passarinPor Casé Angatu
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“ Anana ira,
Mira ira anana tupi
Anana ira, anana ira
Mira Ira”
Somos Povo de Mel
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TODO APOIO AOS ESTUDANTES, PROFESSORES E FAMILIARES QUE REALIZAM A LUTA CONTRA A RE(DES)ORGANIZAÇÃO DAS ESCOLAS EM SÃO PAULO!
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Mas, por favor, não esqueçam, se esta mesma policia de São Paulo do fascista Alckmin trata vocês da forma como foram tratados em suas manifestações, pensem: o quanto é violenta na maneira de agir contra as/os que são criminalizadas/os pelo atual código penal. Como a força armada do estado de São Paulo age contra os que estão presas/presos por um histórico processo que criminaliza o comportamento dos pobres. Mesmo aparelho repressivo que atua de forma voraz com os familiares de presas/presos em dia de revista vexatória.
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Por favor, não abandonem a luta por justiça social, vindo a vitória ou não nesta batalha. Juntem-se aos que pouco possuem (ou mesmo não possuem) poder de fazer seus anseios serem ouvidos. Não deixem que o tempo faça a rebeldia aquietar.
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OBS: Aqui na Bahia nós, os servidores públicos, incluindo os da educação (sou professor da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC – Ilhéus/Bahia, mas acima de tudo orgulhosamente indígena), estamos novamente paralisados em decorrência da truculência do governo petista Rui Costa que não negocia e governa por decreto igual ao Alckmin … situação que vem desde a (in)gestão Jaques Vagner (atual Ministro-Chefe da Casa Civil). Veja o link: http://www.adusc.org.br/assembleia-da-adusc-aprova-paralisacao-contra-ataques-do-governo-rui-costa/
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IMPEACHMENT CONTRA DILMA: NÃO A QUALQUER TIPO DE GOLPISMO!
MAS TEMOS COBRANÇAS …
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Acho que nem preciso escrever algo sobre Cunha e o Congresso que sempre considerei ruralista e conservador. Até porque, por aquele chão de lama contaminada igual a que escorreu em Mariana-MG, os caminhos da minha esperança não trilham.
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Porém, alguns me escreveram e/ou perguntaram sobre minha posição em relação ao pedido de impeachment contra Dilma. Sou contra o impeachment, bem como contrário a qualquer tipo de golpe.
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Entretanto, não posso deixar de esquecer que Cunha (PMDB) foi aliado de Dilma (PT). Como indígena não consigo deixar de lembrar que Kátia Abreu (“rainha da moto serra e inimiga dos povos indígenas”) é/foi do mesmo partido de Cunha e fez parte da quota pessoal da presidente quando indicada ao Ministério da Agricultura.
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Não tenho como apagar da memória que na gestão anterior e atual da presidente (assim como nas duas gestões do ex-presidente Lula) as demarcações indígenas e quilombolas, bem como muitas regularizações de assentamentos, foram interrompidas. Demarcações estão sendo revistas neste atual governo e existe todo um processo de retrocesso administrativo, jurídico e político nesta área que reflete as alianças dos atuais dono do poder com os ruralistas.
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Fica mesmo a impressão que fomos/somos (nós índios) “moedas de troca” nas negociações do governo com a base ruralista. Como posso não recordar que este quadro tem aumentado o número das justas autodemarcações e a quantidade de índios mortos nestes últimos anos.
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Poderia tentar ignorar … mas vem a lembrança que a Portaria 303 da AGU-Advocacia Geral da União (um ataque aos direitos indígenas) tem defensores no atual governo. Lembro de Belo Monte, das destruições contra a natureza já realizadas (como em Mariana-MG), as que podem ocorre em nome do PAC, do desenvolvimentismo, dos interesses econômicos do capital nacional/internacional expressos nos projetos IIRSA – Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana e na ALCA – Área de Livre Comércio das Américas. A natureza e os Povos Indígenas estão no meio do caminho destes interesses e por isto costumo dizer que: assim como a natureza, os Povos Originários são naturalmente anticapitalista porque não erámos e nem donos da natureza … somos a natureza.
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Triste também é a recordação de que o atual Ministro-Chefe da Casa Civil (Jaques Wagner) solicitou em 2014, quando governador da Bahia, a presença de soldados do exército (mais de 600 homens) e da Força de Segurança Nacional (cerca de 300 homens) no Território Indígena Tupinambá para “controlar” uma situação que se resolve com a demarcação territorial. Esta presença causou muito sofrimento e violência entre meus Parentes.
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No entanto, mesmo com todas estas tristes lembranças não sou a favor do impeachment de Dilma e/ou outra forma de golpe. Não quero que o país retroceda ainda mais. Até porque, como diz o ditado popular: “nada é tão ruim que não posso piorar”. Por isto é triste lutar neste momento não por avanços e sim contra retrocessos, sendo que o atual quadro, em relação aos Povos Indígenas, já é tão ruim e este governo tem grande parcela de culpa nisto.
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Penso, contudo, que no atual contexto, quando parte do governo pede apoio ao povo e os movimentos sociais, seria a ocasião (como deveria já ter acontecido nas eleições)  de exigir dos que estão no executivo federal e de seus partidos uma mudança radical em relação aos direitos, não só indígenas, mas sociais como um todo.

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Exigir que Dilma, PT e os partidos que apoiam o atual governo pactuem com o povo … seria muito?!
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Quando digo Povo não são só as centrais sindicais, movimentos e pessoas que já apoiam o atual governo e estão a ele atrelados. Em se tratando dos Povos Indígenas um bom sinal para este pacto seria a imediata demarcação de todos os territórios indígenas e quilombolas. Da mesma forma, seria o governo e sua bancada combater a nefasta atuação da Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, instalada em 11 de novembro de 2015, na Câmara dos Deputados do Congresso Nacional, objetivando investigar (na verdade combater) a atuação da Fundação Nacional do Índio – Funai e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra junto à demarcação de terras indígenas e de remanescentes dos quilombos. Esta comissão visa rever todos os processos demarcatórios e criminalizar seus autores.
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Mas, assim como nas eleições presidenciais do ano passado (2014), não semeio ilusões. Até porque como posso exigir que trouxessem de volta as vidas de nossos Parentes já mortos pela não demarcações. Desta forma, não é uma simples desilusão e sim postura.

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Não confio no estado brasileiro e nos que nele estão à (des)governar. Esta desconfiança tem uma história que passa mais de cinco séculos em relação aos Povos Originários. Os donos do poder político optam em negociar primeiro (quando não: unicamente) com os donos do poder econômico. O estado brasileiro e os que governam não causam confiança e já indicou à muito tempo aos Povos Indígenas quais os caminhos a trilharmos. Somos Povos Originários e precisamos de nossa autonomia, incluindo territorial. Somos Povos Originários antes mesmo de “sermos brasileiros” e precisamos de nossa autonomia, incluindo territorial.
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Mas, ao mesmo tempo, não tenho desilusão com a luta. Como sempre falamos: “Temos Memória, mas não rancor” e em nome desta memória ancestral continuaremos lutando, com as forças de nossas Encantadas/Encantados, pelo Território Ancestral e Sagrado. Assim tem acontecido ao longo de 515 anos de Ditaduras contra os Povos Originários, Povo Negro e o Povo sem riquezas materiais.
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… SOMOS POVO DE MEL … SOMOS MIRA IRA … E CANTAREMOS BEM ASSIM:

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“Mira num olhar
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar…
Mira Ira, raça tupi,
Matas, florestas, Brasil.
Mira vento, sopra continente,
Nossa América servil,
Mira vento, sopra continente,
Nossa América servil…
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Mira num olhar,
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar…
Mira ouro, azul ao mar,
Fonte, forte esperança,
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Mira sol, canção, tempestade, ilusão,
Mira sol, canção, tempestade,
Ilusão…
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Mira num olhar
Verso frágil tecido em fuzil,
Mescla morena,
Canela, cachaça, bela raça, Brasil.
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Anana ira,
Mira ira anana tupi
Anana ira, anana ira
Mira Ira”
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Letra: Lula Barbosa e Vanderlei de Castro
Canta/Toca: Miriam Miràh, Lula Barbosa e Tarancón
https://www.youtube.com/watch?v=pNV28B1oG2o.
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* Parafraseando Mario Quintana …
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Aos Fascistas, Golpistas e …

“Todos estes que aí estão
Atravancando o meu [nosso] caminho,
Eles passarão.
Eu [nós] passarinho[s]!”

… igualzim ao curumim do retratim …

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AWERE!

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OBS: caso alguém saiba a autoria da imagem, por favor, informe.

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Sobre IIRSA indico a leitura: https://organizacaopopular.wordpress.com/textos/formacao/iirsa-iniciativa-de-integracao-da-infra-estrutura-regional-sul-americana/