Meu nome é Juliano

Meu nome é Juliano, nasci no dia 04 de janeiro de 1980. No nosso idioma me chamo YANDÉ. Sou um jovem que luta pelos direitos da minha mãe terra.

Eu me lembro muito quando eu tinha seis anos; eu via o sofrimento do meu pai. Ele saía de casa, passava três dias sem voltar. A gente ficava sem saber o que tinha acontecido com ele. Quando ele voltava e mexia o prato e pegava a primeira mão cheia de brozocoxó (feijão) na boca, chegava a notícia: “Os posseiros já vem ali, vamos!”, meu pai largava a comida e não tinha mais vontade de comer e também não dava mais tempo.

Assim ele voltava e passava mais três dias…

A gente naquela mesma preocupação, não sabia o que estava acontecendo. Ele retornava para casa e nós botávamos comida e ele comia só até o meio. “Vamos, vamos, os posseiros já vêm de novo!” E nós naquele sofrimento…

Um dia meu pai chegou para comer e nesse dia ele não teve nem tempo de mexer a comida.

Eu estava sentado em cima de um galho de pau e senti por dentro de mim mesmo. E pensei, do fundo do meu coração: “Creio em Deus, meu Pai Tupã, que é todo poderoso e criador do céu e da terra, que quando eu crescer eu vou lutar pela minha querida mãe terra”.

Dos 13 aos 14 anos comecei a acompanhar as lutas junto do meu pai e dos outros índios. Nós jovens nos juntamos todos para discutir o que nós íamos fazer para ajudar os nossos pais.

Pensamos primeiro: “Vamos resgatar a nossa cultura e tradição, que é a defesa do nosso corpo”. Assim, decidimos e tudo ficou bem claro.

Nós todos sentíamos dentro do coração que eles já tinham sofrido muito e a gente não queria mais isso.

As armas que a gente usava para nos defender dos posseiros eram: ticirindezé (arco), buigu (flecha), lança, puncô (machado), crenhenhê (foice) yanê (amolada), praticó (estilingue), dobe (bogó/bolsa).

Um dia meu pai chegou pra mim e disse: “Meu filho, estou muito feliz por você estar lutando pelos direitos da nossa mãe terra, que nos dá tudo. A gente planta o brozocoxó, o maru (milho), a maniba (mandioca)”. Da manioca (mandioca) se faz o toié (sussu/farinha) e o areró (beiju) para a gente se alimentar.

Assim continuou a nossa luta…

Hoje, graças ao nosso Pai Tupã, estamos com a nossa reserva limpa, sem nenhum posseiro; só os índios Kiriri. É dia e noite, na chuva e no sol, para nós é uma felicidade poder usar a nossa cultura, sem ter medo de ninguém. Andar na floresta, correr pela mata, buscar as medicinas do mato, caçar, é muito bom para a gente.

Por isso peço para meus irmãos, e pelo amor de Deus, que segurem sua tradição, não deixem sua cultura de lado, que sintam orgulho de ser índio! Levante-se e diga que é índio e que vai lutar pela mãe terra.

Acordar bem cedo, na sua oca, ouvir o canto e conversar com os pássaros é muito importante para nós. Com aquilo, você já se sente muito feliz e animado, bota o seu pé no chão e diz:

“Miredetemó dizé padizú rurá dizé!”

Assim você já está defendendo seu corpo, pedindo a Deus pÂ’ra livrar das coisas ruins e que nos dê um bom dia.