E nós povos indígenas estávamos lá, levantando a bandeira defendendo a questão indígena. Éramos um numero reduzido, em média uns 25 indígenas de todas as regiões, mas o movimento indígena é bem organizado e saímos na frente de todos os outros movimentos, pois já sabíamos o que queríamos e todas as propostas do documento base, nós já tínhamos lido e relido, acrescentando então nossas propostas para que nas comissões temáticas cada indígena levasse essas propostas e as colocasse em pauta para serem aprovadas ou não pelos delegados.

Eram 21 comissões temáticas, com o objetivo de discutir os parágrafos referentes ao temário da I CNDRSS constantes no documento- base, versão nacional, sistematizado a partir das contribuições das conferências estaduais e territoriais, intermunicipais, municipais e Eventos setoriais e temáticos da etapa preparatória.

Essas comissões estavam divididas em quatro eixos, que eram eixo 1- Desenvolvimento Socioeconômico e Ambiental, eixo 2- Reforma Agrária e Acesso aos Recursos Ambientais, eixo 3- Qualidade de Vida no Brasil Rural e eixo 4- Participação Política e Organização Social.
Portanto, nós indígenas ali presentes nas 21 comissões, conseguimos aprovar quase 90% das nossas propostas, dentre elas está o reconhecimento do estado Brasileiro como um povo com direitos específicos, assegurados na constituição federal e em legislação específica, o movimento indígena como mecanismo de participação social, lutas de resistência dos povos indígenas, desde a colonização portuguesa até hoje, educação escolar indígena como pedagogia da alternância de uma educação voltada para um desenvolvimento sustentável, caso da suspensão da homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol como grave omissão e fragilidade da presença do estado, dos poderes executivo, legislativo e judiciário, construção de hidroelétricas, estradas e da expansão agrícola, mineradora e madeireira, obras de transposição do rio São Francisco etc.
Enfim, conseguimos aprovar essas e outras questões, que servirão de base para as políticas mais a frente, só não sabemos se as mesmas vão ser respeitadas por esses políticos que aí estão usando e abusando de nossa paciência e tolerância, e pior roubando nossos direitos, tentando destruir nossa história, querendo acabar com nós, nativos, verdadeiros donos deste país, mas confiando em nossas forças encantadas isso nunca vai acontecer, pois somos fortes já resistimos 508 anos de sofrimento, vamos lutar mais 500 anos e continuar lutando.

SarapóPankararu
gvpankararu@hotmail.com