Meu nome é José Miguel da França

Meu nome é José Miguel da França. Sou o Pajé dos Kiriri e trabalho não só com os índios do grupo de Lázaro, mas com qualquer um. Trabalho por todos. Eu trabalho com amor. O importante é que a gente não quer mal para a gente nem para os outros; é um trabalho espiritual, a gente também trabalha qualquer medicina do mato, mas só para quem acredita, acreditando tudo vai para frente. Eu trabalho para qualquer um que tenha a paz e acredite. Eu mesmo tenho a paz e acredito. O importante é a pessoa ser fiel.

A luta para retomar nossas terras custou muito trabalho. O cacique foi buscar os direitos das terras e nós ficamos trabalhando aqui. Nos reuníamos todos na casa de dona Dalta. O cacique foi lá em Tuxá (outra nação indígena, de Rodelas), para pedir orientação, para aprender o toré. Ai nós começamos… Trabalhamos e trouxemos os cantos de lá, mas aqui nós pegamos os cantos daqui. Nós fazíamos nosso ritual escondido. Nós trabalhávamos na poeira, na chuva, no frio, na fome, só com a força de Deus e nossos protetor.

Nós buscamos nossa verdade e nós temos a nossa verdade nas matas, porque o índio era da mata e eles mandaram chamar…

Estava lá no mato abaixadinho,

Estava lá no mato escondidinho,

Estava lá no mato onde Deus deixou,

Estava lá no mato e para que me chamou?

O mato nos ensina tudo o que podemos fazer. O branco tem o saber dele e o índio também tem o saber dele.

Até hoje meu trabalho vem tirando vitórias. Pisando nos espinhos, pisando na brasa. Graças a Deus, quem chama pelo nosso Pai, que nós chamamos TUPÃ, não é perdido não, ele dá a felicidade. Já tenho uns 35 anos neste trabalho e graças a Deus hoje estou vendo os resultados. Eu educo os índios e mostro o caminho e indo por aí se tem tudo, se tem a verdade.