Ensino Diferenciado: “nosso caminho para chegar lá.”

Nas aldeias indígenas o ensino escolar é diferente do que é empregado nas demais escolas brasileiras, é um ensino “diferenciado” que busca adaptar o ensino nacional à realidade das aldeias. O objetivo é respeitar a diferença e preservar ao máximo as culturas indígenas.

Nas escolas indígenas estudamos geografia, matemática, história, ciências, ed. física, adaptando-as ao nosso modo de vida. Assim valorizamos nossa história, nossos conhecimentos tradicionais e aprendemos sem interferir na nossa cultura, apenas somando mais conhecimento ao que já temos em nossas aldeias. Em matemática usamos exemplos da aldeia como calculo de coleta de frutas existentes, relação do artesanato com o mercado para calcular custos, em ed. física temos jogos indígenas, em ed. artística trabalhamos em nossos produtos tradicionais como esteiras, tangas, colares e pinturas indígenas, em geografia estudamos a hidrografia da aldeia, o relevo, a vegetação, fazemos mapas da aldeia, em historia estudamos nossa própria história, jamais um professor indígena falará para seus alunos que foi Pedro Álvares Cabral quem descobriu o Brasil, mas que ele nos encontrou aqui em 1500 e iniciou uma invasão às nossas terras, em ciências estudamos sexualidade adaptada às nossas vidas, pois casamos sedo, e nós índias temos uma vida sexual ativa mais cedo que o restante da população nacional, e isso é muito importante, pois, esta ajudando nós jovens a planejar melhor nossa vida reprodutiva, não tendo filhos quando não queremos. O ensino diferenciado nas aldeias é assim importante, pois não esta nos obrigando a seguir a escola tradicional, e nos ajuda a conhecer melhor nossos direitos, nossa historia, fortalecendo nossa cultura em vez de enfraquecê-la. Estudamos também tudo que se ensina nas escolas normais, mas somamos a isso o nosso conhecimento.
Nos indígenas atualmente temos índios estudando medicina, biologia, historia, matemática, enfermagem, etc. E isso é muito importante para nossa aldeia, pois ninguém melhor para ensinar, medicar e entender o índio do que ele próprio. Só assim vamos poder reivindicar nossos direitos, conhecendo nossa historia e nos aperfeiçoando para lutar por nos mesmos. Sabemos que as coisas ainda não estão cem por cento, muito falta para que estejam totalmente de acordo com o que precisamos, mas estamos no caminho e certamente muito melhor que antes, quando éramos obrigados a nos “integrar” a sociedade nacional e abdicar de nossa cultura, nossas línguas e nosso modo de vida.

Olinda Muniz