Na passagem do Dia do Índio, celebrado ontem, a Gazeta propõe uma reflexão sobre o tema

FERNANDO COELHO – RepórterFoto: Maíra Villela
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Divididas e com pouco menos de 13 mil habitantes, as etnias indígenas de AL continuam sua lutaO primeiro contato que temos com eles é por meio dos livros de história. A imagem é geralmente a mesma. O índio amazônico, de cabelos lisos, olhos puxados, pele morena, rosto pintado, arco, flecha, cocar e um semblante sereno numa mata distante da nossa realidade. Um índio congelado no tempo.
Embora o estereótipo represente o mesmo índio que foi dizimado ao longo dos séculos pela brutal exploração dos colonizadores portugueses – que saquearam suas terras, escravizaram suas tribos e devastaram suas vidas e elementos de sua diversidade –, é importante entender que os indígenas possuem uma cultura dinâmica. Uma cultura que dialoga com os processos históricos e, dessa forma, se reorganiza para continuar a existir.
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“Apesar da minha roupa, também sou índio”
A letra de Cara de Índio, presente no segundo disco de Djavan (1978), nos dá pistas de como a questão da identidade cultural do indígena se transformou no decorrer da história. “Apesar da minha roupa/ Também sou índio”, canta o compositor. Atualmente, ao entrar numa das aldeias indígenas de Alagoas, o visitante, a princípio, poderá não identificá-la como tal. O índio não mora mais em oca, não anda desnudo e muito menos fala numa língua “estranha”. Mas nem por isso deixou de ser índio.
“Quando pensamos em povos indígenas, não podemos pensar numa cultura estagnada. Eles dialogavam com a sociedade e aí, nesse diálogo, eles foram perdendo características e construíram outro tipo de organização a partir da absorção de outros elementos”, considera Aldemir Barros Júnior, mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
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Identidade e o despertar da consciência de classe
Em sua dissertação, publicada no livro Serra dos Perigosos – Guerrilha e Índio no Sertão de Alagoas (Edufal), sobre a tribo Geripankó, Amaro Hélio Leite lança a hipótese de que a luta pela terra e pela sobrevivência trouxe consciência de classe para o índio. Mais um novo elemento para sua identidade cultural.
“A identidade do índio se amplia na luta pela sobrevivência, pela resistência étnica”, sugere Amaro. “Ele estrategicamente amplia essa identidade para outras frentes de resistência. Nesse caso, a do trabalhador rural. No processo histórico da formação da nossa sociedade, ele foi marginalizado por completo: suas terras foram tomadas, foi dado um nome português e imposta toda uma cultura branca que o colocou à margem desse processo. Como ele precisava sobreviver, ele tinha que se transformar em trabalhador”.
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CRONOLOGIA
1872 Fim dos aldeamentos em Alagoas. Os índios são considerados extintos pelo Império.
1910 É criado o Serviço de Proteção ao Índio (SPI).
1926 Instalação do primeiro posto do SPI no Nordeste, em Águas Belas, Pernambuco.
1932 O SPI cria uma inspetoria regional.
1944 As tribos Kariri-Xocó e o Xucuru-Kariri são reconhecidas pelo SPI.
1952 Aldeamento de parte das terras do Xucuru-Kariri.
1967 A Funai é criada após denúncias de corrupção envolvendo o SPI.
1984 A Funai reconhece a tribo Wassu Cocal. Com o passar dos anos, outras tribos são reconhecidas.
1991 Ano do último aldeamento ocorrido em Alagoas.
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Tradição e cultura em movimento
Um dos pensadores e pesquisadores mais respeitados de Alagoas, o historiador Sávio de Almeida tem o mérito de trabalhar na organização de uma importante coleção científica sobre a questão indígena no Estado. Intitulada Índios do Nordeste: Temas e Problemas, a coleção chegará em breve ao décimo volume. “Não é fácil manter durante nove anos uma publicação anual desse tipo em Alagoas”, diz Sávio, durante entrevista realizada em sua residência.
O historiador despertou para o tema há cerca de 15 anos. Depois do pioneiro Clóvis Antunes, ele aparece como uma das principais referências sobre o assunto no universo acadêmico local. Na Ufal, criou o grupo de pesquisa Índios de Alagoas: Cotidiano e Etno-História. “Já passaram por esse grupo entre 150 e 200 pessoas da universidade.
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POR DENTRO DA CULTURA INDÍGENA
LIVROS
Obra: Coleção Índios do Nordeste: Temas e Problemas (Vols. 1 a 9)
Autores: vários (org.: Sávio de Almeida)
Editora: Edufal
Obra: Os Índios e a Civilização
Autor: Darcy Ribeiro
Editora: Cia. das Letras
Obra: O Índio na História
Autor: Mercio Pereira Gomes
Editora: Vozes
Obra: Histórias dos Índios no Brasil
Autora: vários (org.: Manoela Carneiro)
Editora: Cia. das Letras
FILMES
Título: O Povo Brasileiro
Direção: Isa Grinspum Ferraz
Distribuição: Versátil
Título: Toré = Som Sagrado
Direção: Sebastián Gerlic
Distribuição: Independente (ONG Thydewas)
EXPOSIÇÃO
O quê: Encontro com os Kariri-Xocó
Onde e quando: no Memorial à República (bairro de Jaraguá), até o dia 27 de abril, no horário das 09h às 17h
Entrada franca
Informações: 9931-4361 e www.indiosonline.org.br
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Porta-vozes da própria cultura
Os aspectos religiosos e ligados à terra se sobrepõem de tal maneira na causa indígena que mesmo ao perder suas características culturais e até físicas, eles nunca deixaram de ser índios. Durante a primeira metade do século passado, quando o Estado brasileiro passou a reconhecer as tribos espalhadas pelo País, a forma de assistência ambivalente influenciou no processo natural de desenvolvimento de sua identidade e na conseqüente transformação (perda?) de características culturais.
“O Estado procurou aldear os grupos em espaços minúsculos e esses grupos não tinham controle sobre os meios de produção”, explica o historiador Aldemir Barros. “Tinha uma escola branca inserida lá, para educá-los e formá-los no contexto da campanha nacional de educação rural, que era para estimular o sentido de trabalho e de responsabilidade, além da própria igreja que é inserida”.
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Informação e integração na sociedade
Em meio à injustiça histórica e a inúmeras carências, quais são os principais anseios dos índios alagoanos no presente? “Eles reivindicam uma educação diferenciada e uma saúde diferenciada”, arrisca Aldemir. “Um ponto principal é a educação. Em cada aldeia existe uma escola construída em forma de oca, com professores que fizeram concurso que foram lotados para ensinar lá”. Mas os índios não querem assim. Para eles, a exigência é a de professores indígenas ensinando numa educação que respeite seu calendário e suas práticas cotidianas.
É o caso da nação Wassu Cocal, em Joaquim Gomes.
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Índios expõem produção cultural na capital

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NO ENCONTRO, PROMOVIDO PELA ONG THYDEWAS, INDÍGENAS FALAM DO SEU VIVER E DOS AVANÇOS NA ALDEIA, INCLUSIVE TECNOLÓGICOS| FÁTIMA ALMEIDA – RepórterUm diálogo aberto com a cultura indígena, por meio de fotos, vídeos, histórias, cantigas e personagens da nação Kariri-Xocó, que desde ontem expõem sua produção artesanal no espaço convidativo do Memorial à República.
No encontro, promovido pela ONG Thydewas, com apoio da Secretaria Estadual de Cultura, Banco do Nordeste, Projeto Cultura Viva e Ministério da Cultura, os próprios índios falam, na cidade grande, do seu viver, com seus sonhos, suas dificuldades e resistências; e dos seus avanços, inclusive tecnológicos.
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