Na nossa luta, nós sempre tivemos

Na nossa luta, nós sempre tivemos a iniciativa do nosso ritual, que é a dança tradicional, cultural, religiosa do nosso povo. E nós, baseado nesse resgate da dança, do nosso ritual, nós começamos a idealizar de que o movimento indígena só iria para frente com o nosso ritual, a nossa dança, onde nós consideramos como um dos pontos mais fortes na nossa luta. Quando estamos tristes, nós dançamos para ficar alegre, se tivermos alegre, nós dançamos para comemorar nossa alegria.

E o ritual sempre foi para nós uma coisa importante. Os nossos troncos antepassados, jamais eles teria reconhecimento de uma festa, um forró, um samba, mas sim, o povo todo sempre comemorava aquela dança.

Também hoje nos temos o casamento que nós mesmo realiza através da nossa dança, através das pessoas responsáveis por esse ritual, que é o Nailton, Maria Muniz, Manezinho e os outros que faz parte dessa equipe de comemoração religiosa. Para fazer um casamento, o padre exige que aquele casal que vai se casar seria de maior, porque ele não podia fazer o casamento de menor. Isso nós considera um desrespeito à nossa cultura, nossa tradição em relação ao casamento, porque o índio casa cedo, até mesmo para evitar de que haja mistura mais do que já aconteceu nas nossas áreas, aqui na nossa área indígena.

Então a gente mesmo somos quem comemora esse casamento religioso e tradicional, considerado como casamento indígena.

Nesse casamento nós temos a oração, temos o incenso e o cachimbo que é para espantar o mal, naquele momento as fumaças incensadas, as fumaças cheirosas, com a resina do jatobá, com a resina da amesca, com o capim de aruanda, com o capim santo, com herva cidreira, entre outras raízes cheirosas que mistura para que seja incensado esse casamento e consagrado, considerado que essa fumaça levou todo o mal. A partir desse momento, nós desenvolvemos nossa oração e comemoramos com a dança, a dança do ritual. Após essa dança do ritual tem a falação de oração pela professora Maria Muniz, e tem a consagração do casamento por Nailton, que foi a pessoa escolhida para ser o orador dessa oração, o realizador desse casamento.

Nessa comemoração do casamento, nós temos também a bebida tradicional, que é uma bebida bem preparada. Ele tem sete apreparo. Nós temos o caldo da cana, que a cana é moída para tirar o caldo, nós temos a mandioca, que botamos para pubar no caldo da cana juntamente com mel de abelha. Isso vai para dentro de um pote e é enterrado por oito dias, e depois desses oito dias ele á arrancado, coado. E temos mais quatro apreparos, que isso é um segredo que nós temos guardado, que até então não fomos autorizados a divulgar esses apreparo que é guardado em segredo. Mas o que mais rende na bebida tradicional seria o caldo da cana, a mandioca e o mel de abelha.

Nós temos um aviso de que só podemos falar tudo em relação à preparação dessa bebida após um encontro de pajé que a gente estamos planejando aqui na nossa área.

Hoje os Pataxó-Hãhãhãe já ocupou aproximadamente quase 16 mil hectares de terra aqui na região, e a gente agradece, a maior parte, é a resistencia de todos, baseado no ritual. Sem o ritual a gente não consegue reagir, resistir a qualquer tipo de pressão.

Nailton Pataxó