Ola,
Meu nome é Edna, sou uma índia Truká, vivemos na Ilha de Assunção, localizada no município de Cabrobó-PE.
Gostaria de contar uma História , uma lição que a FUNAI, me deu..

Correndo Apuros ou não! me ensinam a sempre dizer SIMMMMMMM

Há 4 anos, passando apuros pra conseguir prestar vestibular de medicina , correndo atrás de doações de bolsas pra fazer cursinhos e não conseguir entrar na Faculdade, mesmo assim, voltando pra aldeia com um sentimento de perda, por achar ter decepcionado meu povo, por não ter conseguido passar nos vestibulares, meu povo me reergueu, encaminhou inúmeros documentos de pedido de apoio pra eu fazer medicina, fomos abençoada pelo pai Tupã, nossa mãe Tamain e os Encanto de Luz ao ser contemplada com uma bolsa do Governo Cubano, na ELAM , passando por angustias pra conseguir em menos de uma semana providenciar toda documentação solicitada, entre eles exames caríssimos como, HIV, passar por um medico especialista pra me dar um atestado de sanidade física e mental, todos pagos, pois não dava tempo de esperar a FUNASA, passaporte e outros, me veio uma respiração aliviada de ter conseguido enviar tudo ao tempo exigido, porém ainda não tinha acabado, com uma semana depois a embaixada marcou a entrevista de aprovação total, eu muito fragilizada psicologicamente, com medo de deixar fugir essa oportunidade, precisaria me sair bem pra conquistar a bolsa definitivamente. Muitas dificuldades passei pra conseguir sair da aldeia e chegar a Recife, de carona até Pesqueira/Recife e cheguei! Apuros somado com aflição ao chegar e saber que a FUNAI tinha acabado de entrar de Greve, eu não queria acreditar, então penei, penei sem conseguir dinheiro pra ir a embaixada, via a cada segundo minha vida, meu sonho, o futuro do meu povo escapar, faltando um dia pra entrevista eu ainda sem conseguir apoio pra viajar, minha entrevista marcada pro dia 25 às 8h da manhã, dia 24 ao meio dia, ainda nada! 1h e eu sem almoçar ligando pro cacique sem saber o que fazer, mais uma vez Tupã me abençôo, as 4h embarco pra Brasília. No avião pensava como ia e pra onde eu ia. Graças a meu povo, eu tenho parceiros, amigos, no dia 25 estou eu lá na embaixada Cubana com mais 15 que também iam fazer a entrevista, naquele data. Cada um com suas experiências de vida, de luta, de 8h eu fui chamada as 15h, já não agüentava de tanta fome, fiz uma redação, respondi uns questionários, fui pra uma sala onde estava Maria Antonia- Conselheira da Embaixada e Psicóloga e um Professor da ELAM. Eles me perguntavam tudo em espanhol, respirei forte, pedi força aos encantos das águas, das matas e fui iluminada, pois passei mais tempo q todos os outros e pude expressar meus sentimentos e o do meu povo para com esse objetivo.Fiquei hospedada num centro religioso, anexo da CNBB, mais uma vez contei com esse parceiro pra me ajudarem, apuros de novo pra conseguir passagem de volta, e de novo quem me ajudou? TUPÃ! Na sexta peguei o AVIÃO de volta a Recife e fiz a mesma peregrinação de carona em carona, até chegar na aldeia, mas não parava por ai, eu fiz a entrevista, mas precisava do resultado, se tinha sido aprovada ou não, a embaixada informou que só daqui a 15 dias ou um mês. Foram os dias mais longos da minha vida, noites e noites debruçada nos livros, estudando espanhol e a cultura Cubana pra relaxar, mas não adiantava. Perante o povo, as lideranças, eu disfarçava, que estava tranqüila, mais em casa sozinha o que vinha em mente era a experiência vivida em Recife. Em nossos rituais eu falava com os encantos e pedia mais uma vez sua intervenção, com 25 dias, recebo msg de amigos dizendo que tinham passado na entrevistas, outros dizendo que não tinham conseguido. Como não tinha dinheiro, nem como ligar para embaixada pra saber de mim, pedi a uma amiga que fez a entrevista comigo, ligar! a Carol me deu a tão esperada noticia que eu tb tinha passado, ufaaaaaaaaaa não me contive, em lágrimas reinei aaaaaaaa tupãaaaaaa, reinei aos apuros!!!!!!!! Aos apuros e aflições, Reinei como nunca tinha reinado.
Tudo isso eu fiz sem ajuda da FUNAI, pois entendia o processo de greve, respeitei e tinha a confiança de que eu iria precisar na frente dela e ela não iria me desamparar. Nunca fomos beneficiados pela FUNAI, há não alguns funcionários, que temos como amigos, só pelo fato de darem atenção e de realmente pensar na questão indígena independente de ser funcionário da FUNAI ou não. Solicitei a empresa um orçamento, fui a Recife, encaminhamos a CGE/FUNAI/ Brasília, exatamente pra vocês. Com menos de três dias soube da resposta em um documento enviado a Regional negando meu pedido ou melhor negando a esperança de 4.200 índios. Recife enviou pro Chefe de Posto, o Florentino, eu sinto muito mais nem vou pegá-lo, não quero ter esse documento em mãos, por considerar muitos que fazem esse Órgão, do qual sempre achei que contribuiriam com o meu sucesso, com o projeto de Futuro do povo Truká. Eu enquanto jovem. tenho um longo caminho na luta do meu povo, posso garanti uma coisa a FUNAI: eu posso deixar de ir a CUBA, por causa de 2.500,00 do qual minha família não dispõe e a FUNAI me negou, se o Deus lá em cima permitir é claro, nele eu confio cegamente de que valeram minhas lagrimas derramada por não ter vencido, do que a covardia de não ter lutado, coisa que nesse mundo ai, poucos conhecem. Minha luta continua, meu povo continua, minha concepção vai continuar em querer construir com meu povo um Projeto de saúde que respeite nossos mais velhos, que valorizem nossas tradições, o poder das ervas, enfim, um projeto onde possamos ser livres e autônomos.
Bom isso pode não ter nenhum sentido, nem importância, nem sei se vão ler esse e-mail, ou vão apagar sem se importar com o teor dele ou com quem escreve, assim como fizeram com o documento que receberam, mas eu queria dizer que eu sei que vou conseguir, porque tem uma coisa que aprendi com a luta. Nem conheci o líder XICÃO, mas seus ensinamentos estão plantados e como dizia o próprio; “ Em cima do medo, Coragem” e Che Guevara “Hasta Lá Victória Siempre”. Eu vou a Cuba. Acredito nas matas, no rio, na caatinga, no terreiro, no maracá, acredito na minha origem, no sangue que levo nas veias, e tem mais , embora, em nosso país a frase que diz: filho de peixe, peixinho é, traduza uma realidade na qual o filho de trabalhador nunca vai chegar a ser um doutor, porque o filho do doutor estuda em magníficas escolas particulares, com toda bibliografia e ambiente de estudo pra se preparar pro vestibular e ganhar um carro ao ser aprovado; enquanto eu, estudei toda minha vida numa escola pública, absorvendo o sucateamento do ensino, esse não é real motivo de ir a Cuba. Mas sim, porque a concepção de saúde, a medicina desse povo se alinha as necessidades do meu povo, até mesmo porque nós já trabalhamos com a prevenção na aldeia, a cultura do povo na ciência e na própria medicina tradicional é preventiva as doenças.
Então, eu vejo que essa é uma valiosa oportunidade e de suma importância para o povo Truká, e pro país como um todo, porque eu saio do povo já politicamente formada de que , não vou me formar pra ganhar muito dinheiro, descobrir curas, ficar famosa e construir um baita hospital particular, porque isso foge da valorização da historia do meu povo, foge dos princípios com uma visão capitalista e nem a medicina em Cuba tem esse perfil de especializar profissionais que vendam saúde.
Nós enquanto jovens, futuro do povo, do país e do mundo, somos também a ponte de mudança, alternativas pra solucionarmos o que não tem dado certo, somos responsáveis também de promover a inclusão social no acesso a saúde, e assim fazer com que muitos países se espelhem no governo Cubano, na sensibilidade de partilhar suas experiências para o mundo.

Pena que a FUNAI, não tem essa sensibilidade de romper com suas próprias burocracias de fazer parte desse processo de construção.

Sob a proteção de Tupã e nos Encanto de luz me despeço

Edna Bezerra Pajeú
Índia Truká
ednatruka@hotmail.com