JOEL BRAZ FALA AO MUNDO.
Nós Ficamos sabendo o que ocorreu em 1951 contado pelos mais velhos. Da humilhação, torturas e mortes praticadas contra o nosso povo. E aquilo me machucou bastante. Tudo isso que aconteceu com o nosso povo foi um dos elementos que fortaleceu o meu espírito para eu entrar na luta. Pois é preciso que tenha alguém de coragem para lutar e revelar o ocorrido. Depois de tudo que aconteceu em 51 ninguém foi punido. Aí os índios se espalharam por todos os cantos.
Muitos fugiram e saíram da aldeia para nunca mais voltar. Os que fugiram para Caravelas, Salvador, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Depois de muito tempo alguns parentes voltaram e começaram a reavivar a aldeia Barra Velha (município de Porto Seguro)
Passamos nove anos, em 1960, foi criado o Parque Nacional do Monte Pascoal. Aí foi que a coisa piorou para os índios. Porque os parentes não podiam ir mais ao mangue pegar caranguejos ou qualquer outro tipo de marisco. Caçar nem pensar. Até piaçava era proibido. Tínhamos que tirar a piaçava de noite e ir vender de madrugada em Caraiva. E vivemos nessa situação por muitos anos. Os índios viveram muitos anos sofrendo essa repressão do IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) Sem poder pegar frutas, sem poder caçar, sem poder pescar. Na verdade, não podia fazer nada. Aí chegou Tururim que viajava bastante para Brasília reivindicando os nossos direitos, com o apóio de seu Mário, da aldeia Corumbauzinho, Vilsão de Deli e meu tio Alfredo, e de muitos indígenas que vendiam o que tinham para apoiar o movimento de cobrar do governo o reconhecimento de nossa área. Essa luta era antiga, mas só veio transparecer, em 1977, com Maria do Rosário, que estava estagiando para ser antropóloga. Foi em 1978 que saiu a portaria para o estudo de nossa terra e a gente indicou Maria do Rosário como antropóloga (UFBA) e membro da ANAI para fazer o trabalho. Em 1980, saiu a demarcação dos limites dessa tira de terra aqui. Que mede mais ou menos um quilômetro de largura e 30 de cumprimento, daqui até a praia de Barra Velha que são os 8.622 hectares. Foi aí que começou a melhorar um pouco para o nosso povo. Porque a partir dessa demarcação começaram a surgir novas aldeias. Foi criada a aldeia Meio da Mata, onde eu hoje convivo. Foi criada a aldeia Boca da Mata, bem próximo daqui a aldeia Cassiana. Os parentes começaram a se espalhar e a criar outras aldeias. A Aldeia Corumbauzinho começou a crescer e a se desenvolver. Os parentes foram se espalhados por todos os cantos. A aldeia Imbiriba cresceu.
Mata medonha, que tinha uma ou duas famílias, recebeu mais parentes. Um grupo foi para a beira da pista, que é a aldeia Guaxuma hoje. Ficou um grupo na beira da pista por 15 anos e depois criamos a aldeia Trevo do Parque, onde eu morei por dois anos. O nosso povo cresceu extraordinariamente, daí comecei a dialogar com os mais velhos sobre nosso território. Foram muitos anos de conversas entre as comunidades envolvidas sobre o que fazer para podermos assentar todos os nossos parentes, pois as terras que tínhamos já estavam limitadas demais.

Joel Braz um dos Coordenadores da FRENTE DE RESISTÊNCIA E LUTA PATAXÓ, e um Marco na História do povo pataxó. tem lutado arduamente para que o direito dos povos indígenas seja garantido.

este texto pode ser encontrado na íntegra no livro INDIO NA VISÃO DO ÍNDIO (PATAXÓ DO PRADO).

gilbertopataxo.indiosonline@gmail.com