Feche os olhos, sinta o vento, olhe para as plantas e para o topo das árvores. Escuta a melodia dos pássaros, sinta o maracá das palavras que não são escritas porem tocadas na sintonia do coração. Cada som é como um espírito solto na terra emanando uma determinada energia, cada vogal e consoante é um canto de invocação.
A transmissão oral dos saberes não é por acaso, todo tamuya (tupinambá) e pajé sabe a força da oralidade. O som do canto do maracá é sagrado, ao abrir as portas da percepção transita em outros mundos e os espíritos caminham diante da diversidade. O som pode ser direcionado aos centros de força do corpo, pode trazer cura para enfermidades físicas e espirituais porem também doenças.
A melodia oculta no vento, espaço, tempo e pensamento é transcendental, habita não apenas nas profundezas do ser. Tocar o maracá através das palavras faladas é buscar mergulhar nas profundezas do eu, resgatando elementos sagrados.
É preciso encontrar a verdadeira essência, a fonte das raízes, ela não possui vestimenta, cor ou forma definida, ela é o sopro que dá origem a toda forma de vida.Sua suave dança nasce criando, morre e renasce, atravessando ciclos mutáveis.
Caminha na terra, toca com teus pés as areias da terra, sinta os grãos, eles fazem parte de quem você é. Não abandones tuas partes no mundo, esteja nelas sem possuí-las, seja elas e ao mesmo tempo esteja no vazio tendo um universo dentro de você. É no vazio que se encontram todas as coisas, onde tudo está contido e nada separado.
O vazio purifica o coração, limpa a mente e expulsa a doença.Não deixes as turbulências e tempestades impedirem a fluidez do rio, porque o rio precisa ir sempre ao encontro do oceano.
Sinta o sopro, respire o ar que movimenta, conecta, desperta, liga e une. Encoste a palma das mãos, uma na outra e produza o fogo, a chama que aquece o corpo, que dá força ao sangue produzindo energia, que queima para limpar e renovar.
Mergulha no rio, escuta a fala da água, aprenda a se comunicar com ela, sinta o toque da água atravessar seu espirito, se movimente seguindo o curso da correnteza e toque com a palma das mãos o fundo do rio.
Renata Machado (Aracy Tupinambá)
23/08/2009