O atual governo vem tentando reparar erros seculares existentes na formação cultural do Povo Brasileiro, estreitando laços de relacionamento entre o Estado e a Sociedade. Iniciativas vêm sendo realizadas intensamente nos últimos anos, através de Conferências, Fóruns, Seminários, e outros.

Ao compararmos essa tentativa de aproximação e participação em um modelo de gestão compartilhada, nós indígenas percebemos o óbvio, sempre vivenciamos, nossa cultura é pautada na partilha, e no olhar horizontal, onde conseguimos identificar as peculiaridades existentes entre nosso Povo, enquanto a cultura ocidental se apresenta em fase embrionária nessa nova perspectiva de transversalizar as ações em conjunto.
Nos dias, 21, 22, e 23 de agosto, em Salvador- Bahia, no Centro de Convenções do Hotel Fiesta, o governo Federal, juntamente com o governo Estadual, representados pelo MinC, e SECULT, com a presença dos seus gestores, e autoridades do legislativo federal, estadual, e municipal, e vários seguimentos da sociedade baiana, se reuniram para discutir as diretrizes do Plano Nacional de Cultura (PNC).
O Plano Nacional de Cultura (PNC) está previsto na CF/88, EC n.48/2005. Atualmente, encontra-se em tramitação na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados sob a forma de Projeto de Lei n. 6835, de 2006.
Importante traçar diretrizes de ações em conjunto, nunca conseguimos imaginar algo em separado, principalmente, em relação à Cultura. Analisando através da nossa ótica o Povo Brasileiro no sentido intrínseco que seja a Nação Brasileira, não têm sua Cultura própria (nato), haja vista, ao observarmos o idioma falado, e por apresentar um comportamento com tendências a copiar, ou imitar, poucos são os que verdadeiramente criam muitos não sabem de onde vieram, e, quem verdadeiramente é.
Cultura é vida, é a forma como nos relacionamos com o todo, existem várias formas de externar nossas vivências, e o que está se tentando fazer identifica-se mais com o “aculturamento”, correndo o risco de transformar o que seria verdadeiramente um ato da vida em produto mercadológico. Algo parecido com economia cultural, ou seja, você expressa sua cultura e ganhará dinheiro com isso.
Para nós indígenas é estarrecedor, mais uma vez estamos vendo a essência humana sendo banalizada. Infelizmente, já fomos atingidos por esse modelo sistematizado de Cultura, em nossas comunidades, principalmente, aquelas atingidas pelo turismo nossos jovens são transformados em agentes econômicos culturais, o sentir dar lugar ao produzir em escala comercial.
Entendemos que a Cultura é algo Sagrado inerente a cada Povo, jamais, compreenderemos como se consegue relacionar por partes, como por exemplo, a Educação seccionada da Cultura.
A tentativa do governo é louvável, mas, está longe de ser o ideal. É preciso envolver muito mais todos os seguimentos existentes, principalmente, nós Povos Indígenas, que lutamos a cinco séculos para mantermos nossa identidade cultural. Somos mais de 230 etnias diferentes e mais de 180 línguas faladas, um pequeno grupo, ou um único Povo não pode decidir unilateralmente, para nós seria uma falta de respeito para com as outras etnias. Existem também, nossas dificuldades internas, reflexo de uma política de extermínio e assistencialismo implantada desde a época da invasão, que vem esbulhando nossos direitos, promovendo divisões internas dificultando ações em conjunto. É preciso estar atentos a todas essas dificuldades, e buscar alternativas com a participação de todos, a fim de reparar os erros cometidos na tentativa de enfim, realizar uma verdadeira socialização compartilhada, promovendo a tão sonhada inclusão social.
Na Bahia existem dezesseis etnias indígenas, se fez presente apenas, quatro etnias. Não se pode dar o luxo de promover uma verdadeira democracia se não tratar os males existentes reflexo de uma mentalidade ainda colonialista, é preciso promover a presença de todos.
Esperamos que o governo possa perceber que é preciso ouvir mais, para identificar uma forma mais justa de abranger a todos, buscando um diálogo com todas às Lideranças Indígenas legitimas,” nem tudo que reluz é ouro”, muitas vezes procuramos o caminho mais fácil para tentar resolver situações, e acaba funcionando como uma espécie de maquiagem, e todos sabemos o reflexo da maquiagem depois de retirada.
O lado positivo dessas ações, é que esse governo até então está sendo o único que vem se mostrando aberto para um novo entendimento, ao perceber as lacunas existentes, insistindo na tentativa de resolvê-las, mas, é preciso ter mais cuidado!

Yakuy Tupinambá (Irmã do Mundo)
yakuy@indiosonline.org.br