Em 1980, a Mata da Cafurna

Em 1980, a Mata da Cafurna foi reivindicada pelos Celestinos e pelos índios da Fazenda Canto. Cafurna de Baixo se encontrava também na luta pela reserva.

Graças a Deus a reserva foi liberada e hoje ali se encontra uma aldeia.

Em 1985, vieram pessoas da Fazenda Canto pelo motivo das terras serem poucas. Seguramente umas sete a oito famílias, sob a liderança de Antônio Celestino, se deslocaram para a Mata da Cafurna e acamparam em baixo de uma jaqueira.

Eles pensavam em terra pra trabalhar porque, na verdade, a reserva não poderia ser desmatada para uso da agricultura. Então, eles resolveram ocupar uma fazenda vizinha à Mata da Cafurna.

Mas pelo fato do grupo de Antônio ser pequeno, ele saiu para a Serra do Kariri, onde se encontra outra família, já de terceira geração. Lá, eles citavam que eram um povo sofrido também, que não tinha terra, que vivia trabalhando, arrendando brejo a Julio Calista, a Leopoldo, e a outros fazendeiros que se encontravam ao redor deles. Eles (índios) estavam dentro de 16 tarefas, pois as terras já tinham sido tomadas pelos brancos.

Antônio, chegando lá, também sem terra, sem ter onde trabalhar, aliou-se com os meninos da Serra do Kariri, da família Soares, conhecida por Leitão.

Aí, foi à Cafurna de Baixo, onde morava Ciço França, filho de Antônio Francilino (que já é filho de Francilino Velho/terceira geração). Ciço certamente concordou e depois foram à minha casa me convidar para que nós se ajuntasse e fosse ajudar Antônio, ocupando a terra de Everaldo Garroti.

Eu, Nicinho, que morava na cidade, no Alto do Cruzeiro (nasci e me criei lá), também aceitei me ajuntar a eles.

Com muita satisfação respondi a Ciço que a gente vinha. Me acompanhavam: Damião, Ciço França, Abraão, Júnior, Zé Carlos, Homero, Demar e também minha família. Primeiro cheguei eu e no dia seguinte veio o resto.

Aí, chegamos no pé da jaqueira, onde Antônio Celestino já estava com seu grupo e o Leitão também se encontrava.

A gente se juntava na jaqueira, se reunia e planejava o que íamos fazer. Decidimos que nós precisávamos da terra e não íamos sair.

Então, isso foi citado para o órgão de lá – a FUNAI.

Depois de quatro dias o advogado da FUNAI chegou na cidade, para tratar de negociar com os fazendeiros. Mas eu acho que eles não resolveram problema nenhum porque, no quinto dia de manhã, o advogado nos aconselhou a sairmos da terra, porque o homem era rico e poderoso.

Nós respondemos que não iríamos sair, porque aquela terra nos pertencia e a gente precisava muito dela.

Aí, então, o advogado da FUNAI (da FUNAI mesmo, pois do índio não era!) dizia que lavava as mãos. Foi essa a resposta e foram embora.

Quando foi de tarde chegou o fazendeiro, os jagunços e a polícia, dizendo: ou nós saíamos ou alguém se machucava.

Também chegava uma liminar do juiz pra que agente tivesse o direito de sair em cinco dias.

Na segunda-feira, viajamos para Recife (a FUNAI era lá) para tentar outra liminar para a gente defender as terras.

Assim, a terra caiu na Justiça e passou 13 anos, e nós ocupamos ela, fomos trabalhando, fomos nos unindo, a união era grande aqui dentro. Para falar sério, no começo tudo era um mar de rosas. E ficamos trabalhando.

Devido a terra não estar paga na Justiça, nós continuamos trabalhando. Mas assim mesmo, as terras eram poucas, então, resolvemos também ocupar as terras de Hélio, o vizinho – que eram nossas!

Nomes dos ex-proprietários: 1) Everaldo Garroti e 2) Hélio (entre Mata da Cafurna e Serra do Kariri).

Queríamos defender a Serra do Kariri, que era onde nasceram os avós, os pais e os filhos de Leitão. E agora a maioria dos netos estão sendo criados aqui mesmo.

Eu acho muito bom isso. Ninguém pode mandar neles aqui, pois eles têm o mesmo direito! O que eles devem fazer é trabalhar nas terras e morar com a gente aqui. Temos que viver juntos porque alguma coisa que vier não é só para nós, nem só para eles!

Porque se eles ficam lá ou se arrependem por estarem aqui e voltam pra lá; então não vai resolver o problema! Vai sufocar mais!

Eu sempre converso com meus parentes, dessa maneira! Eu quero nós todos juntos! Porque fomos nós todos que lutamos por isso!

Então, se a gente pudesse acolher um parente que está nas periferias da cidade e que pede uma rocinha pra trabalhar, eu digo sim!

Tem uns parente aqui que diz não!

Tem muito índio morando na rua!

Os Leitão têm umas três famílias que moram aqui na Serra da Boa Vista. Tem Zé Bilau, por exemplo, que trabalha aqui com a gente, QUE É ÍNDIO MESMO, COM CARACTERÍSTICA DE ÍNDIO!

E mais outras e outras famílias estão nessa situação! Mas esse povo não tem acesso aqui!