Foram 9h de Salvador até Olivença, logo que o onibus partiu da rodoviária, assisti um filme, que ja havia assistido antes, mas pela primeira vez consegui assistir um filme sem dormi, não porque o filme era interessante, mas pela ansiedade de chegar nas terras das quais meus ascendentes sairam ha mais de 100 anos, corridos dos tiros das baionetas e do aço das espadas e facões.

Conhecidencia ou não, vim do norte, do extremo norte da Bahia, onde fiquei mais ou menos quinze dias, acolhido pelo povo Tuxá e foi, justamente para o norte que meus bisavós e avós foram, quando o sul da Bahia já não era mais terra onde indígena poderia viver em paz (se havia algum após a invasão européia em nossas terras), principalmente se tratando de Tupinambá, um dos povos mais perseguido do litoral brasileiro, se não o mais perseguido, fato que pode ser constatado em qualquer livro de história do Brasil.

O ônibus seguiu de Ilhéus pela Rodovia 101, vim olhando a bela praia, já cercada de condomínios, hoteis, pousadas e loteamentos, tudo isso nas terras do povo Tupinambá. Percebi que diminuia a velocidade, o onibus encostou e parou, como havia avisado o local onde queria descer, ja levantei, peguei as mochilas e fui pra frente, o motorista confirma, “tem uma aldeia aí em cima”. Na placa na margem da rodovia estava Aldeia Itapoã, o motorista pergunta se era esta mesma, disse que sim e subi pela trilha de areia. No topo encontro com duas mulheres, ambas com potes cheios de agua na cabeça. Me cumprimentaram antes que eu a elas, aproveitei para perguntar onde mora Ivana, minha amiga, com quem só havia me comunicado por e-mail, comunidades virtuais e celular. “É Ivana advogada, casada com Eduardo?”, confirmei com a cabeça, “é bem ali na frente, indo pro caminho da represa, voce vai por essa trilha e vira assim (ela indica com a mão), aí já chega”, agradeci e segui em frente. Logo me deparei com um monte de residencias, casas de taipa, estava no centro da Aldeia. Encontrei um jovem e pergunto mais uma vez, ele me mostra a casa de Ivana. Chamei pelo nome. Fui atendido pelo esposo de Ivana, que logo veio me atender. Pegou minhas mochilas colocou dentro de casa e como fazem em todas casa quando chegamos, me ofereceu agua e foi me apresentar para algumas pessoas da aldeia.

Fomos até a casa de Valdelice, a cacique da aldeia, que fora presa, acusada de chefiar bando. Tomei café da manhã lá. Café, café, pão e banana da terra cozida, quentinha. Depois do dejejum um bom bate-papo, coisas de indío.

A aldeia se prepara para receber tupinambá de outras aldeias no fim de semana, no domingo terá a 11ª Caminhada Tupinambá, aqui estará chegando varios parentes e parentes mesmo, no bate-papo, soube que a Cacique Valdelice tem o mesmo sobrenome de minhas avós e até se parece muito com a descrição que meu pai faz de sua mãe, minha avó.

Daqui onde estou, se ve o mar e ouço o som das ondas quebrando na praia, misturado com som do vento, dos passaros e dos preas (porquinhos da india) que passam no fundo da casa de Ivana.

Daqui a pouco volto na casa de Valdelice, para me preparar para a caminhada, lá tem genipapo…

desde Aldeia Itapuã,

sassá Tupinambá

meio dia, 22/09/2011