Patrimônio Tuxá.

 

PATRIMÔNIO  TUXÁ

Vou contar uma história que diferentemente das outras não irá começar com o “Era uma vez” e para você saber o porquê basta acompanhar essa viagem com o seu coração, e juntos iremos descobrir a verdadeira essência do que é ser índio Tuxá. Você irá descobrir como viver feliz, cultivando o amor, respeitando o próximo como a si mesmo bem como a vivenciar as coisas do mundo com a força de Tupã.

Meus parentes indígenas ou não,

Como contar essa linda história sem

Está tomado pela emoção.

Sou do rio, ribeirinho sou Tuxá

E no Rio São Francisco do outro lado de lá

Encontrei o meu lugar a minha nação Proká

 

Rua Felipe Camarão, Ilha da Viúva vou recordar

Morada ao pé da serra que os caboclos

A índia bem pequenininha mandou chamar.

 

A nossa raiz está no Sorobabel, está na arte do rio

Enfrentando cachoeiras, descendo e subindo o rio

És ilha, alimento, paraíso, natureza, encanto e canto do rio.

 

Capitão João Gomes Apax Caramuru é raiz

Manuel de Souza é raiz

O pajé Armando Gomes dos Santos é raiz

Raul Valério é raiz

Manoel Novais é raiz

Manoel Eduardo Cruz “Bidú” é raiz

Vieira é raíz

 Os tuxá sabem quem são essas raízes

E por isso nossa árvore tem raiz.

 

Vivenciamos as frentes pastoris e missionárias

Nossa aldeia surgiu de um dessas missões

A São João Batista de Rodelas, onde diferentes povos

Deram origem ao povo Tuxá.

 

Karirí, Acará, karuru, Xucuru

E a nossa voz Procá calada pelo chegar

Curraleiros, colonizadores, latifundiários da Casa da Torre, religiosos

Todos passaram por cá e hoje marcas tristes ainda temos que curar.

 

Capitão Francisco Rodelas deu nome ao lugar

Sua bravura e coragem fizerem o povo prosperar

Avisa capitão o dilúvio está chegando

O destino desse povo agora está em pranto

 

Não vou falar desse fato agora

A vida antes era tão boa que não cabe a tristeza agora

Meu Cari, meu Piau, meu Surubim, minha batata doce.

Minha capivara, camaleão muitas caças

Acompanhadas de contos de diversão.

 

Hoje, com boa parte da fauna e flora destruída

Digo a você “Progresso”

Você, quase que acaba com a minha vida

 

Eu tinha a minha roça a minha cebola e fartura de montão

Tinha canoa, barco a motor, a vela e a remo

Avistava meu serrote encantado ao extremo

 

Na ilha tinha trabalho, as lendas, e visões

Meu canto tem o Velho Chico, tem o Serrote

Meu São João Batista, por favor, me acode

 

Protetor dos Tuxá, que faz da nossa cultura

A religião católica e a crença indígena se misturar

Oi cabocla do mato só vem folgar

 

O toré e a jurema chamam os encantados

E vamos todos regimá

Vou dançando com meu canto entoando

Meus antepassados escutam meu maracá

 

Levanta o espírito Tuxá, que a coragem e alegria há de chegar

É só pisar o Toré com força e animação, para receber a benção

E os males espantar

 

Minha árvore sagrada é a juremá

Com ela faço o meu ritual o “particular”.

Que é o ponto forte da ciência Tuxá.

 

O contato com o homem branco

Fez até a nossa igreja se descolar

Se antes era voltada para a nossa aldeia

Agora para os invasores ela está a olhar

 

 De protagonistas a coadjuvante da história local

Passamos a ficar, e até a minha morada eu a vi inundar

Nosso São João Batista continua a nos olhar

Acompanhando todas as mudanças

Enfrentadas pelos Tuxá.

 

Nossa cultura está cada vez mais forte

Da forma que o mundo está

Tentando nos iludir, mas sabemos ir e voltar

 

Não importa o meu rosto, minha roupa o meu cabelo

O que vale é ser para sempre um Tuxá guerreiro.

 

A inundação ocorreu em 1987

Tristeza, desolação e abandono

Tuxá, teve que enfrentar

 

Com lágrimas e sangue derramando.

E, no entanto, as águas da Barragem

 A nossa cultura não conseguiu inundar.

 

Hoje tem a divisão que nos causa frustração

Tem tuxá em Rodelas, Ibotirama, Banzaê e Inajá

A distância não importa quando sabemos lutar

Lutar por dias melhores e para a união reinar.

 

Depois de mais de 20 anos da mudança para um novo território

No início dificuldades tivemos que enfrentar

Mas para os Tuxá nada é impossível e pode o aterrorizar

 

Organizar a vida e se adaptar são feitos históricos

Que a sociedade deve olhar com outro olhar

Não ficamos civilizados nem educados da forma deles

Apenas aprendemos o que nos é necessário para não ser inferior a eles

 

Nesse mundo infestado de injustiças e violências sem fim

O meu “Patrimônio Tuxá” nunca irão destruir

 

Minha identidade e tradição

Que muitos como uma estaca no peito

Perderam a noção, que o melhor da vida

É ser e lutar pelo o que manda o coração.

 

Que bom que moramos juntos

Que bom que estamos na luta com os nossos parentes

Que bom que respeitamos o íntimo do ser humano

Que bom que temos os mais velhos sábios, de conhecimentos sem fim.

Que bom que na nossa aldeia tem mulheres guerreiras

Que bom que temos crianças e jovens apaixonados pela nossa cultura

 

Que bom que temos mostrado para o mundo que os Tuxá

Tem consciência que não há como mudar o início da história

Ou viver sem denunciar as mazelas sofridas pelos indígenas

 

Nós não podemos mudar o começo

Mas o que se tem visto é que os Tuxá estão construindo

Um novo fim…

De realizações, vitórias, sonhos reais, construção coletiva, parcerias, integridade, solidariedade, humanismo, sabedoria, conquistas, respeito e amor a causa Indígena e a nossa mãe terra.

Dessa forma nos podemos bater no peito e gritar!!! 

 “Somos Índios da Tribo Tuxá Nação Proká Pragaga do Arco e Flecha e Maracá Malacutinga Tuá Deus do Ar”.

 

 

Autor.

Jandair Ribeiro de Oliveira – Tuxá

Graduando de Pedagogia da UEFS.

Membro do Conselho de Desenvolvimento e Participação das Comunidades Negras e Indígenas de Feira de Santana-CONDECINI.

Secretário Geral do DCE/UEFS.

Membro do Núcleo dos Estudantes Indígenas Universitários da Bahia-NEIUB.

 

Jandair-Tuxá.

(75) 8862- 0417.