Uma das questões atuais que devem ser analisadas pelos órgãos responsáveis pela assistência, organização, articulação e interlocução com as comunidades indígenas, especificamente do Nordeste, é sem sombras de dúvidas o fator “hierarquia” que envolve questões de “poder”, ou seja, qual é o limite de decisão e intervenção de um(a) cacique ou liderança que faz parte de uma comunidade fragmentada e confusa?Até que ponto o Estado que não está acompanhando a dinâmica de vida e a organização de cada grupo de forma intensiva pode intervir de forma direta nas questões internas inerentes a cada povo? Que tipo de política pode assegurar que determinado grupo que se desmembrou politicamente dos ideais dos seus lideres e resolveu seguir outra linha de atuação, não sofrerá perseguição desse grupo? Essas e outras questões estão sendo vivenciadas por alguns indígenas da comunidade Tuxá de Ibotirama, que há anos vem travando uma disputa interna dentro e fora da escola da comunidade, que tem prejudicado intensamente o futuro e a formação escolar de vários alunos da comunidade.

Não se sabe ao certo o que está acontecendo na comunidade Tuxá, com relação ao tipo de articulação, atuação ou comportamento dessas professoras e dessa funcionária da Escola Estadual Indígena Marechal Rondon que tenha provocado essa onda de denuncias direcionada a Izabela Freire, Rose Barros e Valdelice, que tem causado danos irreversíveis a vida e a carreira dessas profissionais da educação, que estão sendo afastadas das suas funções por não corresponder aos anseios do grupo liderado pelo cacique Manoel Novais da comunidade Tuxá de Ibotirama, grupo este tido como o “dominante” por integrar parte significativa da comunidade.Segundo informações das funcionárias afastadas, a DIREC 22, cedeu aos anseios desse grupo acatando as denúncias que resultou na expulsão da funcionária Valdelice do quadro da escola da comunidade e no afastamento das professoras Izabela Freire e Rose Barros do quadro de professores da mesma, a explicação para esta ação está diretamente relacionada à falta de interação e incapacidade de atuação  dessas indígenas no contexto escolar segundo alguns moradores da comunidade.

A funcionária Valdelice(no fundo) foi afastada do cargo sem ser advertida antes, a mesma diz que a causa pode está relacionada a questões pessoas e promete recorrer a decisão.Valdelice era a principal fonte de renda da família que tem como componentes o marido que tem problemas mentais, um filha e uma neta que a mesma vinha mantendo com o salário que recebia proveniente da sua função de merendeira da escola.A liderança Mazinha (lado direito) encontrou como solução a formação de outro grupo que já conta com um número significativo de famílias que estão contra a decisão tomada pelo cacique via Direc 22 e o Estado.

As professoras Izabela Freire e Rose Barros estão sem sala de aula, as duas tem formação superior, magistério indígena e a segunda está no LICCEI, mesmo com essa carga de formação, essas professoras estão afastadas das suas funções, por não corresponder aos anseios de parte da comunidade.Elas são o alvo de várias denuncias de membros da comunidade, as professoras estão passando por várias dificuldades que estão colocando em jogo sua formação especifica e a imagem da educação escolar indígena na Bahia.As professoras julgam os ataques como  desleais e injustos com a sua carreira e formação profissional que foi conquistada através de muita luta e força de vontade. 

As professoras Izabela Freire e Rose Barros (lado esquerdo) também estão na mira do cacique e de parte da comunidade que alegam que as mesmas não fazem um trabalho coerente com suas demandas educativas e que não estão capacitadas para atuar na escola da comunidade. As professoras estão sem sala de aula e correm o risco de ficar de fora do quadro de professores da comunidade e do município de Ibotirama na Bahia.

 

Complicada e extremamente delicada essa situação, já que demonstra o quanto é importante em um contexto comunitário e escolar indígena  que os envolvidos com a educação escolar nas aldeias atentem para a busca incessante da convivência e da interação pacifica com todos os membros da comunidade que vivem, independente das divergências de opinião, professores indígenas estão em um campo de atuação que requer muita habilidade e atuação intensiva, nos mais variados espaços que possam colaborar com seu afastamento dos campos minados que podem por a sua carreira em questão, fato  comum a toda e qualquer comunidade indígena e não indígena.

A Secretaria de Educação da Bahia, o Ministério Público e outras instancias estão sendo acionadas para tentar corrigir esse impasse, que segundo as envolvidas tem a ver com questões pessoais, que poderiam ser resolvidas dentro da comunidade sem precisar atingir esse alto grau de constrangimento, exposição e medo.O que fazer nesses casos? Qual  é o papal da Coordenação Indígena da Bahia na atualidade? Que tipo de política pode reverter esse quadro? Como se sentir seguro (a)? Esses e outros questionamentos, que podem ser considerados menores frente a outras questões mais graves como os conflitos de terras na Bahia, vão ou podem passar a fazer  parte do discurso de muitas lideranças indígenas do Brasil.

Jandair-Tuxá.

jandairribeiro@hotmail.com

(75) 88468682.