Manifestações indígenas contra a Funai (Fundação Nacional do Índio) são cada vez mais frequentes em Dourados. Os índios protestam para reivindicar melhor atendimento tanto no próprio órgão quanto em relação a suas ações nas aldeias. A manifestação mais recente começou no fim de janeiro e até o fechamento desta edição ainda não tinha terminado, depois de mais de 20 dias de seu início. Buscavam-se mudanças administrativas: os indígenas exigiam que a presidente Margarida Nicoletti deixasse o cargo, que deve ser ocupado por um indígena, conforme os manifestantes.

Eles defendem que não se trata de substituir a atual administradora por um indígena simplesmente por substituir, mas sim na esperança de que um indígena, como conhecedor das necessidades de seus “parentes” possa olhar para toda comunidade sem distinção e não privilegiar um grupo de pessoas usando como principal critério a diferença étnica, pois a Funai adota o discurso de que os Terenas não tem legitimidade de liderança em Dourados.

Essa posição acaba por incitar o preconceito entre os próprios indígenas, além de que é absurdo querer afirmar uma pureza étnica na Reserva indígena de Dourados. “A Funai esta aí para apoiar o índio e não fazer por nós. Quem sabe o que é bom ou ruim para mim sou eu e não a Funai. Coitado de quem é Terena nesta aldeia, porque é sempre deixado de lado e aqui ninguém hoje em dia é ‘puro’. Talvez meus avós foram. Eu, por exemplo, sou filho de pai Terena e de mãe Guarani, somos todos misturados, hoje em dia até com não índios”, desabafa o indígena Dantes Martins, técnico de manutenção de computadores.

“Sou favorável à participação indígena em todos os assuntos que os envolvam. Quando à presidência da Funai, não importa se seja um índio ou um não-índio administrando o órgão, mas que seja uma pessoa imparcial técnica e politicamente”, pondera o antropólogo Levi Marques Pereira, professor da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).

A comunidade indígena espera que esse impasse se resolva o quanto antes. Embora os manifestantes neguem que estejam impedindo o funcionamento da Funai, por conta dessa manifestação a cesta básica que devia ter sido distribuída na Reserva Indígena de Dourados no dia 12 de fevereiro ainda não havia sido entregue até o fechamento desta edição.

ass:Nilcimar Morales,kened Moraes