“O menino Índio Jesus nasceu.”

Vou contar a história do menino índio Jesus, a meu ver enquanto Indígena Pankararu.

Vamos celebrar esse grande feito, pois é Natal e na grande magia que evolve esta época do ano, despertam dentro de alguns um potencial de solidariedade e compaixão, surgem às campanhas contra a fome e a miséria humana, renasce dentro de nós a esperança na humanidade e em sua generosidade.

Dizem que o menino Jesus quando nasceu era loiro e de olhos azuis, e que nasceu em Jerusalém. Mais no meu ponto de vê, na verdade ele nasceu em uma maloca na Aldeia Brejo dos Padres, especificamente nome da aldeia dos Pankararu onde a base de atividade é a agricultura. As principais atividade é a plantação do feijão, do milho e da mandioca. Nos também sobrevivemos da comercialização de diversas frutas como a pinha que típica da região e temos também o artesanato como uma fonte de renda complementar. A fabricação de farinha de mandioca, nas casa de farinha é, ainda, uma atividade comunitária entre nós indígenas Pankararu.

Nos em sua maioria cultuamos a religião católica, observamos o calendário de festas populares religiosas, mas mantêmos também os rituais, danças e folguedos próprios da nossa cultura Pankararu.

Temos diversas festas típicas, a  mais importantes são a Corrida ou Festa do Umbu e a do Menino do Rancho. Não posso esquecer de mencionar o toré, que é dançado ao ar livre por homens, mulheres e crianças, de preferência nos fins de semana. O ritmo é marcado pelo som dos maracás feitos de cabaças. Os versos dos canticos são cantados em português, misturados com expressões do nosso antigo dialeto do tronco Pankararu. É nas danças e nos rituais que a nossa cultura do Pankararu está mais bem representada.

Por estarmos no Natal muitas famílias independente da cultura, crença, credo ou religião passam juntas esta noite, pessoas perdoam-se mutuamente, desentendimentos são desfeitos, compartilha-se a emoção e a alegria que envolve a história do menino Indígena Jesus e a lenda do bom velhinho que nada mais é um dos nossos Tronco Velho, tudo gira em torno do amor e da paz. É o aval que algumas pessoas precisavam para demonstrar seu carinho e sua gratidão às pessoas que querem bem e conosco não é diferente.

A figura do indígena simboliza a capacidade humana de ser humilde, generoso, de amar, compartilhar, preocupar-se com o outro e principalmente respeitar as pessoas, independente de classe social, ou mesmo das próprias crenças pois sempre prevalecerá a vida em comunidade.

De forma geral, fomos educados dentro de uma concepção filosófico-religiosa onde aprendemos a valorizar o ser generoso, aquele que oferece toda a sua disponibilidade e bens para o outro, sem pedir nada em troca. Só podemos oferecer o que temos, a generosidade é uma capacidade emocional que se relaciona ao desprendimento e a auto-estima.

Quando você oferece algo para alguém esperando algo em troca, isto chama-se na verdade investimento e portanto você não está dando nada; quando você oferece algo e cobra o pagamento, isto é venda e portanto o outro tem direito de saber o que está comprando e qual o preço do produto para decidir se o quer ou não.

Mais não podemos esquecer que vivemos numa sociedade capitalista e competitiva como a nossa. Onde muitos tiram a vida dos outros para se beneficiar, como por exemplo os latifundiários e posseiros, invadem nossas terras e mata nossas famílias.

A sociedade ainda tem muito que aprender com o Índio Jesus, pois podemos ser generosos sem necessariamente termos dinheiro, podemos oferecer gratuitamente amor, atenção, solidariedade e principalmente respeito, aprendendo a olhar as pessoas que estão à nossa volta como seres humanos, não apenas enxergando seus defeitos, mas as suas qualidades e potenciais pessoais.

Por tanto não esqueçam que o indígena é capaz, basta acreditar e não susurpar nossos direitos constitucionais!

Desejo a todos um Natal generosamente fraterno e um próspero Ano Novo de conquistas e que a força encantada prevaleça sempre.

Edcarlos Pereira do Nascimento – Pankararu

edpankararu@yahoo.com.br