Foi na Lagoa Grande, onde tudo começou, agente plantava arroz para os outros, e receber as sobras como pagamento. O finado Tojal dono de lá, fes uma proposta, para os índios trabalhar como meeiros, plantar arroz sem gastar nada, ficar com o meio do lucro, sem o trabalho, apenas oferecia a terra. Muitos índios aceitou a tarefa, assim foi passando o tempo, anos após ano, nós plantavam, colhia o arroz tão suado, com três meses de sameado, estar pronto para a colheita. Agora vamos cortar o arroz em cachos, fazendo ruma no chão, mulheres fazendo trouxas de panos, homens carregando na força até o destino final. Debaixo do marizeiro, árvore grande e frondosa, tem um terreiro limpo, para “Bater Arroz” de cacete, revirando a palha. No batimento, o dono do arroz mata galinha, compra cachaça, para animar o batalhão, homens cantando rojão, desafiando em duplas, para ver quem bate mais arroz no monte. O dono vai ensacando o arroz debulhado, mulheres cessando no vento, com peneira sacudindo os grãos no ar, na vasilha cai limpinho, agora podemos guardar. Quando chega o meio dia, vamos todo para o marizeiro, comer galinha frita, ou cozida, beber vinho de genipapo, teimosa, raiz de pau, angico e pindaíba. Os meninos brinam na palha do arroz batido, pulando, uma alegria só, debaixo da Pipeira tem um pote de barro, com água fresca do rio. Chegando no fim da tarde, o serviço foi terminado, os batedores de arroz, estão todos enfadados, vamos carregar os sacos, para a casa do dono, ficamos com o meio da safra, porque a terra não era nossa, pagamos o combinado. Agora temos lagoa para plantar arroz, criar peixes e porcos, o que quisermos produzir. Nhenety Kariri-Xocó.