Olá, eu sou índio da Etnia Bahenã

Olá, eu sou índio da Etnia Bahenã, que quase foi extinta, mas graças a minha mãe Maura Titiá e minha tia Maria de Titiá, hoje existe um geração Bahenã. A minha etnia junto com outros formamos o Posto Pataxó-Hãhãhãe. Vou contar um pouco da minha história falando da Educação e da dificuldade que nós enfrentamos para estudar.

Antes de contar a história, eu gostaria de refletir o que muitos brancos acham do índio, quando o índio se expressa bem, ou seja, fala bem o português, ele é discriminado pelo branco. Mas eu quero mudar essa visão errada, pois o índio é um ser humano e tem a mesma capacidade de aprender e criar igual ao branco. Existem pessoas que quando vê um índio que sabe se expressar bem, fala que não é índio, mas eu mudo essa visão dizendo, se o índio não aprendesse ler, escrever, entender a política, não estariamos contando história de resistência.

O povo Pataxó é considerado uma comunidade guerreira, por ser uma prova viva de resistência e luta. A nossa aldeia foi demarcada em 1936, é uma área de 54 mil e 100 hectares. Os fazendeiros até 1982 ocupavam toda a terra, mas nessa época fizemos retomada na fazenda São Lucas, uma área de 2200 hs, na aldeia viviamos em torno de 65 famílias, a fonte de renda era a agricultura. O que produzíamos era vendido na cidade de Pau Brasil, a venda era insuficiente para a manutenção da família. Tínhamos o apoio da FUNAI, que cuidava da saúde, educação, agricultura e transporte. Não era um bom atendimento, mas para quem não tinha nada era alguma coisa.

A primeira professora da aldeia foi Maria Muniz, que ensinava de ABC a 4ª série.

De acordo o tempo foi passando. Os alunos foi se multiplicando, a comunidade crescendo, começou aumentar o número de professores. Como na aldeia não tinha um colégio que atendia de 5ª a 8ª e ensino médio, era obrigado os alunos estudarem na cidade. As dificuldades eram grandes. A distancia da aldeia até a cidade era 5k e era feito a pé. Não tínhamos muita amizade com a população de Pau Brasil, pois eles viam a gente como bicho de mato. Algumas pessoas falavam: “Índio comedor de carne de gente”.

Depois os anos passaram e os números de alunos aumentaram. Ai fomos quebrando o gelo do preconceito e da discriminação na cidade. Íamos em grupo de 25 a 30 alunos para estudar, antes de chegar na cidade tomavamos banho no rio, que fica em torno de 500 metros da cidade. A roupa que a gente vestia para estudar era fornecida pela FUNAI, também o material escolar. Quando foi em 1997, aconteceu a morte do índio Galdino, ai o nosso povo retomou 5 fazendas. O reflexo da retomada deixou os fazendeiros furiosos, começou a ameaçar aos estudantes, sofremos muito por nós ser alvo fácil. No mesmo ano era 60 estudantes, mas devido às ameaças desistiu a maioria. Os fazendeiros junto com pistoleiros chegaram até invadir o colégio, a procura de índios, mas graças a Tupã conseguimos pular o muro e escapamos. No mesmo ano foi queimada uma combi da FUNAi em frente do colégio municipal. No ano de 1998 retomamos mais 5 fazendas, aí foi que piorou mais a nossa situação.
A FUNAI alugou um ônibus para nos conduzir. Quando voltávamos deo colégio em torno das 10hs, fomos surpreendido, num trecho escuro, por ataques de pedra gigante que caiu na tela do ônibus – foi terrível, mas graças a Deus ninguém foi atingido pelas pedras.

Através de nós sofermos muito fizemos um projeto para que órgão tutor construisse um colégio na aldeia, que fosse ensinado fundamental e médio, tudo isso para que nós não se exposse tanto a essa situação. Quando foi em 2000, foi aprovado o projeto, e em 2001 foi construido o colégio. E no mesmo ano houve uma grande retomada denominada (Anestão), atingiu 50 fazendas. Nessa ocupação tinha fazendas grandes e pequenas. É uma região considerada perigosa, até o nome diz tudo: Água Vermelha. Era uma região rica, até que chegou a bruxa, uma praga que dá no cacau.

Dizia antigos moradores que toda semana morria pessoas assassinadas. Mas conseguimos permanecer na região. Hoje a nossa aldeia está em torno de 14 mil hectares, com a população de 3000 índios. O colégio que foi construido na aldeia não atende os alunos de 2º grau. Com todos os desafios e dificuldades no ano passado (2003), foi difícil para nós estudar na cidade. E na aldeia, a região de Água Vermelha e Caramuru, todos os alunos para estudar tem que passar por Pau Brasil. É por isso que nós sofremos muito ainda. Teve alunos que que foram espancados, ônibus que foi fechado na estrada, por emboscada de pistoleiro, até ser quebrado o vidro por cabeçada de escopeta, motorista que foi agredido e ameaçado para não carregar nós. Teve também um Ônibus que a FUNAI comprou para nós que foi queimado. Mesmo assim um ano que teve unido 602 alunos, 30% conseguiu continuar os estudos.

Com todas as dificuldades do ano de 2003, eu, Fábio Titiá, junto com Edner Dantas, Alessandra Gomes, Shana Gomes e Zenaide conseguimos concluir o 2º grau na cidade de Pau Brasil. Para minha pessoa, se orgulho muito pela minha luta e coragem de desafiar o preconceito e a discriminação. Participamos da cerimonia com nossas roupas tradicionais, para miostrar a nossa cultura e o orgulho de ser índio, e de termos conseguido conquistar o nosso objetivo. E vou lutar para que no ano de 2005 eu possa entrar numa universidade e continuar levando o orgulho de ser índio.

Fábio Titiá