Realmente, grande parte da humanidade não sabe o que diz, a falta de conhecimento alastrou-se como a pior das ervas daninhas. O homem deixou o SER, afastou-se de si mesmo em busca da fantasia luxuosa do TER. São poucos os Povos que ainda lutam para preservar sua verdadeira identidade, sua história cultural.
Lamentavelmente, nós indígenas somos alvos constante por parte dessa gama de pessoas, que desconhecem a si mesmos. E, só ouvimos falar de racismo entre brancos e negros, e como chamamos o tratamento que recebemos por parte de alguns brancos e negros?
SER indígena não é somente, ter o estereotipo é um valor intrínseco que permanece distante do convencional, está contido no nosso âmago, que vem sendo passado de geração em geração, apesar de todas às práticas de genocídio, etnocídio, e miscigenação que sofremos ao longo de 508 anos. Estamos no nosso território original, nossas raízes estão fincadas nesse solo sagrado, nossa verdadeira história é vivida aqui.
Somos um povo essencialmente livre que mesmo tendo habitado pioneiramente esse espaço geográfico não nos torna mais donos que ninguém, pois todos indistintamente somos mero passageiros deste espaço-tempo. Mas de forma alguma abrimos mão de cuidar dela, de viver e de ser digno de pertencer uma nação com todos os seus direitos e deveres constitucionalizados.
Nós indígenas do Nordeste brasileiro somos alijados frequentemente por indivíduos descaracterizados da sua própria razão.
Cultura é Vida, é o próprio conhecimento de si mesmo, e do ambiente que nos cerca. Quando nós indígenas expressamos nossa cultura através da dança, da vestimenta, dos adornos, da pintura corporal, não estamos querendo chamar atenção, muito menos querendo lançar moda, ou torna-los produto mercadológico. Nossas armas é a nossa defesa, nossa roupa o nosso escudo de proteção, nossos adornos são a verdadeira expressão da harmonia que cultivamos com a Mãe Natureza, a fim de ficarmos tão belos quanto e, nos tornarmos único, nossa pintura é a expressão dos nossos sentimentos para com o todo.
Os enfrentamentos, que nós indígenas estamos passando dentro das Universidades, onde estamos buscando a educação formal pautada na cultura ocidental a fim de adquirirmos ferramentas capazes de proporcionar uma luta mais igualitária, demonstram o óbvio, que educação, seja ela em qual nível, jamais significará que o indivíduo conhecedor dos saberes científico seja de fato possuidor de cultura. Talvez, isso explique a falta de consciência existente, porque CULTURA não se aprende, convivemos desde o nascimento.
Recentemente, um “afro descendente universitário baiano”, e integrante do Movimento Negro Unificado (MNU), criticou a forma como nos vestimos, segundo ele, no Nordeste não existe indígena, e sim oportunistas, e quando estamos usando algo que nos identifica, é porque estamos querendo chamar atenção. Infelizmente, ele não é o único a pensar dessa forma. Que falta faz, conhecer a verdadeira história do Brasil.
Perguntamos: quando um negro brasileiro usa torço, adornos e vestuário afro; o branco pinta os cabelos; o cigano se veste como tal; o japonês usa seu tamanquinho milenar – e muitas outras expressões culturais existente neste laboratório humano chamado de Brasil – será que estão querendo chamar atenção, ou são oportunistas?
Lamentavelmente, isto ainda é o retrato do Brasil contemporâneo, onde não existe respeito à individualidade de cada um, muito menos das diferenças existentes.
Racismo é burrice!

Raices de América – Fruto do Suor
Composição: Tony Osanah / Enrique Bergen

A terra nova era um paraíso,
o milho alto e os rios puros.
Dormia o ouro a cobiça ausente,
era o índio senhor do continente.
Foram chegando os conquistadores,
os africanos e os aventureiros.
O índio altivo se mesclou ao escravo:
nascia um novo tipo americano.
O interesse fabricou carimbos.
O ódio à toa levantou paredes.
A baioneta desenhou fronteiras.
A estupidez nos separou em bandeiras…

Yakuy Tupinambá (Irmã do Mundo)
yakuy@indiosonline.org.br