No mes de janeiro de 2008, através do Programa Cultura Viva, pelo convenio MAIS INDIOS ON-LINE, os Kariri-Xocó começaram a concretizar um sonho que ja vem de longe… GRAVAR UM CD de Toré e um DVD.

Logo apos o Banco do Nordeste Brasileiro se sumou a parceria para imprimir e lançar estes produtos e depois veio a Secretaria do Estado da Cultura (SECULT-AL) apoiar a iniciativa.

Veja:

O que é o Tore?

“Os Kariri-Xocó é um Povo Indígena de Cultura Musical, tendo no Toré sua representatividade maior. O Toré é um conjunto de cantos e danças indígenas que expressa os acontecimentos históricos, culturais, apresentando em forma de arte os fenômenos naturais do universo tribal. O canto conectado com a dança, harmonizado no espírito coletivo, praticado na energia nativa, derrama o suor no chão; os movimentos dos braços trazem a chuva refrescante do Inverno. O instrumento musical maracá é tocado de acordo com os batimentos cardíacos do coração, respeitando e seguindo o ritmo da vida. Quem traz o maracá na mão, está com o Planeta Terra em miniatura, simbolizada no coité. Girar este instrumento na mão é movimentar o mundo, trazendo o dia, a noite, faz mudar as estações – Verão, Outono, Primavera e Inverno. Os círculos dos movimentos da dança representam a circunferência da Terra, do sol e da lua, a aldeia, a maloca, o círculo da vida”.
Nhenety Kariri-Xocó.

Gravado ao vivo na aldeia Kariri-Xocó, em Porto Real do Colégio/AL (2008).

Participantes do Toré: Seregé, Soyré, Nhenety, Wiriçá, Geriçá, Taréiçá, Kayanã, Eruanã,Wrwray, Anoráya, Ynoraya, Iraçá, Kayane, Suirana e Wyrayane cantaram mais de 20 Torés…que depois, para poder lançar o cd foram selecionados 16 Torés….. Torés que falam de…

CAJUPI PIPINETÉ – Este Toré fala de uma espécie de cajueiro nativo de frutos pequenos, muito azedos e nutritivos.
Y OU LÊ LÊ – Este expressa nosso desejo de que o Toré não acabe.
LÊRÊ LARÁ – Gostamos de cantar com energia e com o sentimento sincero para com nossas tradições.
CANTANDO MEU TORÉ – Este expressa o amor e o cuidado que os indígenas têm pelo seu Toré.
MARUANDA – Era um índio Kariri-Xocó que viveu no século XVI, no tempo dos jesuítas. A Igreja proibia os cantos indígenas. Os índios cantavam o Toré de forma oculta, para não serem punidos pela Igreja, Maruanda sempre era o vigilante pela parte indígena. Um dia, ele dormiu debaixo de um pé de juazeiro e os jesuítas pegaram os indígenas cantando e os castigaram. Este Toré nos ensina a estarmos sempre atentos e vigilantes.
JURUMBÁ – Cantamos com força na voz, pisando na terra pela união; de mãos dadas buscando a harmonia que vem quando nos conectamos com a natureza.
HYÁ HÉ – Os mais velhos cantam primeiro porque foram eles que seguraram a tradição do Toré, depois vem os adultos, depois os jovens e os meninos – o futuro da tribo.
JUÁ ERÃ – É uma homenagem à árvore do Juazeiro. Ela é essencial para a manutenção das nascentes dos rios. Desde a invasão portuguesa até hoje estão se cortando muitas árvores e os rios secando. Esta canção é um lembrete ecológico.
DONDONZINHA – No Brasil colonial, muitas tribos fugiram do litoral para o sertão para escapar dos bandeirantes e senhores de engenho. Um dia chegou na tribo Kariri-Xocó uma indiazinha sobrevivente de um massacre, os índios perguntaram de onde ela vinha, ela disse que morava na beira do mar.
SEREIA DO MAR – Os índios Kariri-Xocó costumavam descer ao mar pelo Rio São Francisco, em tempo de seca e escassez de alimento, nessas andanças eles ouviam os cantos da “Mãe D’Água”, que os brancos chamavam de Sereia, assim os índios acharam bonito o nome da Sereia e cantaram.
URUBU SIRIRITÉ – É uma homenagem a essa ave escura que é o faxineiro do mundo.
PASSARINHO TÁ – Os pássaros cantam e dançam em cima das árvores. São eles os semeadores das florestas. Os pássaros comem os frutos e defecam as sementes das plantas por várias partes da mata, gerando novos vegetais. A fêmea chama o macho para dançar e juntos fazem a floresta.
REYA HE HEYA HÁ – Este Toré diz que todos são importantes no canto do Toré, da criança ao mais velho, da voz mais grave à mais aguda. É da união dos sons que se faz o Toré, é com participação coletiva.
A TRIBO KARIRI-XOCÓ – A religião do Ouricuri é muito importante para os Kariri-Xocó. No princípio da colonização foi muito combatida pela Igreja, mas resiste até hoje. Nós índios vamos para a floresta praticar nossa tradição.
PÉ DO JUREMA – O índio foi muito perseguido pela Igreja para deixar sua religião. Com muita pressão fizeram os indígenas conhecerem Jesus Cristo, mas debaixo do Pé de Jurema – árvore sagrada – eles cantam o Toré.
BOROY WYRÓ – Canto de despedida na língua Kariri.
VAMOS EMBORA – Canto de encerramento, de fechamento do Toré.
Nhenety Kariri-Xocó

o CD Kariri-Xocó Canta tem data prevista de lançamento para o dia 14 de abril de 2008.

Realização: ONG THYDEWAS
Coordenação Geral do Projeto: Sebastián Gerlic
Direção Cultural: Nhenety
Produção na aldeia: Ayra, Wiriçá e Nhenety
Técnico de Gravação: Nicolas Hallet
Assistente de Gravação e Finalização: Marcelo Rabelo
Auxiliares de captação: Kawran, Wryçá e Sebastián Gerlic
Mixagem: Ramos de Jesus
Masterizado por Luis Hoffer no Estúdio WR (Salvador/BA).
Projeto Gráfico: Anápuáka Pataxó
Fotos: Marcelo Rabelo
Revisão de texto: Derval Cardoso Gramacho

kariri-Xocó também esta concretizando outro sonho, ter suas imagens gravadas de forma profissional, prontas para veicular em todo o mundo.

Nos primeiros dias de março acabou a edição de: “TORÉ= Som Sagrado”

No filme documental, 12 indígenas Kariri-Xocó partilham suas visões sobre seu próprio ritual: o Toré.

No Município de Porto Real do Colégio do estado de Alagoas existe uma área indígena demarcada que alberga 2.500 Kariri-Xocó, índios que preservam o ritual do Toré. Os indígenas se reúnem e em círculos: cantam, dançam, curam sua matéria e seu espírito.

Como explica no filme Nhenety – Guardião da memória- “To significa som e Ré significa sagrado; no Toré toda a nossa comunidade esta presente, toda a beleza da nossa diversidade unida, o jeito brincalhão das crianças, a alegria da mulher, o braço forte do agricultor, as pinturas corporais, os cocares com as penas que nosso caçadores caçavam, as maracás feitas pelos nossos artistas… O Toré fala dos fenômenos naturais e também de nossa historia.” Ayra acrescenta: “Hoje estamos também dançando Toré com os não índios para eles sentir na pele que nos não somos mal, é uma forma de promovermos a paz”.

O documentário foi realizado em janeiro de 2008 com a direção de Sebastián Gerlic, Direção de Fotografia de Nicolas Hallet, Som Direto de Marcelo Rabelo e edição de Bruno Gonzalez; contando com o apoio da ONG THYDEWAS e o Banco do Nordeste Brasileiro. Tem duração de 13 minutos, depoimentos emocionantes e muito Toré.