinta) famílias Pankararu só com a roupa do corpo.    https://indiosonline.net/a-bomba-relogio-imposta-pelos-governantes-ocasiona-no-incendio-no-real-parque/

Como eu disse bem anteriormente, somos seres protegidos por nossos encantados e eles nos dá força para não cairmos nunca. Todos que foram vitimas desta tragédia com o incêndio estão ainda reconstruindo suas vidas, e todos nós continuamos nos desafios da vida urbana sem deixar nossas tradições de lado, pois ela que nos dá força para continuar a luta.

Obrigado São Paulo por acolher os Povos Indígenas e em especialmente os indígenas Pankararu, os quais vimos demonstrando cada vez mais nossas forças no crescimento, pessoal, intelectual, comunitária e social, deixando em evidência que ser índio é ser gente, é ser cidadão, é ser-humano de direitos constitucionais. Podem tentar nos por para baixo na negligência do “homem”, mais sempre estaremos por cima por está sempre protegidos pelas forças encantadas. Independente onde estivermos, vamos está sempre colocando em pratica nossa cultura, pois já mais vamos deixar de lado nossas tradições.

Edcarlos (Carlinhos) – Pankararu        –         São Paulo/SP

edpankararu@hotmail.com