A idéia surgiu a partir do crescimento da comunidade Indígena Pataxó Hã hã hãe. A primeira retomada aconteceu no ano de 1982 (recuperação de parte das terras em posse dos fazendeiros), na fazenda São Lucas, hoje denominada Aldeia Caramuru. Desde essa época, é que nós, indígenas, tentamos recuperar o nosso território, que foi usurpado pelos latifundiários, com apoio do SPI (Serviço de Proteção ao Índio). Quem deveria proteger, acabou dando as nossas terras a esses fazendeiros.
Até o ano de 1996, todas as retomadas feitas por nós Pataxós Hã hã hãe éramos expulsos de forma violenta pela a polícia militar do Bahia, ao seja, as retomadas sem sucesso.
No ano de 1997, uma comissão de Lideranças Pataxó Hã hã hãe foi a Brasília-DF, a fim de apressar o julgamento de nosso território que até hoje tramita no STF(Supremo Tribunal Federal) desde o ano de 1982, há 30 anos.
Chegando a Brasília, 05 jovens de classe média alta queimaram vivo o nosso parente, o índio Galdino de Jesus. Essa barbárie ficou conhecida no mundo todo.
A FUNAI, na época, quis esconder o caso, mais as ONGs deu visibilidade a noticia para a sociedade. Trazendo o parente morto para sepultar em nossa aldeia. Após o sepultamento, nós, índios resolvemos honrar a morte do parente e partimos para as retomadas, aonde de início conseguimos ocupar 05 fazendas próximas da primeira área retomada São Lucas, no Caramuru.
No ano de 1999, retomamos mais 14 fazendas, em seguida no ano de 2001 avançamos mais em 40 fazendas, totalizando umas 18 mil hectare de terra. É bom lembrar que a morte de nosso parente Galdino não ficou em vão, ela impulsionou a lutarmos por aquilo que é legitimamente nosso: a terra. Esse período foi terrível, pois a violência contra a nossa comunidade tinha aumentado bastante. Começou, aí, uma sequência de assassinatos de nossos parentes até o ano de 2003. Foi quando resolvemos nos mobilizar, lançando a campanha “Índios quer Paz, através da ONG Thydewá. Esse movimento foi marcante, pois conseguimos reunir mais de 6000 mil pessoas nas ruas de Pau Brasil, com participações de autoridades do município de Pau Brasil, Itajú do Colonia e Camacan, porque nessa época os civis também estavam sendo prejudicados pelos pistoleiros contratados pelos fazendeiros. Esses pistoleiros não ficavam somente nas sedes das fazendas, onde executavam os serviços sórdidos, mas eles saíam à noite para a zona urbana e lá matavam pessoas inocentes. As pessoas não queriam transitar nas ruas, visto que sentiam medo desses pistoleiros. Foram queimados e apedrejados 03 veículos escolares de alunos indígenas.
Além disso, os fazendeiros pregavam que nós, indígenas, éramos uma ameaça ao desenvolvimento econômico dos municípios de Pau Brasil, Itaju do Colônia e Camacan, caso nós retomássemos todo o território. O caos se instaurou, tendo em vista que a população se sentia insegura, acreditando que saindo dos municípios citados anteriormente seria a melhor solução, crendo que tudo ia se acabar.
Só que aconteceu o contrário do que diziam os fazendeiros a nosso respeito.
Hoje conquistamos os comerciantes locais. Na época dos fazendeiros, as rendas adquiridas nessas terras eram todas levadas para fora dos municípios citados, pois os mesmos investiam seus gastos nas grandes metrópoles, ao contrário dos índios cujas rendas adquiridas foram e são gastas em Pau Brasil, Itaju do Colônia e Camacan, melhorando, assim, a vida em conjunto com todos os habitantes dessas cidades, sinalizando, dessa forma, o desenvolvimento nos comércios locais.
Vale ressaltar também que fazendas, onde os fazendeiros mantinham 01 ou 02 funcionários para cuidar de suas supostas propriedades, atualmente, as mesmas são ocupadas por 20 ou mais famílias.
O filme nos mostra ao mesmo tempo imagens e depoimentos de indigenistas, lideranças indígenas, comerciantes, executivos dos municípios… esclarecendo que depois que os índios avançaram na sua terra de direito, Pau Brasil, Itaju do Colônia e Camacan melhoraram a economia, é visível o progresso dessas cidades, ao contrario dos fazendeiros, os quais só usufruíram da terra e investiram nas grandes metrópoles, deixando assim o município mais pobres. Isso é uma prova que desmistifica o rótulo que criaram, ou seja, “os índios são preguiçosos, cachaceiros, atrasam o desenvolvimento…”.
Aos poucos, os nossos povos vão crescendo junto com todos os munícipes.
A terra, (as 54 MIL,  105), retornará toda para a nossa posse. Pois essa luta é justa e não vamos abrir mão dela. Eis o porquê do filme TUDO OK- OS ÍNDIOS PATAXÓ HÃHÃHÃE E O DESENVOLVIMENTO RURAL.