O meio de telecomunicação mais influente da minha aldeia é a TV. O problema é que nos programas da TV tem pouca coisa de útil para nossa vida como índios. Para agravar a situação nós nos interessamos mais por novela do que por jornais ou boas reportagens. Diante disso temos que pensar no que fazer, pois por conta disso nas aldeias acaba chegando através da mídia principalmente aquilo que não presta.
É comum você chegar na aldeia e ver meninas vestidas com roupas que são exibidas na mídia , isso afasta nós índios de termos um estilo próprio de nossa cultura, fazendo com que pensemos que o padrão exibido na mídia seja sempre o correto a ser seguido. Até mesmo quando não seguimos este padrão da mídia, criando um estilo próprio, somos estigmatizados como “malucos”, conheço índios que por usarem trajes típicos fora de torés ou retomadas ou apresentações são tidos como tal, mesmo que não se fale isso abertamente. Assim mesmo, quando não nos produzimos como as mulheres da TV, somos taxadas de desleixadas.
Ainda por esse caminho, é comum você ouvir na radio da aldeia apenas forro, funk, pagode, e gospel. Esse é o tipo de musica que nos chega e que acabamos por aceitar por modelo do que é “da moda e interessante”. Volto a me perguntar, como mudar esta situação pois nós índios estamos absorvendo fortemente estas concepções e acho que esse não é o melhor caminho para seguirmos. Me parece que uma boa solução inicial seria a radio comunitária da aldeia aproveitar melhor o espaço que lhe é concedido e o usar para transmitir nossa cultura, substituindo parte das musicas e programação não indígena por musica indígenas e programas culturais indígenas. Ao meu ver, nós índios temos tudo para resgatar nossa cultura, mas para isso precisamos mudar hábitos a começar pelos mais simples, que servirão como começo da mudança, pois sem isso vamos perder tudo o que nos caracteriza como cultura diferente da nacional e, ainda pior, vamos terminar substituindo todos os nossos valores importantes por valores de outros povos. Podemos até pensar em aprender com o restante da humanidade e somar o que aprendermos aos nossos próprios valores, técnicas etc., mas não podemos absorver os valores do outro em substituição aos nossos.

Olinda Muniz