O grande guerreiro e líder Desidério faleceu com a idade de 97 anos.

Sobre a sua vida de muitas luta, publicamos uma carta regida pelos lideres daquele povo.

Deste aos 20 anos, Desidério começou a liderar o grupo Pataxó Hãhãhãe contra os opressores dos primeiros fazendeiros que invadiram a terra dos Pataxó Hãhãhãe. Com 18 anos de idade, o guerreiro Desidério casou se com a índia Jovelina Balduina Pataxó Hãhãhãe que tiveram cinco filhos: Iracy, Judite, Laura, Sinhozinho e Aurelino. Depois de 30 anos de uma vida harmoniosa, o guerreiro perdeu a sua companheira de tantas lutas, a morte os separou.

A primeira vitória do líder Desidério foi a de ver regulamentada em lei; em 1926 uma reserva 56 léguas quadrados para o seu povo. Mas daí em diante as lutas com os fazendeiros foram se intensificando, havendo muita pressão para redução da área. Onze anos mais tarde, o líder Desidério sofreu na pele sua primeira derrota ver a área da reserva ser reduzida para 36 mil hectares (1937).

As lutas foram aumentando e o órgão responsável pela proteção dos Índios, SPI ( Serviço Proteção ao Índio), nada fazia Desidério foi vendo vários parentes sendo barbaramente assassinados, espancados, presos, e ele nada podia fazer.

Em 1947, Desidério, juntamente com seus parentes, Grumencino, Febone, Zé Cabloco e outros foram presos no posto do SPI por lutar por seus direitos (…).

Sete anos depois da redução da reserva em 1945. Desidério juntou um grupo de lideres( Samado, Catunga e Bite) e foi ao Rio de Janeiro para conversar com então presidente da Republica, Getulio Vargas, e contar a situação do seu povo tiveram muitas promessas de melhorar.

Voltando a reserva e vendo que nada havia mudado, os fazendeiros continuavam expulsando os índios de suas terras. Desidério voltando novamente ao Rio de Janeiro para falar com o Marechal Rondon novamente foram feitas muitas promessas e outra vez nada foi comprida. Pouca a pouco os seus parentes foram sendo expulso e mortos pelos fazendeiros. Anos mais tarde o SPI foi afastado da reserva e aos índios que aqui ficaram tiveram que negar a sua identidade. Mesmo assim Desidério não acabou com a sua esperança e escreveu varias cartas para a antropóloga Maria Hilda, pedindo para que ela viesse a região Sul da Bahia fazer um levantamento dos sofrimentos dos índios que aqui conseguiram ainda sobreviver.

Em 1978, Maria Hilda veio a região e junto com o Desidério, juntou todos os índios da região e ela deu muitas esperanças para eles. Daí em diante, Desiderio se incumbiu de uma nova tarefa: a de visitar todos os seus parentes ausentes da região para fazê-los conhecedores dos fatos e arrecadar dinheiro para ir a Brasília pressionar a Funai para a reintegração da sua reserva. Ele fez varias viagens a Brasília junto com Samado, Ursulino, Bite e outros índios. Até que em 1982, os índios conseguiram retomar um pedaço das suas terras de 1.079 hectares, o Posto Caramuru Paraguaçu. Outra vez os índios podiam dizer que eram índios, e as pressões dos fazendeiros voltaram e as mortes, espancamentos, perseguições voltaram a acontecer.

O líder Desidério novamente pode ver quase seus parentes junto de novo na mesma luta. Já velho, mas sem cansar de lutar pelos seus direitos do seu povo ele retornou a Brasília varias vezes. Suas ultimas viagens foram no mês de maio e julho deste ano. Na sua ultima viagens, ele conversou com o presidente da Funai: Cláudio Romero, e lhe disse: “Eu quero ver as nossas terras liberadas, pois esta é minha ultima viagem.” Falou também com ministro da Justiça, Mauricio Correa. Estava acompanhado das seguintes lideranças: Samado, Juraci Santana, Edivaldo Julio e outros índios.

Nós lideres Pataxó Hãhãhãe e a comunidade estamos de luto pela nossa grande perda, e ao mesmo tempo, indignados porque o nosso grande líder morreu por falta de assistência boa. Pois Desidério foi levado para o hospital Santo Antonio na cidade de Camacã (BA), onde foi maltratado, o que nos obrigou a levá-lo para a cidade de Eunapolis (BA), aonde veio há falecer 24 horas após ser internado, no dia 02 de setembro de 1993.

Yonana Pataxó Hãhãhãe

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