Nosso povo aqui é um povo perseguido

Em 1992 os colhedores de cacau, os fazendeiros da aqui re-começaram a expulsar outra vez nosso povo para fora. Tirar, matar… Eles nos caçavam como agente caçava caça aqui. Desde 1982 ate hoje morreram 16 lideranças indígenas.

A mim como cacique já me seqüestraram… Foi 16 pistoleiros, dois fazendeiros, me seqüestraram pedindo para eu sair daqui da aldeia, me oferecendo dinheiro, me oferecendo uma fazenda numa cidade longe daqui, no estado de Mato Grosso…
Para eu sair daqui de dentro da área, para resolver os problemas da comunidade, eu saí até em porta-malas de fusca, para não morrer no meio da estrada. Quando cheguei a uns 30, 40 quilômetros da rodoviária correndo dos pistoleiros, um guarda prendeu o fusca… Eu dentro do porta-malas… Com mais de uma meia hora, os guarda soltou o fusca e eu dentro ainda… Mais para frente, saí do porta-malas e fomos para Brasília.

Teve uma retomada aqui, e morreu dois policiais. Era mais de meia noite, e acusaram a comunidade, mas agente tem a consciência limpa, que não foi agente. Foi uma perseguição muito grande contra agente… Mas afinal foi provado que não foi agente, que agente nem tinha arma de fogo.

Eu fui convidado pela comissão de direitos humanos em Salvador para falar sobre a situação dos índios aqui da Bahia. Voltando de lá para cá, chegando a Itabuna, mais de 40 policiais me cercaram dizendo que estava falando de pessoa de bem (ACM)… Me prenderam. Passei sete dias preso. Um dia preso na polícia militar e seis dias preso na polícia federal.
Essa é a luta que a gente vem passando… Correndo dentro do mata com medo de pistoleiro matar a gente. Nosso povo aqui é um povo perseguido. De primeiro, quando os alunos tinham que sai daqui para ir à escola, eram obrigados a sair correndo, porque tinha pistoleiro dentro do colégio para matar os alunos índios. Já botaram fogo numa Kombi da gente com mais de 300 policiais na cidade! E eles não pegaram o pessoal. Depois botaram fogo no ônibus da gente…

Já saí em porta-malas de fusca. Outra vez saí enrolado em pano para passar escondido na cidade de Pau Brasil… Hoje está mais tranqüilo, mais sossegado. Mas a perseguição contra nós é muito grande. Eu nunca imaginei ser vereador de Pau Brasil, mas, agora ganhamos e vou defender meu povo lá no município, que lá a discriminação é muito grande contra agente.
Gerson Pataxó