TAWNY

Nós índios Xucuru-Kariri estamos a muitos dias fora de nossa tribo, fazendo um trabalho de conscientização para crianças e adultos. Aqui neste trabalho tivemos a felicidade de conhecermos outros índios como os Kiriri, da Bahia,,os tumbalalá também da Bahia e uma índia truká, para mim foi uma experiência nova, muito satisfatória, fiquei muito feliz por conhecer meus parentes e também por ter falado as pessoas não índias a realidade do meu dia-dia como índia e como pessoa.

Apesar de estamos fazendo este trabalho no parque da cidade, onde existe uma mata aparentemente igual a minha reserva, sinto muita saudade da minha tribo.

ITABIRA

Ave Maria! Foi o melhor lugar ! Porque aqui a gente vai pra mata, anda um pouco, respira forte. Se a gente quer fumar a xanduca (cachimbo com fumo) da gente, entramos na mata, sentamos num pau e ficamos à vontade.

Se fosse numa casa, a gente sente o ar mais preso. Aqui no parque o ar é puro!

Adoro aqui quando está no silêncio, ficam só os pássaros cantando. Eles cantam mesmo. É lindo! Faz a gente feliz. Eu adoro, adoro, adoro, de coração.

Hoje mesmo, estou aqui pensando no meu povo que ta lá na aldeia. Mas eu to feliz porque sei que Deus está com eles.

Sobre as pessoas que chegam ao Parque, questionando se os índios que ali estão são de verdade…

ITABIRA

É o tipo da coisa que nós não gosta de dizer, mas eles nos forçam a gente dizer. Tem que mostrar. Digo que peguem no meu braço. É carne! Ou o que se vê aqui é uma estátua ?!

Este trabalho que tá aqui é tudo nosso. A gente é que fez.: colar, lança, arco, flecha, brinco, anel, a saia, cocar, tudo!

A gente traz o trabalho da gente, nossa cultura pra mostrar para o pessoal e ainda nos perguntam se somos índios.

A gente fica triste. Eu mesma fico triste. Não queria falar assim com as pessoas, mas somos obrigados.

Eles conhecem a cultura da gente e querem fazer de conta que não conhecem.

Sobre a frustração de alguns visitantes não encontrarem o índio nu, no parque…

DONA LINDAURA

(com tom irônico) ” Você vê fácil índio nu!”

ITABIRA (completa): ” Mas não aqui, na presença de crianças, que são inocentes. Nós não vamos servir de palhaço. Mas se estão a fim de ver índio nu, a gente vai pra dentro da mata e vai chamar uma meia dúzia de índio nu pra você ver! Ver se as pessoas acham diferente o corpo do índio do branco. Eu acho que é a mesma coisa, não tem diferença.

Itabira continua: ” Eu acho que nós, índios, tem o direito de andar que nem gente comum e com respeito. Tanto tratar os brancos com respeito quanto receber respeito. É isso que nós queremos. Nós queremos ser iguais. Nós não queremos nem ser mais nem ser menos.

Nós não queremos ser humilhados.

Nós somos seres iguais, em carne. Muitos têm o poder porque têm o dinheiro, têm a civilização, sabem falar e, têm leitura. Nós índios, não sabe conversar, não sabe explicar as coisas direito e não sabe andar na cidade grande. Nós não tem costume, fomos criados na mata.

No tempo dos mais velhos, a gente só vivia carregando água, no pote; não tinha costume de torneira e coisa de luxo. Quantos potes de barro que eu ia carregando e que quebrava e eu ia pra casa, pegar outro e buscava minha água?! E trazia pra casa e minha mãe cozinhando em fogão de lenha, fazia um foguinho com as pedras. A panela no fogo, cozinhava.

Hoje, a gente ainda têm o costume de carregar nossa lenha, nossos potes de barro… Tudo isso é costume diferente na cidade.

Aqui na cidade tem chuveiro. Não tem aquele sacrifício. A gente nasceu no sacrifício, na luta do dia-a-dia. Aqui nós tem medo. Eu fico meio tímida.

MAS TAMBÉM TÊM CHEGADO AO PARQUE PESSOAS MARAVILHOSAS E CARINHOSAS…

As outras são pessoas que não conhecem a história do índio.

As vezes a gente sente e só fica olhando. Às vezes, fico só calada, olhando, porque a gente sente.