Fez-se necessário levantar o questionamento em relação ao território indígena Raposa Serra do Sol, para percebermos o quanto nosso território está impregnado de invasores, usurpadores e assassinos. Em pleno século XXI, a nossa Pindorama, está cheia de colonizadores, que se auto denominam brasileiros.

É inacreditável, ouvir desses homens ditos “civilizados”, que essas terras são deles, ou que compraram, e pagaram por elas, que possuem títulos e registros dessas terras. E, que os indígenas possuem muita terra, questionam para que o “índio” precisa de terra, etc. Ou, dizem, que há muito deixamos de ser nômades, e passamos a ser sedentários como eles, ou seja, preguiçosos como eles, porque é assim que vemos o sedentarismo, típico do preguiçoso. Quando hoje, não podemos exercer nossa cultura e tradição, são impedimentos, que os senhores determinaram, confinando-nos dentro de campus de concentração de guerra “reserva indígena”, ou vocês desejam omitir, esconder, que deflagraram uma guerra injusta contra nós, onde o poder de fogo, de armamento bélico trazido pelos invasores, e que até hoje, ainda se usa contra nosso povo covardemente.

Como a mente humana, se transforma em depósito asqueroso, quando determinado assunto lhes convém. Esquece-se, que nós autóctones desse território não detínhamos a escrita, e sim ágrafos, portanto uma sociedade oralista, riquíssima em sabedoria, não precisávamos de forma de governo, que serve para promover a corrupção. Portanto para nós, basta nossa presença para legitimar o que é nosso por direito.

Difícil para nós povos indígenas, ouvi dessas pessoas, que hoje povoam nosso território, herdeiros de uma herança maldita, que só trouxeram-nos sofrimento. Mataram milhões de indivíduos, desestruturaram nossas famílias, estupraram nossas mulheres, saquearam e atearam fogo em nossas casas, violaram nosso solo sagrado, escravizaram-nos, etc. Emitirem, qualquer juízo de valor em relação ao nosso Povo. Quem são eles para determinarem quem verdadeiramente somos, e quais os nossos direitos, se quando aqui eles chegaram, nós já existíamos. Não reconhecemos essas pessoas, que se sentem pseudos-europeus, que fazem questão de dizer que são filhos, netos, bisnetos, etc., de imigrantes. Aqui eles não passam de intrujões, que receberam objetos furtados para comercializá-los.

O outro lá, um ministro, em reportagem chegou a dizer, que assim deveria entregar a cidade maravilhosa dele, o Rio de Janeiro. Sim, e daí, deveria entregar sim, sabe quantos dos nossos foram mortos para reerguerem essa chamada “Cidade Maravilhosa”, quanto sangue de inocentes foram derramados e banhou esse solo, onde hoje, se sentem donos, e esquecem do sofrimento que foi causado aos verdadeiros donos.

Indígenas, acorde, o momento é de união, é preciso um esforço de todos nós, deixarmos de lado às muletas que foram criadas, e que se dizem nos sustentar, essas muletas, não são totalmente confiáveis, não sabemos para qual lado ela deve quebrar, se o tombo para nós é maior que o tombo deles.

Não estamos aqui para nos tornarmos capitalistas, ou estamos? O que desejamos é manter viva nossa cultura e tradição, é continuarmos sendo diferentes, porque iguais a eles, nós já sabemos o que são capazes, destroem tudo e todos. Enfim, destroem a si mesmos.

São 508 anos de resistência, não seria agora o momento de nos enfraquecermos. Basta lembrarmos dos nossos antepassados, que derramaram seu sangue lutando para manter nossa cultura, e tradição. Não existe legado mais importante, que se tenha conhecimento, deixado por um outro grupo que não sejam os povos autóctones, os povos das florestas. A harmonia com a Mãe Natureza; o consumo consciente; o amor ao próximo; o respeito; a união; o coletivo; a partilha; a sabedoria; a essência.

NÓS SIM, SOMOS SERES HUMANOS, SOMOS ORIGINÁRIOS DESSE TERRITÓRIO, PORTANTO INDÍGENAS, AUTÓCTONES. “INDÍOS” SÃO ELES, QUE VIERAM NÃO SABEMOS DE ONDE!

Yakuy Tupinambá
yakuy@indiosonline.org.br