Eu sou Nailton Pataxó

Eu sou Nailton Pataxó, um dos fundadores dessa luta. A terra de nós Pataxó aqui no posto indígena Caramuru foi requerida em 1926, e encontrou muita dificuldade durante toda essa trajetória de nascer essa luta Pataxó.

Na época que foi para demarcar essa terra, teve muita briga com os fazendeiros da região, muita morte, morreu muito índio… e os fazendeiros tinham uma resistencia muito forte, porque os chefe de posto do SPI, que era o antigo Serviço de Proteção ao Índio, arrendava as terras.

Isso impedia de que a demarcação seguisse. Só em 1936 até 1938 foi que foi concluída a demarcação do posto indígena Caramuru-Catarina-Paraguaçu. Dessa data em diante começou as pressões dos fazendeiros contra os Pataxó-Hãhãhãe. E os Pataxó-Hãhãhãe sofreram aqui muito tipo de violência, até que chegou um ponto de expulsarem todos os indios Pataxó das suas terras.

Aqui vivia os Pataxó, vivia os Baenã, vivia os Kariri-Sapuyá, e vivia os indios Tupinambá. E o tempo passou ficando um grupo no posto indígena Caramuru, na região de Itaju do Colônia, e com bastante tempo depois, o índio Samado se instalou na região do Panelão, onde sobreviveu todo esse tempo até 1982 – isso foi a data do retorno dos indios Pataxó aqui para essas terras, através de uma luta do índio Samado, e Gino, e Nailton, que sou eu.

Eu articulava o povo da nossa família, e Samado e Gino andavam para Brasília em busca do apoio da FUNAI para as suas volta aqui no posto indígena Caramuru. Em 1982, 19 de Abril, um grupo que morava na fazenda Guarani em Minas Gerais, com apoio da FUNAI, voltaram a suas terras de origem.

Nessa época o governador da Bahia era Antonio Carlos Magalhães, o que doou titulo de posse para a nossa terra, nem só ele como Roberto Santos, entre outros governadores que passou. Antonio Carlos Magalhães ia eleger seu sucessor Clerson de Andrade, e os fazendeiros da região não apoiava a esse governo indicado por Antonio Carlos Magalhães como seu sucessor. E por isso o Paulo Moreira Leal, que era o presidente da FUNAI na época, conversou com Antonio Carlos Magalhães, e eles fizeram tipo uma jogada: Trazer os indios para aqui, apoiar à volta dos indios, para que os fazendeiros se sentissem pressionado, onde a FUNAI ofereceu junto com o governo aos fazendeiro que se o governo do Antonio Carlos Magalhães ganhasse, que tirava os indios das terra. E os fazendeiro exigiu que só votava no candidato de Antonio Carlos Magalhães se tirasse primeiro os indios da terra. Foi quando em 1982 mesmo os indios passou uma pressão muito grande por parte dos fazendeiro e da FUNAI, e foi transferido para Almada. Ficou um grupo aqui, o grupo da família Muniz, o grupo da família Titia e o grupo da família Samado, se juntou e resistiu a transferência, sendo que um grupo maior foi transferido para Almada. E assim o grupo que ficou entrou com mandato de segurança pedindo os indios que a FUNAI transferiu de volta. Tivemos a sorte que a juíza deu uma liminar favorável, e a FUNAI foi obrigada a retornar com os indios que foram transferidos para Almada.

Diante de todo esse processo, os Pataxó sofreram muita pressão, tiveram mortes, mas os indios continuaram a lutar, um grupo ouvindo a FUNAI e outro grupo resistindo às pressões da FUNAI contra essa ida da comunidade aqui dessa terra. E em 1983 voltou os indios que foram transferidos para Almada, e continuamos viver aqui juntos no posto indígena Caramuru.

E passamos todo esse tempo lutando para que as nossas terra crescesse, para que a gente tivesse algum aumento ao nosso espaço aqui na terra, e não foi possível. Todas as fazenda que a gente entrava, os fazendeiros com seus pistoleiro e com omissão da FUNAI, os indios não conseguia segurar as terras que ocupava. Só depois da morte do índio Galdino foi que foi crescer a terra, foi que a gente fizemos ocupações e conseguimos a segurar essas ocupações, que foi da fazenda São Sebastião, fazenda Bom Jesus e a fazenda Paraíso. Depois dessa luta para cá, a gente começamos a ter um avanço mais positivo, e que em 1987 voltaram os indios para essas fazendas que foram ocupada, de onde tinha sido ocupado em 1983 e saíram. Só em 1987 que começamos a segurar as posse aonde a gente ocupava. E quando chegou 1999, em 16 de novembro fizemos a ocupação de dez fazendas, onde foi uma pressão muito grande por parte dos fazendeiros e da polícia militar, que expulsou os indios de nove fazenda, ficando só a fazenda Milagrosa como garantia de toda essa luta que teve em relação às ocupações de 1999. Mas o fazendeiro da fazenda Milagrosa, diante de tudo que aconteceu, resolveu a negociar com a FUNAI. Foi feito o levantamento de bens do fazendeiro, e o fazendeiro foi beneficiado com uma indenização de 306 mil, e aí, a partir desse momento foi uma área que foi ocupado pelo grupo liderado por Nailton, pela família Muniz com apoio de outras famílias.

Nós desencadeou uma luta que vinha travada desde 1982 sem aumento da terra. E assim, a partir do momento que o Alberto Pereira recebeu sua indenização, os outros nove fazendeiro, que os índio foi expulso da terra deles pelos policiais, depois que morreram dois policiais naquela data, eles resolveram negociar, e as negociações das dez fazenda que foi ocupadas naquela época passou a ser uma luta mais favorável aos Pataxó-Hãhãhãe. E, depois dessas fazendas indenizadas, os fazendeiros vizinhos dessas fazendas também se decidiram de negociar. Foi quando foi medido algumas fazendas na região da Água Vermelha. Depois dessas fazendas foram medidas, passou um ano até a FUNAI pagar, e o grupo da família Muniz começou a fazer as ocupações na região da Água Vermelha, ocupando a fazenda de Abel Milson e a fazenda de Alberto Pereira que tinha também na região de Água Vermelha. E assim foi aceita a ocupação por esses outros dois fazendeiros, e aí foi liberado dinheiro para pagar todas aquelas fazendas que foram ocupadas na região de Água Vermelha.

Nailton Pataxó