Nossos avós levantavam cedo, pegavam seus arquinhos e iam para o mato. Matavam um nambu, um preá, um tatu, viviam comendo batatas do mato, tipã, gravitaia, agisaia, salbu (fruta selvagem), mandaunhão, não trabalhavam que nem hoje. Ele vivia do mato, caçando seus inhames. Depois o branco tomou conta, desmatou a floresta, aí o índio não teve como viver mais. Eles foram tomando as terras do índio, dizendo assim: “Índio vamos trocar essa terra por uma cabeça de animal!”. Depois o branco pegava a terra e dava só a cabeça do animal, não era um animal inteiro, se aproveitava da fome para enganar e pouco a pouco ia tirando nossas terras.

Vou contar a história de meus filhos. Sou pai de nove filhos e nunca entrei no supermercado para comprar uma lata de leite. Eu fazia mingau de farinha de mandioca. Nunca um filho meu adoeceu. Vejo muitas famílias andarem com os meninos bem gordinhos, mas isso não é saúde não, ali é doença, porque aquele pessoal inchado, gordo, isso é doença, é comida drogada, que vem lá de fora. Bebia água no gravatá, na cabeça do prego, não bebia água filtrada, hoje em dia bebe água gelada e começa aquela tosse. Agora com isso do estudo vem doutor, enfermeira, hospital, o remédio.

Meu velho tinha sua chapiroca (espingarda) e matava aqueles mocó lá na serra, a gente botava no coco e sapecava ele e botava em uma vasilha, porque esse tempo de meu pai, de meu avô, era um tempo triste, de necessidades, hoje o pessoal está esquecendo de suas coisas, correndo atrás da comida do branco. Os costume da gente é a parte da Natureza que Deus deixou aqui na terra e nós não podemos trocar essa sabedoria pela sabedoria do branco. Não podemos só estudar e esquecer nossos costumes. O branco quer que a gente esqueça até o nome de Deus, porque nosso direito é levantar e dar benção ao pai e a mãe, isso para o pai lembrar o nome de Deus todo dia. O estudo trás bom dia pai, bom dia mãe e faz esquecer o nome de Deus.

Aqui na terra estamos todos juntos, com um Deus só. Nós temos que ser todos por um e um por todos. Nós temos que seguir um caminho. Estamos na beira do abismo, sem promessas para o futuro, muitas pessoas fazendo as coisas erradas, saindo do caminho. Nós temos que conversar, sentar juntos e combinar as coisas.

Sempre a gente ganhou as coisas na palestra, sem violência. O cacique ia guardando os papeis e quando o sofrimento era demais ele corria lá (Brasília) e cobrava o que foi prometido para a gente e quando diziam que não tinham falado isso ele tirava os papeis e mostrava.

Seu Gino